{"id":48864,"date":"2025-01-22T14:45:00","date_gmt":"2025-01-22T17:45:00","guid":{"rendered":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/moda-modesta-melania-trump-e-a-guinada-conservadora-nas-tendencias\/"},"modified":"2025-01-22T14:45:00","modified_gmt":"2025-01-22T17:45:00","slug":"moda-modesta-melania-trump-e-a-guinada-conservadora-nas-tendencias","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/moda-modesta-melania-trump-e-a-guinada-conservadora-nas-tendencias\/","title":{"rendered":"Moda modesta: Melania Trump e a guinada conservadora nas tend\u00eancias"},"content":{"rendered":"
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BBC News Brasil <\/strong> <\/p>\n

Quem busca “moda modesta” em qualquer rede social -Instagram, Tik Tok, Facebook, Pinterest- encontra uma infinidade de influenciadoras de moda com um estilo marcado por vestidos e saias de comprimento midi (abaixo dos joelhos), cores discretas, pouco decote, pouca pele exposta -mas tudo muito tradicionalmente feminino.<\/p>\n

A tend\u00eancia em geral est\u00e1 ligada a uma forma de se vestir mais discreta para mulheres regulada pela religi\u00e3o, explica a consultora de moda Thais Farage. No Brasil, s\u00e3o influenciadoras evang\u00e9licas, mas nos EUA e na Europa tamb\u00e9m h\u00e1 mulheres mu\u00e7ulmanas ou judias ortodoxas alavancando o estilo.<\/p>\n

E a tend\u00eancia n\u00e3o \u00e9 nova: o termo “moda modesta” passou a ser buscado com frequ\u00eancia a partir de 2018, segundo o Google Trends, e desde ent\u00e3o o interesse no tema s\u00f3 cresceu.<\/p>\n

Mas nos \u00faltimos tempos h\u00e1 um novo fen\u00f4meno em curso: essa est\u00e9tica tem passado para outros ambientes que n\u00e3o s\u00e3o necessariamente ligados \u00e0 religi\u00e3o.<\/p>\n

O estilo aparece no mundo fashion, com cada vez mais grifes abra\u00e7ando a est\u00e9tica em campanhas publicit\u00e1rias e cada vez mais marcas de fast fashion disponibilizando roupas que agradam \u00e0s adeptas da “moda modesta”.<\/p>\n

A forma de se vestir de Melania Trump na posse de Donald Trump como presidente dos EUA, na segunda (20), \u00e9 uma \u00f3tima representa\u00e7\u00e3o do estilo.<\/p>\n

“Tradicional, comportada, mas com cintura marcada, muito feminina. Repare que ela n\u00e3o usou cal\u00e7a, estava com as pernas de fora mesmo no frio de -13\u00ba em Washington”, diz a consultora.<\/p>\n

Melania n\u00e3o \u00e9 conhecida por ser especialmente religiosa, mas, como primeira-dama de Trump, est\u00e1 em uma posi\u00e7\u00e3o perfeita para representar essa est\u00e9tica.<\/p>\n

“At\u00e9 agora, Kate Middleton era o exemplo perfeito do estilo no mundo. Mas Melania Trump tamb\u00e9m pode se tornar um s\u00edmbolo disso”, afirma Thais Farage.<\/p>\n

Reflexo do conservadorismo<\/h2>\n

O sucesso da “moda modesta” est\u00e1 intimamente ligado ao conservadorismo que tem marcado a pol\u00edtica no Brasil e o mundo -e do qual Trump \u00e9 um dos principais expoentes.<\/p>\n

“O mundo da moda gosta de acreditar que dita as tend\u00eancias, mas, na verdade, \u00e9 o contr\u00e1rio. A moda est\u00e1 sendo afetada por esse comportamento que est\u00e1 mudando, que est\u00e1 se voltando para o conservadorismo”, afirma Farage. “A moda \u00e9 parte da cultura, ela \u00e9 um reflexo do que est\u00e1 acontecendo na sociedade.”<\/p>\n

Um exemplo \u00e9 que o estilo de se vestir das chamadas tradwives, “esposas tradicionais”, que defendem que o papel da mulher \u00e9 cuidar do marido, da casa e dos filhos, tamb\u00e9m se encaixa na “moda modesta”.<\/p>\n

No Brasil, o estilo reflete uma mudan\u00e7a no pr\u00f3prio meio evang\u00e9lico. “Se antes as igrejas viam o mundo da moda como uma tenta\u00e7\u00e3o, como algo negativo e perigoso, agora elas perceberam que esse lugar da influenciadora de moda \u00e9 muito forte”, afirma Farage.<\/p>\n

“A ‘moda modesta’ n\u00e3o \u00e9 ‘anti-fashion'”, explica a consultora. “Ela n\u00e3o \u00e9 contra o consumo, contra tend\u00eancias, ela n\u00e3o est\u00e1 desconectada do resto do que est\u00e1 acontecendo no mundo. O estere\u00f3tipo de roupas religiosas como feias, cafonas, sem gra\u00e7a, h\u00e1 muito tempo est\u00e1 ultrapassado.”<\/p>\n

O estilo -e os valores que est\u00e3o ligados a ele- tamb\u00e9m afetam outras tend\u00eancias de moda que as pessoas n\u00e3o costumam associar a religi\u00e3o.<\/p>\n

“Estamos falando de uma cultura que valoriza muito o tradicional, que fala muito sobre eleg\u00e2ncia, h\u00e1 uma obsess\u00e3o, especialmente no Brasil, com parecer elegante”, diz Farage. “Hashtags que n\u00e3o s\u00e3o ligadas a religi\u00e3o, como clean beauty, old money, cl\u00e1ssico, minimalismo, tamb\u00e9m tem muito a ver com esse estilo.”<\/p>\n

“\u00c9 um estilo no qual tudo o que \u00e9 sexy n\u00e3o \u00e9 elegante. Tamb\u00e9m rejeita tudo o que \u00e9 muito colorido, muito chamativo. O sofisticado \u00e9 o discreto”, afirma a consultora.<\/p>\n

“Isso n\u00e3o \u00e9 necessariamente ruim -por um lado \u00e9 uma rejei\u00e7\u00e3o \u00e0 ideia de mulher como objeto sexual. O perigo \u00e9 que, ao opor o sensual ao elegante, \u00e9 muito f\u00e1cil cair em um moralismo.”<\/p>\n

No campo progressista, tamb\u00e9m h\u00e1 quem adote um estilo que rejeita a sexualiza\u00e7\u00e3o da mulher. Um exemplo \u00e9 a cantora Billie Eilish, que no in\u00edcio da carreira se vestia somente com roupas largas, confort\u00e1veis, com camisetas compridas que n\u00e3o marcavam o corpo.<\/p>\n

“A diferen\u00e7a \u00e9 que, na ‘moda modesta’, n\u00e3o pode haver uma neutralidade de g\u00eanero ou uso de roupas consideradas masculinas. Tudo tem que ser muito feminino”, afirma Thais Farage.<\/p>\n

‘Mulher modesta n\u00e3o sente calor’<\/h2>\n

Mas como um estilo que preza por n\u00e3o mostrar o corpo funciona em um pa\u00eds quente como o Brasil?<\/p>\n

“Existe uma frase que vi muito entre influenciadoras de moda modesta que \u00e9 ‘se piriguete n\u00e3o sente frio, a mulher modesta n\u00e3o sente calor'”, diz Farage.<\/p>\n

Ou seja, diz a consultora, n\u00e3o \u00e9 um estilo onde o conforto ou o bem-estar s\u00e3o a prioridade. “Estamos falando de uma moda que, se n\u00e3o \u00e9 regulada pela religi\u00e3o, \u00e9 regulada pelos valores conservadores. O conforto n\u00e3o \u00e9 priorit\u00e1rio.”<\/p>\n

Mostrar a pele n\u00e3o \u00e9 o \u00fanico h\u00e1bito cultural brasileiro que n\u00e3o parece se encaixar na est\u00e9tica da “moda modesta”.<\/p>\n

Maximalismo, estampas chamativas ou muito coloridas, unhas compridas tamb\u00e9m n\u00e3o fazem parte do estilo.<\/p>\n

“\u00c9 um estilo muito marcado pelas influ\u00eancias europeias. De certa forma, \u00e9 uma rejei\u00e7\u00e3o do tropical, do que se considera -ai com muitas aspas- uma ‘selvageria sensual latina’.”<\/p>\n

Adaptada ou n\u00e3o aos tr\u00f3picos, a “moda modesta” est\u00e1 cada vez mais presente e influente no Brasil. “N\u00e3o \u00e9 uma moda passageira”, diz Farage. “\u00c9 reflexo de uma mudan\u00e7a cultural, e mudan\u00e7as culturais n\u00e3o acontecem de uma hora para a outra.”<\/p>\n

Este texto foi originalmente publicado aqui.<\/p>\n<\/p><\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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