{"id":48658,"date":"2025-01-20T16:48:00","date_gmt":"2025-01-20T19:48:00","guid":{"rendered":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/como-os-eua-se-apropriaram-do-canal-do-panama-e-por-que-tiveram-que-devolve-lo-nos-anos-1990\/"},"modified":"2025-01-20T16:48:00","modified_gmt":"2025-01-20T19:48:00","slug":"como-os-eua-se-apropriaram-do-canal-do-panama-e-por-que-tiveram-que-devolve-lo-nos-anos-1990","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/como-os-eua-se-apropriaram-do-canal-do-panama-e-por-que-tiveram-que-devolve-lo-nos-anos-1990\/","title":{"rendered":"Como os EUA se apropriaram do Canal do Panam\u00e1 e por que tiveram que devolv\u00ea-lo nos anos 1990"},"content":{"rendered":"

“Vamos tom\u00e1-lo de volta”, disse o presidente ao divulgar as primeiras a\u00e7\u00f5es de seu mandato. Trump se referiu ao papel dos EUA na constru\u00e7\u00e3o do canal e sua entrega ao Panam\u00e1, em 31 de dezembro de 1999. Na ocasi\u00e7\u00e3o, a bandeira dos Estados Unidos desceu e a do Panam\u00e1 subiu e tremulou como \u00fanico emblema da Zona do Canal pela primeira vez. Os panamenhos comemoraram com alegria. O fim do mil\u00eanio se aproximava, e a cena marcava o fim de uma era que causou protestos, tens\u00f5es e mortes. Era a resolu\u00e7\u00e3o do acordo assinado em 1977 entre o ent\u00e3o presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, e o l\u00edder panamenho, o general Omar Torrijos Herrera. O Canal do Panam\u00e1 \u00e9 um ponto estrat\u00e9gico que permitiu abrir uma passagem entre os oceanos Pac\u00edfico e Atl\u00e2ntico. \u2014 Foto: Getty Images via BBC O pacto abriu caminho para devolver o controle do canal estrat\u00e9gico ao pa\u00eds centro-americano. “Foi impressionante ver a rea\u00e7\u00e3o do povo do Panam\u00e1. Foi um momento muito delicado e realmente muito bonito na hist\u00f3ria moderna”, disse Alberto Aleman Zubieta, que foi administrador do canal durante v\u00e1rios anos, \u00e0 reportagem. Hoje, a soberania da hidrovia interoce\u00e2nica est\u00e1 mais uma vez no centro das not\u00edcias ap\u00f3s as promessas de Trump. Destaques do primeiro discurso de Trump ap\u00f3s a posse Em 7 de janeiro, Trump j\u00e1 havia tratado do assunto e deu sinais de que n\u00e3o vai desistir da ambi\u00e7\u00e3o de obter o controle da Groel\u00e2ndia e do Canal do Panam\u00e1, classificando ambos como essenciais para a seguran\u00e7a nacional americana. Questionado por jornalistas se descartava o uso de for\u00e7a militar ou econ\u00f4mica para assumir o controle do territ\u00f3rio aut\u00f4nomo dinamarqu\u00eas ou do canal, ele respondeu: “n\u00e3o, n\u00e3o posso garantir nada em rela\u00e7\u00e3o a nenhum dos dois”. Em dezembro, o ent\u00e3o presidente eleito fez alus\u00e3o \u00e0s taxas cobradas aos navios americanos. “Estamos sendo enganados no Canal do Panam\u00e1”, disse. O pol\u00edtico republicano sugeriu que, se isso n\u00e3o mudar, “exigiremos que o Canal do Panam\u00e1 seja devolvido na \u00edntegra aos Estados Unidos, rapidamente e sem perguntas”. N\u00e3o disse, no entanto, como pretende faz\u00ea-lo. Por sua vez, o presidente panamenho, Jos\u00e9 Ra\u00fal Mulino, respondeu contundentemente num comunicado publicado na rede social X: “Cada metro quadrado do Canal continuar\u00e1 pertencendo ao Panam\u00e1”. Mas, voltando ao passado, como os Estados Unidos se apropriaram da Zona do Canal e o Panam\u00e1 conseguiu recuper\u00e1-la h\u00e1 25 anos? A BBC News Mundo, servi\u00e7o em espanhol da BBC, relembra os acontecimentos que levaram ambas as na\u00e7\u00f5es a um acordo sem precedentes sobre a rota interoce\u00e2nica que reconfigurou os padr\u00f5es do com\u00e9rcio regional e global. Uma guerra civil e uma oportunidade A necessidade de construir uma passagem que ligasse o Oceano Pac\u00edfico ao Oceano Atl\u00e2ntico era algo que preocupava os colonizadores europeus desde o s\u00e9culo 16. Naquela \u00e9poca, o \u00fanico acesso que tinham aos mares do sul era o Estreito de Magalh\u00e3es, no sul do Chile, o que significava navegar enormes dist\u00e2ncias e enfrentar o perigoso clima do Cabo Horn. Foram avaliadas in\u00fameras ideias: um canal na Nicar\u00e1gua, um em Tehuantepec (M\u00e9xico), outro em Dari\u00e9n, na fronteira do Panam\u00e1 com a Col\u00f4mbia, e uma passagem pelo istmo panamenho, que na \u00e9poca era territ\u00f3rio colombiano. Mas nenhuma dessas ideias se concretizaria at\u00e9 o s\u00e9culo 19. A primeira grande aposta ocorreu em 1880, quando a Col\u00f4mbia concedeu a concess\u00e3o para a constru\u00e7\u00e3o do canal a Fernando de Lesseps, engenheiro franc\u00eas que havia constru\u00eddo o Canal de Suez, no Egito. Mas as doen\u00e7as dos trabalhadores, muitos deles africanos escravizados, a umidade do territ\u00f3rio e as chuvas constantes levaram o projeto \u00e0 fal\u00eancia. \u00c9 a\u00ed que o interesse dos Estados Unidos por essa rota mar\u00edtima se junta \u00e0 dificuldade do Estado colombiano em ter o controle do seu territ\u00f3rio. A Col\u00f4mbia emergia de uma guerra civil que havia deixado milhares de mortos e enfrentava elevados n\u00edveis de tens\u00e3o pol\u00edtica, o que acabaria por abrir caminho \u00e0 independ\u00eancia do Panam\u00e1. Naquela \u00e9poca, os Estados Unidos eram uma pot\u00eancia emergente que mantinha o controle de Porto Rico e Cuba – e souberam ler a crise interna colombiana como uma grande oportunidade: propuseram pagar 40 milh\u00f5es de d\u00f3lares para ter a concess\u00e3o para a constru\u00e7\u00e3o do canal. Esse acordo materializou-se com o tratado Herr\u00e1n-Hay entre a Col\u00f4mbia e os Estados Unidos, que estabeleceu as diretrizes da licita\u00e7\u00e3o e foi acordado entre o secret\u00e1rio de Estado norte-americano, John Hay, e o ministro colombiano Tom\u00e1s Herr\u00e1n. Foi uma negocia\u00e7\u00e3o complexa na qual cogitaram construir o canal na Nicar\u00e1gua, mas tamb\u00e9m tinham que levar em considera\u00e7\u00e3o que os franceses j\u00e1 haviam feito um investimento inicial no Panam\u00e1. Por fim, ficou decidido que o canal seria constru\u00eddo no Panam\u00e1 com capital dos Estados Unidos, que, por sua vez, pagariam \u00e0 Col\u00f4mbia e \u00e0 empresa francesa. Mas, no dia 5 de agosto de 1903, o governo colombiano, depois que o Congresso se op\u00f4s a v\u00e1rios pontos do acordo, alegando que o texto violava a soberania do pa\u00eds, informou que o rejeitava. Esta \u00faltima decis\u00e3o da Col\u00f4mbia levou \u00e0 separa\u00e7\u00e3o do Panam\u00e1. “Quando a Col\u00f4mbia rejeita o tratado Herr\u00e1n-Hay, e havia boas raz\u00f5es para rejeit\u00e1-lo, v\u00e1rios fatores se combinam a favor da independ\u00eancia do Panam\u00e1 da Col\u00f4mbia”, disse a historiadora panamenha Marixa Lasso \u00e0 BBC Mundo. Finalmente, os Estados Unidos encontraram neste descontentamento panamenho “uma excelente oportunidade para obter o tratado que desejavam sem a interfer\u00eancia da Col\u00f4mbia”. E foi ent\u00e3o que o Panam\u00e1 ignorou a rejei\u00e7\u00e3o do tratado e, em alian\u00e7a com os Estados Unidos \u2014 que disseram que iriam intervir se houvesse retalia\u00e7\u00e3o militar da Col\u00f4mbia \u2014 declarou sua independ\u00eancia no dia 3 de novembro de 1903. Um pa\u00eds dividido e o in\u00edcio das tens\u00f5es Ap\u00f3s a independ\u00eancia do Panam\u00e1, ambas as na\u00e7\u00f5es assinaram o tratado Hay-Bunau Varilla durante a presid\u00eancia de Theodore Roosevelt, nos Estados Unidos. Nesse pacto, os Estados Unidos garantiam que manteriam a independ\u00eancia do Panam\u00e1 desde que o pa\u00eds concedesse a concess\u00e3o perp\u00e9tua do canal, al\u00e9m do dom\u00ednio da chamada Zona do Canal, que inclu\u00eda 8 km de cada lado da via estrat\u00e9gica. O Panam\u00e1 receberia US$ 10 milh\u00f5es como compensa\u00e7\u00e3o. Conclu\u00edda a obra, em 1913, o barco a vapor Anc\u00f3n tornou-se a primeira embarca\u00e7\u00e3o do tipo a cruzar as suas \u00e1guas, constituindo-se como um s\u00edmbolo da sua abertura ao mundo. Mas as tens\u00f5es n\u00e3o demorariam a aparecer. Na pr\u00e1tica, o pa\u00eds estava fisicamente dividido em dois. Milhares de americanos e suas fam\u00edlias viviam na \u00e1rea sob suas pr\u00f3prias leis e costumes enquanto trabalhavam no canal, que foi formalmente inaugurado em 1914. Os “zone\u00edtas” (de zonians, em ingl\u00eas) viviam praticamente isolados e sem contato com a popula\u00e7\u00e3o panamenha, que n\u00e3o podia acessar aquele territ\u00f3rio sem autoriza\u00e7\u00e3o especial. O ressentimento dos panamenhos contra os privil\u00e9gios dos zone\u00edtas aumentou ao longo dos anos, at\u00e9 que d\u00e9cadas mais tarde come\u00e7aram os protestos para recuperar o controle do seu territ\u00f3rio. E h\u00e1 dois marcos que seus protagonistas lembram como fundamentais. Uma delas \u00e9 a “Opera\u00e7\u00e3o Soberania” de 1958, na qual um grupo de estudantes universit\u00e1rios surpreendeu a pol\u00edcia da Zona do Canal ao entrar para “plantar” pacificamente 75 bandeiras panamenhas. “Isso marcou o novo rumo das negocia\u00e7\u00f5es do canal, porque a partir daquele momento derrotamos a agress\u00e3o psicol\u00f3gica que os EUA realizavam no Panam\u00e1 desde 1903”, disse Ricardo R\u00edos Torres, um dos l\u00edderes dessa manifesta\u00e7\u00e3o, \u00e0 BBC Mundo em 2019. “Disseram-nos que este n\u00e3o era um territ\u00f3rio de acesso para os panamenhos. Naquele dia, dissemos que n\u00e3o t\u00ednhamos mais medo e que quer\u00edamos um novo tratado que acabasse com a perpetuidade da presen\u00e7a colonial.” O outro acontecimento que influenciou o caminho para a recupera\u00e7\u00e3o da hidrovia interoce\u00e2nica foi a Marcha Patri\u00f3tica de 1959, na qual o povo panamenho foi convidado a entrar na Zona do Canal portando sua bandeira. Esta marcha tamb\u00e9m come\u00e7ou de forma pac\u00edfica, mas, quando o governador da Zona do Canal proibiu a entrada de manifestantes, ocorreram confrontos entre panamenhos e policiais – dezenas de pessoas ficaram feridas. Ambas as mobiliza\u00e7\u00f5es foram a origem de uma frase que mais tarde se tornaria popular no Panam\u00e1: “Quem semeia bandeiras colhe soberania”. Dia dos M\u00e1rtires Esses acontecimentos hist\u00f3ricos desencadearam mais mobiliza\u00e7\u00f5es nos anos seguintes. A popula\u00e7\u00e3o panamenha n\u00e3o estava disposta a recuar nas suas exig\u00eancias e era cada vez mais evidente que o governo dos EUA n\u00e3o podia fazer ouvidos de mercador aos protestos. Assim, as negocia\u00e7\u00f5es lentas culminaram num acordo em 1962 entre o presidente panamenho Roberto Chiari e o americano John F. Kennedy, gra\u00e7as ao qual se estabeleceu que as bandeiras de ambos os pa\u00edses deveriam hastear nas \u00e1reas civis da Zona do Canal. Mas quando chegou o dia 1\u00ba de janeiro de 1964, data em que o acordo entraria em vigor, os zone\u00edtas ignoraram as ordens do pr\u00f3prio governador da Zona do Canal e recusaram-se a hastear a bandeira do Panam\u00e1. As autoridades da regi\u00e3o nada fizeram a respeito, e a not\u00edcia irritou os panamenhos. No dia 9 de janeiro daquele ano, dezenas de estudantes do Instituto Nacional do Panam\u00e1 dirigiram-se \u00e0 Zona do Canal carregando a bandeira de sua escola para que tamb\u00e9m pudesse ser hasteada no Col\u00e9gio Balboa, institui\u00e7\u00e3o mantida pelos americanos. Mas alguns policiais americanos os impediram, e o confronto terminou na viola\u00e7\u00e3o da bandeira panamenha. A atmosfera de tens\u00e3o era total. O dia terminou com mais de 20 manifestantes mortos e centenas de feridos no que \u00e9 conhecido como “Dia dos M\u00e1rtires”. Esse fato, concordam todos os analistas, foi o grande gatilho para que o Canal do Panam\u00e1 acabasse por ser transferido para m\u00e3os panamenhas mais de 35 anos depois. A dureza da resposta do Ex\u00e9rcito americano \u00e0s mobiliza\u00e7\u00f5es levou o ent\u00e3o presidente do Panam\u00e1, Roberto Chiari, a anunciar que o pa\u00eds estava interrompendo as rela\u00e7\u00f5es diplom\u00e1ticas com Washington at\u00e9 que um novo tratado fosse assinado entre os dois pa\u00edses. Esta decis\u00e3o – sem precedentes para um pa\u00eds onde os EUA estavam presentes – \u00e9 o que fez com que, ainda hoje, muitos se refiram a Chiari no Panam\u00e1 como “o presidente da dignidade”. A press\u00e3o internacional foi decisiva para que os Estados Unidos concordassem em negociar. O acordo Torrijos-Carter Ap\u00f3s aquele janeiro sombrio, em 3 de abril de 1964 come\u00e7aram as conversas entre os Estados Unidos e o Panam\u00e1. Ambos pa\u00edses se comprometeram a nomear embaixadores especiais para conduzir um di\u00e1logo tenso. “N\u00e3o havia volta atr\u00e1s. O Panam\u00e1 s\u00f3 aceitaria um novo tratado. O presidente Carter compreendeu isso, e foi assim que os Estados Unidos acabaram assinando o acordo. A popula\u00e7\u00e3o panamenha estava convencida de que era necess\u00e1rio eliminar aquele enclave colonial e reivindicar o que era nosso”, disse o l\u00edder manifestante R\u00edos Torres \u00e0 BBC Mundo em 2019. “Ou entregavam o canal, ou simplesmente desapareciam.” No entanto, foi necess\u00e1rio esperar 10 anos at\u00e9 que, sob o governo de Richard Nixon, fosse assinada, na Cidade do Panam\u00e1, uma declara\u00e7\u00e3o conjunta entre o secret\u00e1rio de Estado dos EUA, Henry Kissinger, e o chanceler panamenho, Juan Antonio Tack. Naquele momento, j\u00e1 estava claro para ambas as partes que, antes de tudo, era preciso revogar o Tratado Hay-Bunau-Varilla, que havia concedido os direitos do canal aos Estados Unidos, al\u00e9m de encerrar sua jurisdi\u00e7\u00e3o no pa\u00eds centro-americano. E essa seria a base para o acordo que, tr\u00eas anos depois, seria assinado por Jimmy Carter e Omar Torrijos. O tratado, firmado na sede da Organiza\u00e7\u00e3o dos Estados Americanos (OEA) em Washington, no dia 7 de setembro de 1977, contemplava a celebra\u00e7\u00e3o de dois pactos: o Tratado de Neutralidade e o Tratado do Canal do Panam\u00e1. Em termos simples, neles ficou acordado que a soberania da Zona do Canal estaria sujeita \u00e0 legisla\u00e7\u00e3o panamenha e se estabeleceu uma data para a transfer\u00eancia do dom\u00ednio da via interoce\u00e2nica ao pa\u00eds centro-americano: 31 de dezembro de 1999. Para Carter, com a devolu\u00e7\u00e3o do canal aos panamenhos, os americanos demonstraram que “como um pa\u00eds grande e poderoso, somos capazes de tratar de forma justa e honrosa com uma na\u00e7\u00e3o soberana, orgulhosa, mas menor”. Em sua opini\u00e3o, esse marco selava “um novo sentimento de confian\u00e7a m\u00fatua e respeito pelos Estados Unidos” entre os pa\u00edses latino-americanos, conforme informou, na \u00e9poca, o jornal The New York Times. Suas palavras, ap\u00f3s a assinatura dos tratados Torrijos-Carter, tamb\u00e9m buscavam acalmar as \u00e1guas internas. Nos Estados Unidos, principalmente entre os setores conservadores, havia uma forte resist\u00eancia em ceder a jurisdi\u00e7\u00e3o que o pa\u00eds exercera por quase um s\u00e9culo. “N\u00e3o somos propriet\u00e1rios da Zona do Canal do Panam\u00e1, nunca tivemos soberania sobre ela. S\u00f3 tivemos o direito de utiliz\u00e1-la”, disse Carter. Suas palavras encontraram eco no Senado americano, que, posteriormente, ratificaria o pacto e selaria os destinos do canal. O mesmo fizeram os panamenhos. Torrijos submeteu os tratados a plebiscito e obteve amplo apoio. A devolu\u00e7\u00e3o Ap\u00f3s um per\u00edodo de transi\u00e7\u00e3o, a poucos dias da virada do s\u00e9culo, autoridades de todo o mundo chegaram ao Panam\u00e1 para participar da cerim\u00f4nia oficial do que j\u00e1 se tornara um sonho hist\u00f3rico para seus habitantes. No dia 14 de dezembro, realizou-se um primeiro evento, em Miraflores, uma das comportas do canal. A cerim\u00f4nia, que reuniu cerca de 1,5 mil convidados, contou com a presen\u00e7a de mandat\u00e1rios e delega\u00e7\u00f5es de pa\u00edses como Col\u00f4mbia, Equador, Costa Rica, M\u00e9xico e Bol\u00edvia. A eles tamb\u00e9m se juntaram o rei Juan Carlos I da Espanha e o pr\u00f3prio Jimmy Carter. O porte da delega\u00e7\u00e3o americana \u2014 presidida pelo secret\u00e1rio de Com\u00e9rcio e Transporte, William Daley \u2014 e a aus\u00eancia do presidente em exerc\u00edcio, Bill Clinton, no entanto, n\u00e3o passaram despercebidos pelo governo panamenho, liderado na \u00e9poca pela presidente Mireya Moscoso. A l\u00edder inclusive transmitiu seu desconforto aos enviados especiais dos jornais mais importantes do mundo que foram cobrir o momento hist\u00f3rico. Mas nada disso ofuscou o que seria vivido ap\u00f3s o meio-dia do dia 31 de dezembro. Com tel\u00f5es em v\u00e1rios pontos da cidade e um rel\u00f3gio em contagem regressiva, os panamenhos acompanharam ao vivo a devolu\u00e7\u00e3o definitiva da via interoce\u00e2nica. Foi Mireya Moscoso quem hasteou a bandeira panamenha naquele dia no Edif\u00edcio da Administra\u00e7\u00e3o do Canal, selando assim a transfer\u00eancia, que ratificou junto ao secret\u00e1rio do Ex\u00e9rcito dos Estados Unidos, Louis Caldera. “Panam\u00e1, o canal \u00e9 dos panamenhos”, disse a presidente naquele dia, conforme reportado pela ag\u00eancia Associated Press. “O Panam\u00e1 finalmente alcan\u00e7a a plenitude de um Estado soberano”. Cantou-se o hino nacional, houve celebra\u00e7\u00e3o e at\u00e9 fogos de artif\u00edcio. “Neste dia, atingimos a maioridade como na\u00e7\u00e3o”, afirmou Moscoso em seu discurso, destacando que, a partir daquele momento, os panamenhos assumiam uma nova tarefa: gerenciar “de maneira eficiente, como uma quest\u00e3o de Estado e livre de interesses pol\u00edticos” o Canal do Panam\u00e1. <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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