A oposi\u00e7\u00e3o a Maduro, no entanto, n\u00e3o aceita o que o governo de Maduro diz ser o resultado da elei\u00e7\u00e3o. O Conselho Eleitoral, chefiado por aliados do presidente da Venezuela, nunca publicou as atas da elei\u00e7\u00e3o para comprovar que Maduro ganhou de fato o pleito \u2014 um gesto criticado n\u00e3o s\u00f3 pela oposi\u00e7\u00e3o da Venezuela, como por diversos outros pa\u00edses, inclusive pelo governo de Luiz In\u00e1cio Lula da Silva, no Brasil. O l\u00edder da oposi\u00e7\u00e3o, Edmundo Gonz\u00e1lez \u2014 que concorreu contra Maduro nas elei\u00e7\u00f5es venezuelanas realizadas em 2024 \u2014, disse ser ele pr\u00f3prio o vencedor do pleito. E prometeu voltar para a Venezuela nesta sexta-feira para tomar posse. Gonz\u00e1lez est\u00e1 no exterior desde o fim das elei\u00e7\u00f5es. A justi\u00e7a da Venezuela expediu uma ordem de pris\u00e3o contra ele \u2013 e o governo de Maduro ofereceu uma recompensa de US$ 100 mil (cerca de R$ 607 mil) por qualquer informa\u00e7\u00e3o que leve \u00e0 sua captura. O chavismo \u2014 movimento pol\u00edtico iniciado pelo falecido presidente Hugo Ch\u00e1vez e liderado desde sua morte por Maduro \u2014 tem um hist\u00f3rico de persegui\u00e7\u00e3o pol\u00edtica \u00e0 oposi\u00e7\u00e3o. O chavismo est\u00e1 no poder desde 2002; e Maduro \u00e9 presidente desde 2013. At\u00e9 o fim de 2024, havia 1.794 presos pol\u00edticos na Venezuela em 30 de dezembro, segundo a entidade de direitos humanos venezuelana Foro Penal. Nesta semana, falando da clandestinidade, a l\u00edder pol\u00edtica de 57 anos disse \u00e0 BBC que o chavismo nunca esteve t\u00e3o debilitado quanto agora e pediu a Maduro que n\u00e3o permane\u00e7a no poder pela for\u00e7a. No passado, outros l\u00edderes oposicionistas tamb\u00e9m tiveram problemas com a Justi\u00e7a venezuelana \u2014 que h\u00e1 anos \u00e9 controlada por chavistas. Dos cinco principais l\u00edderes oposicionistas ao chavismo, tr\u00eas est\u00e3o no ex\u00edlio e dois est\u00e3o na Venezuela \u2014 uma delas escondida e outro banido da pol\u00edtica. Veja a seguir. Edmundo Gonz\u00e1lez Urrutia virou candidato da oposi\u00e7\u00e3o venezuelana na elei\u00e7\u00e3o de julho de 2024 depois que a principal l\u00edder da oposi\u00e7\u00e3o, Mar\u00eda Corina Machado, foi barrada de concorrer. O diplomata aposentado de 75 anos, de perfil discreto e fala pontuada, nunca havia ocupado cargos p\u00fablicos e nem mesmo era amplamente conhecido nos c\u00edrculos da oposi\u00e7\u00e3o. Mas ap\u00f3s meses de campanha, sua popularidade cresceu. Ele contestou o resultado das elei\u00e7\u00f5es \u2014 que foram declaradas oficialmente vencidas por Maduro, mas sem apresenta\u00e7\u00e3o de atas eleitorais que comprovassem a vit\u00f3ria. Houve viol\u00eancia ap\u00f3s as elei\u00e7\u00f5es na Venezuela, com a morte de pelo menos 27 pessoas e com 192 feridos. O governo de Nicol\u00e1s Maduro prendeu mais de 2,4 mil pessoas depois das elei\u00e7\u00f5es. Em setembro de 2024, dois meses ap\u00f3s a elei\u00e7\u00e3o venezuelana, Gonz\u00e1lez deixou o pa\u00eds para se exilar na Espanha \u2014 depois de um juiz ter emitido um mandado de deten\u00e7\u00e3o contra ele relacionado \u00e0 sua postura de contesta\u00e7\u00e3o das elei\u00e7\u00f5es. Gonz\u00e1lez passou alguns dias na embaixada da Espanha em Caracas. Um juiz venezuelano ordenou a captura de Edmundo Gonz\u00e1lez por suposta “usurpa\u00e7\u00e3o de fun\u00e7\u00f5es, falsifica\u00e7\u00e3o de documento p\u00fablico, incita\u00e7\u00e3o \u00e0 desobedi\u00eancia das leis, conspira\u00e7\u00e3o, sabotagem de sistemas e delitos de associa\u00e7\u00e3o criminosa”. O ex-candidato n\u00e3o compareceu \u00e0 Justi\u00e7a, apesar das sucessivas convoca\u00e7\u00f5es, e estava na clandestinidade desde julho. O governo de Maduro ofereceu uma recompensa de US$ 100 mil (cerca de R$ 607 mil) por informa\u00e7\u00f5es que levassem \u00e0 captura do l\u00edder da oposi\u00e7\u00e3o. Nesta semana, Gonz\u00e1lez disse que tem “toda inten\u00e7\u00e3o de chegar \u00e0 Venezuela” no dia 10 de janeiro, data da mudan\u00e7a de governo. “Minha inten\u00e7\u00e3o \u00e9 ir \u00e0 Venezuela simplesmente para tomar posse do mandato que os venezuelanos me deram quando me elegeram com 7 milh\u00f5es de votos para servir como presidente”, declarou Gonz\u00e1lez \u00e0 imprensa na Argentina, ap\u00f3s se reunir com o presidente Javier Milei esta semana. O governo de Maduro anunciou o deslocamento de 1,2 mil militares em todo o pa\u00eds para “garantir a paz” no dia 10 de janeiro. E assegurou que n\u00e3o existe “nenhuma possibilidade” de que Gonz\u00e1lez “coloque um p\u00e9 na Venezuela sem ser detido”. Gonz\u00e1lez disse na ter\u00e7a-feira que seu genro, Rafael Tudares, foi “sequestrado” na Venezuela. Em uma mensagem no X, ele disse que Tudares foi “sequestrado” por “homens encapuzados vestidos de preto” nas ruas de Caracas. “Esta manh\u00e3 meu genro Rafael Tudares foi sequestrado. Rafael estava indo para a escola dos meus netos de 7 e 6 anos em Caracas para deix\u00e1-los para o in\u00edcio das aulas, e foi interceptado por homens encapuzados vestidos de preto”, disse em sua publica\u00e7\u00e3o. “Eles o colocaram em uma caminhonete dourada, placa AA54E2C, e o levaram embora. Ele est\u00e1 desaparecido no momento.” Mariana Gonz\u00e1lez de Tudares, filha do l\u00edder pol\u00edtico e esposa de Rafael, disse em nota que seu marido est\u00e1 em “situa\u00e7\u00e3o de sequestro por agentes de seguran\u00e7a e intelig\u00eancia do Estado venezuelano” e acrescentou que ainda n\u00e3o tem informa\u00e7\u00f5es concretas sobre seu paradeiro ou sua integridade f\u00edsica e pessoal. Mar\u00eda Corina Machado foi o bra\u00e7o direito e companheira de campanha de Gonz\u00e1lez Urrutia. Ela o apoiou como candidato \u00fanico, depois que o governo venezuelano a impediu de concorrer \u00e0 presid\u00eancia. Ela \u00e9 hoje a principal voz da oposi\u00e7\u00e3o no pa\u00eds. Machado foi “detida violentamente” na quinta-feira e minutos depois liberada, segundo denunciou o seu partido. Ela apareceu em um protesto contra a posse de Nicol\u00e1s Maduro, ap\u00f3s meses escondida na clandestinidade. Ela n\u00e3o era vista em p\u00fablico desde o final de agosto, em meio a um per\u00edodo em que se intensificaram as pris\u00f5es de cidad\u00e3os comuns e l\u00edderes da oposi\u00e7\u00e3o. Ela disse recentemente que espera que a marcha ajude a criar espa\u00e7o para que Gonz\u00e1lez volte ao pa\u00eds \u2014 desafiando as ordens da Justi\u00e7a venezuelana para prend\u00ea-lo. Corina Machado tem concedido entrevistas de seu esconderijo. “Ele sabe que n\u00e3o tem como permanecer no poder, exceto pelo uso da viol\u00eancia, o que \u00e9 insustent\u00e1vel”, disse ela em entrevista concedida por teleconfer\u00eancia \u00e0 BBC essa semana. 3. Juan Guaid\u00f3: no ex\u00edlio Em 2019, a Assembleia Nacional (o parlamento venezuelano) declarou o deputado Juan Guaid\u00f3, do partido Voluntad Popular, como “presidente interino” da Venezuela \u2014 desafiando o poder de Nicol\u00e1s Maduro. Guaid\u00f3 iniciou uma campanha internacional buscando ser reconhecido como l\u00edder leg\u00edtimo do povo venezuelano \u2014 e conquistou apoio de mais de 60 pa\u00edses, entre eles os Estados Unidos e o Brasil, na \u00e9poca governado por Jair Bolsonaro. Maduro congelou os ativos de Guaid\u00f3 e o acusou de uma conspira\u00e7\u00e3o internacional. Em abril de 2019, Guaid\u00f3 convocou manifesta\u00e7\u00f5es contra Maduro e disse ter apoio das For\u00e7as Armadas do pa\u00eds para derrubar Maduro. No entanto, o levante nunca se concretizou. Guaid\u00f3 liderou alguns esfor\u00e7os de negocia\u00e7\u00e3o com Maduro \u2014 mas as discuss\u00f5es nunca evolu\u00edram. Divis\u00f5es internas da oposi\u00e7\u00e3o venezuelana resultaram em um voto que p\u00f4s fim ao seu status autodeclarado de presidente interino da Venezuela em dezembro de 2022. Em abril de 2023, Guaid\u00f3 fugiu para os Estados Unidos, onde pediu asilo. Ele vive na Fl\u00f3rida desde ent\u00e3o. Em outubro de 2023, a Justi\u00e7a venezuelana indiciou Guaid\u00f3 por crimes como lavagem de dinheiro e trai\u00e7\u00e3o, e ordenou sua pris\u00e3o. O pol\u00edtico nega todas as acusa\u00e7\u00f5es e diz ser perseguido do governo venezuelano. 4. Henrique Capriles: barrado de concorrer Henrique Capriles era uma estrela em ascens\u00e3o da oposi\u00e7\u00e3o venezuelana, tendo governado o Estado de Miranda. Em 2012, ele enfrentou Hugo Ch\u00e1vez nas elei\u00e7\u00f5es presidenciais. Em 2013, ap\u00f3s a morte do l\u00edder venezuelano, ele enfrentou Nicol\u00e1s Maduro nas urnas \u2014 tendo sido derrotado em ambas as ocasi\u00f5es. O pleito contra Maduro foi apertado \u2014 e Capriles acusou irregularidades no processo eleitoral. Em abril de 2017, Capriles foi banido da pol\u00edtica venezuelana \u2014 acusado de irregularidades administrativas no comando do governo de Miranda. Capriles convocou protestos contra a decis\u00e3o, mas foi acusado de incitar viol\u00eancia e impedido de ocupar cargos pol\u00edticos por 15 anos. Com isso, deixou o governo de Miranda em 2017 sem poder se candidatar \u00e0 reelei\u00e7\u00e3o. Mesmo impedido de concorrer, ele chegou a anunciar uma pr\u00e9-candidatura \u00e0 Presid\u00eancia em 2024. Mas acabou desistindo, em favor da uni\u00e3o em torno de Edmundo Gonz\u00e1lez. 5. Leopoldo L\u00f3pez: no ex\u00edlio Um dos primeiros opositores ao chavismo foi Leopoldo L\u00f3pez, ex-prefeito de Chacao, umas das subdivis\u00f5es administrativas de Caracas. Em 2004, ele foi declarado ineleg\u00edvel por seis anos (entre 2008 e 2014) por supostas irregularidades na sua gest\u00e3o \u2014 algo que L\u00f3pez acusou como sendo parte de um processo de persegui\u00e7\u00e3o. Ele levou o caso adiante para a Corte Interamericana de Direitos Humanos, onde saiu vitorioso. Mas a decis\u00e3o n\u00e3o foi reconhecida por autoridades venezuelanas. Em 2014, ao convocar protestos, ele foi acusado de conspira\u00e7\u00e3o. No ano seguinte, foi condenado a 13 anos de pris\u00e3o. Desde ent\u00e3o, ele \u00e9 o preso pol\u00edtico mais famoso da Venezuela. Em 2017, ele foi transferido para pris\u00e3o domiciliar. Em 2019, ele foi solto por agentes de seguran\u00e7a que apoiam a oposi\u00e7\u00e3o, e se refugiou na embaixada da Espanha em Caracas, onde ficou por dois anos. Em 2020, ele conseguiu fugir da Venezuela e mora na Espanha desde ent\u00e3o. <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
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