Em meio \u00e0s montanhas Cape Fold, na \u00c1frica do Sul, vive um pequeno anf\u00edbio que surpreende com sua apar\u00eancia carrancuda e h\u00e1bitos inusitados, o Black Rain Frog (Breviceps fuscus), ou ‘sapo da chuva preta’, na tradu\u00e7\u00e3o literal, mas que \u00e9 carinhosamente apelidado como “abacate rabugento”. E o motivo \u00e9 justamente por se assemelhar a fruta: ele possui a pele escura e irregular, de cor marrom ou preta, com alguns gr\u00e2nulos pronunciados e amplamente espa\u00e7ados, como pequenos caro\u00e7os. Segundo Diego Santana, especialista em anf\u00edbios, as varia\u00e7\u00f5es morfol\u00f3gicas t\u00eam aspectos de onde o bicho ocorre, tipo de habitat e h\u00e1bito dele (nesse caso, por se enterrar na areia). A esp\u00e9cie \u00e9 exclusiva da \u00c1frica do Sul e pertence ao g\u00eanero Breviceps, que abrange cerca de 20 esp\u00e9cies distribu\u00eddas por toda a \u00c1frica. Anf\u00edbios desse g\u00eanero s\u00e3o encontrados predominantemente nas regi\u00f5es \u00e1ridas e semi\u00e1ridas do leste e sul do continente africano, com maior concentra\u00e7\u00e3o na parte meridional, onde o ambiente desafia seus habitantes a desenvolverem adapta\u00e7\u00f5es \u00fanicas para sobreviver. Esp\u00e9cie vive boa parte do tempo em tocas subterr\u00e2neas \u2014 Foto: Hermanviviers\/ iNaturalist Entre as curiosidades do sapinho abacate, se destaca o fato dele ser fossorial, ou seja, passa a maior parte do tempo em tocas subterr\u00e2neas, absorvendo umidade diretamente do solo, uma adapta\u00e7\u00e3o essencial para sobreviver em regi\u00f5es onde a \u00e1gua \u00e9 escassa. Al\u00e9m disso, \u00e9 uma esp\u00e9cie diminuta, n\u00e3o ultrapassa os cinco cent\u00edmetros e alimenta-se de pequenos insetos. Quando amea\u00e7ado, infla o corpo como um bal\u00e3o, dificultando que predadores o removam de seus esconderijos. De acordo com Santana, essa estrat\u00e9gia ocorre para dois prop\u00f3sitos principais: parecer um pouco maior e mais intimidador e tornar mais dif\u00edcil de ser engolido pelos predadores. \u201cUmas das coisas que deixaram os Breviceps \u2018famosinhos\u2019 s\u00e3o alguns v\u00eddeos deles \u2018gritando\u2019, o que na verdade \u00e9 um grito de desespero (canto agon\u00edstico). V\u00e1rias esp\u00e9cies apresentam esse grito agon\u00edstico, e pode parecer \u2018engra\u00e7ado\u2019, mas na real, o bicho est\u00e1 estressad\u00edssimo e assustado\u201d, explica Diego. Algumas esp\u00e9cies brasileiras tamb\u00e9m realizam esse comportamento. Um exemplo \u00e9 Proceratophrys cristiceps, um anf\u00edbio end\u00eamico do nosso pa\u00eds. Um estudo publicado em janeiro de 2015 na revista Herpetology Notes explica o comportamento do chamado ‘Distress Call’ do sapo brasileiro, que tamb\u00e9m \u00e9 praticado pelo B. fuscus. Ao se sentir amea\u00e7ado sapinho infla e emite sons agon\u00edsticos \u2014 Foto: Jessi Venter\/iNaturalist Segundo o documento, quando capturados por um predador, sapos podem emitir gritos de ang\u00fastia. Esse tipo de vocaliza\u00e7\u00e3o \u00e9 caracterizado por sons altos e explosivos emitidos por machos, f\u00eameas e juvenis em resposta a perturba\u00e7\u00f5es de potenciais predadores. O ‘Distress Call’ pode ser acompanhado por exibi\u00e7\u00f5es de alerta, como inflar o corpo, um comportamento defensivo comum entre os anuros. De acordo com a World Wide Fund for Nature (WWF), durante a temporada de reprodu\u00e7\u00e3o no ver\u00e3o, a esp\u00e9cie pode ser ouvida em grandes coros que duram v\u00e1rios dias em clima chuvoso. Por conta disso, o g\u00eanero Breviceps \u00e9 associado pelas popula\u00e7\u00f5es locais como um sinal de chuva iminente. Diferentemente da maioria das esp\u00e9cies de sapos, esses n\u00e3o precisam de acesso a \u00e1gua aberta para p\u00f4r ovos ou se reproduzir. Em vez disso, as f\u00eameas colocam seus ovos em ninhos rasos subterr\u00e2neos, que os machos guardam at\u00e9 que os embri\u00f5es eclodam \u2014 n\u00e3o como girinos, mas como pequenos sapos j\u00e1 totalmente formados. Essa estrat\u00e9gia incomum reduz a exposi\u00e7\u00e3o a predadores e aumenta as chances de sobreviv\u00eancia dos filhotes, mostrando como essa esp\u00e9cie soube se adaptar com engenhosidade ao seu habitat hostil. *Texto sob supervis\u00e3o de Ananda Porto <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
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