{"id":47014,"date":"2025-01-04T15:30:00","date_gmt":"2025-01-04T18:30:00","guid":{"rendered":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/o-que-os-especialistas-em-bob-dylan-acharam-de-um-completo-desconhecido\/"},"modified":"2025-01-04T15:30:00","modified_gmt":"2025-01-04T18:30:00","slug":"o-que-os-especialistas-em-bob-dylan-acharam-de-um-completo-desconhecido","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/o-que-os-especialistas-em-bob-dylan-acharam-de-um-completo-desconhecido\/","title":{"rendered":"O que os especialistas em Bob Dylan acharam de ‘Um Completo Desconhecido’?"},"content":{"rendered":"

The New York Times O filme “Um Completo Desconhecido”, de James Mangold, chega aos cinemas brasileiros em fevereiro como o primeiro (ou pelo menos o mais direto) filme biogr\u00e1fico j\u00e1 feito sobre uma das figuras mais duradouras e enigm\u00e1ticas da cultura pop americana: Bob Dylan, interpretado por Timoth\u00e9e Chalamet. O filme tra\u00e7a os dram\u00e1ticos primeiros anos da carreira de Dylan, quando ele surgiu nos anos 1960 como uma estrela da cena de revival folk centrada em Nova York e depois (citando o pr\u00f3prio) jogou tudo fora ao fazer rock ‘n’ roll el\u00e9trico \u2014mais ostensivamente no palco do Newport Folk Festival de 1965, uma performance que fornece o cl\u00edmax do filme. Os pontos dessa hist\u00f3ria s\u00e3o bem conhecidos por alguns \u2014e extremamente bem conhecidos por aqueles t\u00e3o versados nas complexidades da vida e carreira do vencedor do Pr\u00eamio Nobel que s\u00e3o conhecidos como “Dylan\u00f3logos”. Dois desses f\u00e3s apaixonados por Dylan discutiram “Um Completo Desconhecido” por videochamada: Lucy Sante, autora de “Six Sermons for Bob Dylan” e cujo pr\u00f3prio livro de mem\u00f3rias, “I Heard Her Call My Name”, foi publicado em fevereiro passado; e Ian Grant, apresentador de “Jokermen”, um podcast fundado para elevar a produ\u00e7\u00e3o musical de Dylan ap\u00f3s o per\u00edodo celebrado coberto pelo filme, e “Never Ending Stories”, um podcast sobre concertos de Dylan. “Se eu fosse fazer ou financiar o filme de Bob Dylan, me concentraria em literalmente qualquer outro per\u00edodo da carreira de Bob Dylan”, disse Grant. “A carreira de Dylan continua e se multiplica exponencialmente. Mas este \u00e9 um filme”, respondeu Sante. “Acho que qualquer cineasta escolheria este per\u00edodo, porque para fins cinematogr\u00e1ficos e tamb\u00e9m para informar o p\u00fablico sobre esse grande enigma na cultura americana, \u00e9 preciso estabelecer as premissas primeiro.” Confira abaixo trechos editados da conversa. Voc\u00eas gostaram do filme? SANTE: Fiquei agradavelmente surpresa. Sou muito desconfiada de filmes biogr\u00e1ficos em geral, mas este funciona brilhantemente. N\u00e3o \u00e9 Dylan, mas s\u00e3o realmente boas vers\u00f5es cover. Monica Barbaro, que interpreta Joan Baez, \u00e9 maravilhosa. Sei que tiveram que fazer isso por raz\u00f5es de enredo, mas fiquei desapontada com a forma como reduziram Suze Rotolo, namorada de Dylan, a essa personagem de capacho [Sylvie Russo, interpretada por Elle Fanning]. Suze Rotolo \u00e9 a \u00fanica personagem deste filme que eu realmente conheci. Eu tinha uma queda por ela, francamente. Ela era muito, muito inteligente, muito engra\u00e7ada. N\u00e3o acho que seja um filme muito profundo. Ainda enviaria as pessoas para ver “Dont Look Back” e “Eat the Document” em vez deste. Mas para os espectadores mais jovens, em particular, para que eles entendam como eram as coisas no in\u00edcio dos anos 60, \u00e9 bastante bom para isso. GRANT: Acho que Elle Fanning faz o melhor que pode com o material que lhe foi dado \u2014ela est\u00e1 l\u00e1 para atormentar Bob Dylan e repreend\u00ea-lo no in\u00edcio e, no final, ela est\u00e1 l\u00e1 para chorar quando ele parece estar se apaixonando por Joan Baez. N\u00e3o fiquei particularmente impressionado com a profundidade dessa personagem, especialmente quando Suze Rotolo na vida real foi quem apresentou Dylan a toda a val\u00eancia pol\u00edtica da composi\u00e7\u00e3o. O que se destaca \u00e9 a omiss\u00e3o de Sara Lownds \u2014Sara Dylan. Ela acaba se tornando a esposa de Bob, m\u00e3e de v\u00e1rios de seus filhos, uma parceira rom\u00e2ntica mais significativa do que Baez ou Rotolo. Ela foi uma parte fundamental da vida do homem neste momento e certamente no futuro. O problema que tenho com qualquer pe\u00e7a sobre Dylan que se concentra nesta era \u00e9 fingir que isso \u00e9 tudo que h\u00e1 na hist\u00f3ria. N\u00e3o h\u00e1 ind\u00edcio ou gesto em dire\u00e7\u00e3o aos 60 anos da vida deste homem desde ent\u00e3o, o que, para mim \u2014por mais que essas coisas sejam \u00f3timas no in\u00edcio e meados dos anos 60\u2014 a verdadeira hist\u00f3ria \u00e9 tudo o que vem depois. E Sara \u00e9 a maneira mais clara e forte de reconhecer que h\u00e1 uma vida inteira para este homem al\u00e9m deste momento de flash. SANTE: Eu continuava esperando que ele a conhecesse, se mudasse para o Chelsea Hotel e come\u00e7asse a escrever “Sad-Eyed Lady of the Lowlands”. Entendo o que voc\u00ea est\u00e1 dizendo, e \u00e9 completamente v\u00e1lido. Mas como voc\u00ea faz isso? Exceto ter alguma montagem dos pr\u00f3ximos 40 ou 50 ou 60 anos? Eles tiveram que decidir um ponto final. E porque ela \u00e9 a presen\u00e7a dominante nos 10 anos seguintes da vida dele, isso s\u00f3 complicaria as coisas. \u00c9 defens\u00e1vel, se vai haver um filme sobre Dylan, que ele retrate precisamente seu per\u00edodo mais famoso \u2014ele chega a Nova York, \u00e9 uma estrela em ascens\u00e3o no Village, ele se conecta em Newport? SANTE: Acho que sim, em parte porque \u00e9 o menos documentado. Quero dizer, \u00e9 muito bem documentado. Mas h\u00e1 quase nenhuma filmagem de qualquer coisa anterior a 1965, exceto pela Marcha sobre Washington. GRANT: Entendo o que voc\u00ea quer dizer sobre este per\u00edodo de tempo ser literalmente menos documentado \u2014n\u00e3o ter quase tantas fontes prim\u00e1rias para se basear. Mas, ao mesmo tempo, \u00e9 t\u00e3o debatido e mitologizado e explorado, gera\u00e7\u00e3o ap\u00f3s gera\u00e7\u00e3o. E isso faz sentido, porque a raz\u00e3o pela qual este \u00e9 o momento que continua a fascinar as pessoas \u00e9 porque o pr\u00f3prio Bob Dylan, a arte que ele est\u00e1 fazendo, as decis\u00f5es que ele est\u00e1 tomando, est\u00e3o t\u00e3o centralmente ligadas a um fio particular da cultura americana neste momento. Dylan se torna um s\u00edmbolo para uma gera\u00e7\u00e3o, para din\u00e2micas pol\u00edticas. Ent\u00e3o voc\u00ea conta uma hist\u00f3ria maior \u2014a hist\u00f3ria da Am\u00e9rica em meados do s\u00e9culo 20\u2014 contando a hist\u00f3ria de Dylan dos anos 1961 a 1965. Mas estou mais interessado em Dylan como artista, em vez de Dylan como s\u00edmbolo. Toda a m\u00fasica que ele fez, todos os filmes estranhos e terr\u00edveis que ele fez, todos os milhares de concertos \u2014 alguns incr\u00edveis, alguns horr\u00edveis \u2014 que ele deu ao longo dos anos e d\u00e9cadas. Qualquer uma dessas eras \u00e9 mais interessante para mim porque n\u00e3o foram debatidas, mitologizadas, fundidas em bronze como este momento maior que a vida do Grande Artista Americano. SANTE: Aceito o que voc\u00ea diz. Mas a maior parte do mundo n\u00e3o \u00e9 composta por “Dylan\u00f3logos”. E, se voc\u00ea vai fazer um filme sobre [o \u00e1lbum de Dylan de 1989] “Oh Mercy” ou qualquer outra coisa, ainda precisa explicar as origens. Como voc\u00ea acha que o filme se saiu ao retratar como Dylan se tornou um artista? \u00c9 poss\u00edvel retratar isso em um filme? SANTE: Voc\u00ea n\u00e3o pode retratar o ato de cria\u00e7\u00e3o. Simplesmente n\u00e3o vai funcionar. A coisa que posso dizer sobre este filme \u00e9 que ele evita o constrangimento. Um dos benef\u00edcios da estrutura de montagem r\u00e1pida do filme \u00e9 que ele n\u00e3o te d\u00e1 tempo para pensar: “Espere, ele acabou de escrever x, e agora ele acabou de escrever y”. Simplesmente acontece. A menos que voc\u00ea tenha um filme de arte europeu onde tudo \u00e9 sobre Dylan escrevendo uma m\u00fasica \u2014isso seria meio interessante, na verdade, ele est\u00e1 fumando e pensando, e v\u00e1rias pessoas entram e saem dessa vida, e ele ainda est\u00e1 tentando escrever “Obviously Five Believers.” GRANT: Esse \u00e9 um elemento da hist\u00f3ria que \u00e9 simplesmente n\u00e3o cinematogr\u00e1fico. \u00c9 um processo interno que acontece em sonhos ou quando ele est\u00e1 sentado em uma cafeteria e estudando a forma como a luz est\u00e1 caindo pela janela. \u00c9 muito dif\u00edcil colocar isso em qualquer tipo de formato audiovisual que fa\u00e7a sentido para o p\u00fablico, e n\u00e3o seja, como voc\u00ea acabou de dizer, Lucy, embara\u00e7oso, cringe, muito \u00f3bvio. “Um Completo Desconhecido” foi fiel ao lado mais espinhoso da personalidade de Dylan? GRANT: A grande coisa sobre “Dont Look Back” \u00e9 que ele \u00e9 [um palavr\u00e3o] naquele filme e n\u00e3o h\u00e1 esfor\u00e7o para esconder isso. \u00c9 infinitamente delicioso para mim, mesmo que eu possa reconhecer que provavelmente teria odiado estar perto desse cara se eu estivesse naquele quarto de hotel quando ele est\u00e1 gritando sobre quem jogou o copo. SANTE: No novo filme, isso \u00e9 feito sutilmente. \u00c9 feito negativamente, voc\u00ea poderia dizer. \u00c9 tudo sobre ele encolhendo os ombros e ignorando todos \u00e0 esquerda e \u00e0 direita. Isso meio que funciona sem martelar o ponto. GRANT: Concordo que ele \u00e9 mostrado como um personagem n\u00e3o particularmente simp\u00e1tico, certamente quando voc\u00ea chega \u00e0 segunda metade deste filme. Voc\u00ea v\u00ea Dylan e seu amigo Bobby Neuwirth andando por a\u00ed com seus \u00f3culos escuros, agindo como se fossem legais demais para a escola. Isso est\u00e1 na medida certa. Mas n\u00e3o \u00e9 contrabalan\u00e7ado com “Quero olhar al\u00e9m desses defeitos porque ele ainda \u00e9 Bob Dylan”. Chalamet realmente se esfor\u00e7a, mas \u00e0s vezes se aproxima do exagero. SANTE: E voc\u00ea n\u00e3o obt\u00e9m o humor de Dylan. O tipo de conversa que ele era capaz de ter. Voc\u00ea gostaria que houvesse um pouco mais de coisas n\u00e3o direcionadas para preencher a personalidade, porque a personalidade, voc\u00ea est\u00e1 aceitando muito dela com base na f\u00e9 ou no conhecimento pr\u00e9vio. N\u00e3o h\u00e1 nada onde voc\u00ea pense: “L\u00e1 est\u00e1”. Chalamet \u00e9 um ator interessante e ele transmite algo negativamente. Voc\u00ea obt\u00e9m uma vis\u00e3o de um performer obstinado, compositor, amante de muitas mulheres; arrogante, mesmo que venha do nada. Mas voc\u00ea n\u00e3o obt\u00e9m muito do senso daquela mente. GRANT: Se voc\u00ea ouvir algumas dessas fitas piratas de Bob, h\u00e1 uma onde ele est\u00e1 contando uma piada sobre estar em East Orange, New Jersey, e \u00e9 a mais brega \u2014um tipo de com\u00e9dia de borscht belt. Mas \u00e9 realmente engra\u00e7ado. E \u00e9 o Bob Dylan de 21 anos entregando isso. Esse elemento de sua personalidade n\u00e3o est\u00e1 presente aqui. E esse \u00e9 o homem que eu amo. <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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