{"id":46872,"date":"2025-01-03T10:30:00","date_gmt":"2025-01-03T13:30:00","guid":{"rendered":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/mulheres-igreja-mundo-a-terra-sagrada-e-a-casa-perdida\/"},"modified":"2025-01-03T10:30:00","modified_gmt":"2025-01-03T13:30:00","slug":"mulheres-igreja-mundo-a-terra-sagrada-e-a-casa-perdida","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/mulheres-igreja-mundo-a-terra-sagrada-e-a-casa-perdida\/","title":{"rendered":"\u201cMulheres Igreja Mundo\u201d, a terra sagrada e a casa perdida"},"content":{"rendered":"
Na edi\u00e7\u00e3o de janeiro da revista mensal do L’Osservatore Romano, a resist\u00eancia de Alice Kishiya, uma crist\u00e3 palestina de Bel\u00e9m. Lidia Ginestra Giuffrida Com uma voz doce, mas ao mesmo tempo clara e decidida, Alice Kishiya, uma crist\u00e3 cat\u00f3lica de 30 anos de Bel\u00e9m, descreve as emo\u00e7\u00f5es que a palavra \u201ccasa\u201d lhe desperta: \u201cCasa s\u00e3o as lembran\u00e7as com as pessoas que voc\u00ea ama, o lugar onde voc\u00ea nasceu, a sensa\u00e7\u00e3o de seguran\u00e7a, de calma, o lugar onde seus entes queridos esperam por voc\u00ea e onde voc\u00ea espera por eles. N\u00e3o se trata de um pr\u00e9dio ou de algo material, trata-se de amor e fam\u00edlia\u201d. Ela n\u00e3o sente esses sentimentos desde que foi expulsa de sua casa e de suas terras no bairro de el-Makhrur, nos arredores de Bel\u00e9m, em 30 de julho. \u201cEste \u00e9 o \u00faltimo vilarejo totalmente crist\u00e3o que restou na Cisjord\u00e2nia ocupada\u201d, diz Alice, mostrando o vale verde que se estende al\u00e9m dos telhados brancos. Seu dedo aponta para as vinhas e oliveiras. Essa natureza \u00e9 muito preciosa para n\u00f3s\u201d, diz ela. \u201cPara n\u00f3s, crist\u00e3os, esse \u00e9 um lugar sagrado, que remonta aos tempos romanos, \u00e9 algo b\u00edblico\u201d. El-Makhrur, que j\u00e1 \u00e9 patrim\u00f4nio da Unesco, \u00e9 um vilarejo palestino com cerca de duzentas fam\u00edlias, de maioria cat\u00f3lica, localizado em uma das \u00e1reas C da Cisjord\u00e2nia, ocupada por colonos israelenses. A casa de Alice foi confiscada pelos colonos israelenses, uma priva\u00e7\u00e3o que marcou a identidade da mulher a ponto de ela se apresentar assim para aqueles que n\u00e3o a conhecem: \u201cSou de Bel\u00e9m e minha terra foi confiscada pelos colonos\u201d. A hist\u00f3ria dessa jovem determinada e com os p\u00e9s no ch\u00e3o come\u00e7a h\u00e1 mais de quinze anos, quando o restaurante da fam\u00edlia Kishiya foi demolido ilegalmente pelo ex\u00e9rcito israelense, sob o pretexto de que havia se tornado uma zona militar fechada. \u201cAp\u00f3s a primeira demoli\u00e7\u00e3o, decidimos construir uma pequena tenda onde as pessoas pudessem vir para saborear comida \u00e1rabe na natureza. Em algum momento, ela se tornou um ponto de encontro para todos, israelenses, palestinos e estrangeiros de todo o mundo que vinham se sentar ali, era um lugar de amor e paz. At\u00e9 que demoliram tamb\u00e9m a nossa casa\u201d. Desde ent\u00e3o, a casa onde Alice morava com seus pais foi destru\u00edda quatro vezes, e toda vez que era reconstru\u00edda, os colonos com o ex\u00e9rcito a derrubavam novamente. \u201cDepois da demoli\u00e7\u00e3o da casa e do restaurante em 2019\u201d, continua essa jovem cheia de coragem, \u201ccome\u00e7amos a dormir em barracas e cada barraca em que dorm\u00edamos era pontualmente demolida, isso aconteceu outras 17 vezes, finalmente com a guerra em Gaza, eles aproveitaram a situa\u00e7\u00e3o e o fato de que a aten\u00e7\u00e3o da m\u00eddia estava toda voltada para a Faixa, para nos despejar completamente de nossa terra, alegando que haviam comprado a terra. No tribunal, por\u00e9m, eles nunca conseguiram provar isso, e os documentos apresentados pelos colonos logo se revelaram falsos. No entanto, a fam\u00edlia Kishiya nunca mais teve permiss\u00e3o para voltar para casa. Desde ent\u00e3o, Alice se tornou a porta-voz da luta de sua fam\u00edlia, que \u00e9 a mesma de tantos na Palestina, por meio do instrumento da f\u00e9 e da n\u00e3o viol\u00eancia. \u201cDesde ent\u00e3o, comecei a convidar pessoas, ativistas e igrejas, im\u00e3s, rabinos, padres, qualquer pessoa que quisesse demonstrar solidariedade era bem-vinda e ainda \u00e9. Explica: \u201ccome\u00e7amos protestos n\u00e3o violentos e pac\u00edficos com eventos inter-religiosos. Por exemplo, a vig\u00edlia realizada em 29 de setembro, da qual participaram mais de 25 comunidades em todo o mundo. Conosco, naquele dia, havia crist\u00e3os, mu\u00e7ulmanos e judeus que rezaram juntos em meio \u00e0 guerra, celebramos a missa dominical juntos, foi incr\u00edvel. No m\u00eas seguinte, tivemos o Shabat inter-religioso, em que n\u00f3s, crist\u00e3os e mu\u00e7ulmanos, tamb\u00e9m rezamos juntos com os judeus\u201d. Para Alice, lutar celebrando a vida, em uma terra de morte e viol\u00eancia, \u00e9 a ferramenta mais revolucion\u00e1ria a ser usada. A f\u00e9 \u00e9 seu farol e ela deixa isso claro toda vez que fala sobre resist\u00eancia e esperan\u00e7a. \u201cO caso da minha fam\u00edlia mostrou que h\u00e1 espa\u00e7os nesta terra onde podemos aceitar o outro; as pessoas que est\u00e3o nos apoiando compartilham o mesmo princ\u00edpio: elas acreditam em sua humanidade. Elas acreditam nos ensinamentos de Jesus Cristo. Este \u00e9 o momento de estarmos juntos, independentemente da origem, do hist\u00f3rico religioso ou das cren\u00e7as de cada um, podemos compartilhar e aceitar uns aos outros, e devemos fazer isso para vivermos juntos em paz. Isso \u00e9 o que realmente importa em nossa comunidade inter-religiosa\u201d, continuou ela. Nos \u00faltimos quatro meses, a vida de Alice tem se tornado uma sucess\u00e3o de viol\u00eancia, abuso e pris\u00f5es infundadas. H\u00e1 uma foto dela frente a frente com um colono israelense em trajes militares, que deu a volta ao mundo e se tornou um s\u00edmbolo da luta das mulheres palestinas. \u201cN\u00e3o tenho medo\u201d, diz a mulher com voz firme, \u201cporque sei que estou certa, porque minha luta \u00e9 de amor, feita com amor. N\u00e3o lutamos com \u00f3dio. Tenho certeza de que o amor, a conviv\u00eancia e a uni\u00e3o podem trazer a paz. E \u00e9 isso que vai acontecer, porque esse \u00e9 o ensinamento de Jesus\u201d. Em seguida, ela tira algumas fotos, folheia-as e mostra uma da tenda que fez para rezar: \u201cesta \u00e9 uma igreja que constru\u00edmos em poucos dias junto com ativistas crist\u00e3os, judeus e mu\u00e7ulmanos. Os colonos e o ex\u00e9rcito demoliram a igreja peda\u00e7o por peda\u00e7o e levaram o que restou com eles. Mas n\u00f3s a reconstruiremos\u201d. N\u00e3o muito longe do vilarejo de el-Makhrur, dirigindo em dire\u00e7\u00e3o a Bel\u00e9m, a entrada da cidade parece fantasmag\u00f3rica. \u201cJesus nasceu na Palestina, em Bel\u00e9m. Este \u00e9 o ber\u00e7o de Jesus\u201d, continua Alice, \u201cagora essa terra est\u00e1 de joelhos e n\u00f3s tamb\u00e9m. Bel\u00e9m sempre viveu do turismo, mas agora a situa\u00e7\u00e3o econ\u00f4mica est\u00e1 no fundo do po\u00e7o. Cerca de 40 fam\u00edlias crist\u00e3s deixaram Bel\u00e9m desde 7 de outubro de 2023 e nunca mais voltaram\u201d. Nesse meio tempo, o sol se p\u00f5e entre as montanhas, atr\u00e1s das mesmas oliveiras que Alice chama de sagradas. Ela olha para elas, sorri e murmura: \u201cEl-Makhrur sempre foi uma terra crist\u00e3\u201d. Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
Na edi\u00e7\u00e3o de janeiro da revista mensal do L’Osservatore Romano, a resist\u00eancia de Alice Kishiya, uma crist\u00e3 palestina de Bel\u00e9m. Lidia Ginestra…<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":46873,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[16,1],"tags":[],"class_list":["post-46872","post","type-post","status-publish","format-standard","has-post-thumbnail","hentry","category-mundo","category-todas-noticias"],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/46872","targetHints":{"allow":["GET"]}}],"collection":[{"href":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=46872"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/46872\/revisions"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media\/46873"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=46872"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=46872"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=46872"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}