{"id":46575,"date":"2024-12-31T09:04:00","date_gmt":"2024-12-31T12:04:00","guid":{"rendered":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/igreja-peregrina-da-esperanca-do-reino\/"},"modified":"2024-12-31T09:04:00","modified_gmt":"2024-12-31T12:04:00","slug":"igreja-peregrina-da-esperanca-do-reino","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/igreja-peregrina-da-esperanca-do-reino\/","title":{"rendered":"Igreja peregrina da esperan\u00e7a do reino"},"content":{"rendered":"

Francisco nos recorda, tantas vezes, que devemos viver o Jubileu como um tempo prop\u00edcio da gra\u00e7a para nos comprometermos com a constru\u00e7\u00e3o de um mundo mais justo e solid\u00e1rio. Joaquim Joc\u00e9lio de Sousa Costa – Presb\u00edtero da Diocese de Limoeiro do Norte-Ce. Iniciamos o Ano Santo, ou Jubileu. Na Igreja, essa tradi\u00e7\u00e3o se iniciou com o Papa Bonif\u00e1cio VIII em 1300, tinha o objetivo de atrair grandes peregrina\u00e7\u00f5es para Roma, anunciando um tempo da gra\u00e7a e do perd\u00e3o de Deus. A princ\u00edpio, deveria se realizar a cada 100 anos. Depois se reduziu para 50 at\u00e9 chegar ao intervalo atual, que \u00e9 de 25 anos. Essa pr\u00e1tica dos jubileus tem base b\u00edblica. A Escritura assim prescrevia: \u201cNo dia da expia\u00e7\u00e3o voc\u00eas fa\u00e7am soar a trombeta no pa\u00eds inteiro. Declarem santo o quinquag\u00e9simo ano e proclamem a liberta\u00e7\u00e3o para todos os moradores do pa\u00eds. Ser\u00e1 para voc\u00eas um ano de j\u00fabilo: cada um de voc\u00eas recuperar\u00e1 a sua propriedade e voltar\u00e1 para a sua fam\u00edlia\u201d (Lv 25,9-10). A cada 50 anos, acontecia esse tempo de alegria, de j\u00fabilo (da\u00ed \u201cJubileu\u201d), per\u00edodo no qual a terra deveria descansar, as d\u00edvidas deveriam ser perdoadas e os escravizados deveriam ser libertados. Esses anos, portanto, traz um forte compromisso social. A experi\u00eancia que Israel teve com Deus lhe revelava como a terra pertencia ao Senhor, os seres humanos eram apenas inquilinos. Logo, era injusto algu\u00e9m se apossar sozinho da terra e outro ficar sem. Ademais, o ser humano tamb\u00e9m pertence a Deus. Por isso, a ideia n\u00e3o s\u00f3 de devolu\u00e7\u00e3o da terra e perd\u00e3o das divinas no Jubileu, mas tamb\u00e9m da liberta\u00e7\u00e3o dos escravizados. Essa experi\u00eancia foi traduzida nas promessas messi\u00e2nicas feitas pelos profetas e concretizadas em Jesus: \u201cO Esp\u00edrito do Senhor est\u00e1 sobre mim, porque ele me consagrou com a un\u00e7\u00e3o, para anunciar a Boa Not\u00edcia aos pobres; enviou-me para proclamar a liberta\u00e7\u00e3o aos presos e aos cegos a recupera\u00e7\u00e3o da vista; para libertar os oprimidos, e para proclamar um ano de gra\u00e7a do Senhor\u201d (Lc 4,18-19; Cf. Is 61,1-2). Jesus assume para si a profecia de Isa\u00edas e entende sua chegada como o grande Jubileu, o grande ano da gra\u00e7a do Senhor. Fi\u00e9is a essa tradi\u00e7\u00e3o b\u00edblia, devemos fazer do Jubileu esse tempo de gra\u00e7a e de liberta\u00e7\u00e3o, uma vez que somos convidados a viver a aut\u00eantica alegria do Evangelho, transformando nossas vidas e o mundo, a fim de vivermos mais plenamente a vontade de Deus. Contudo, o risco \u00e9 de vermos o Jubileu ser reduzido a caminhadas e momentos festivos, at\u00e9 com certa empolga\u00e7\u00e3o e piedade, mas sem converter nossa vida e a sociedade \u00e0 l\u00f3gica amorosa e fraterna do Evangelho. O pr\u00f3prio Papa Francisco, durante uma entrevista \u00e0 emissora de TV Canal Orbe 21, manifestou esse receio: \u201cO Jubileu \u00e9 um tempo de renova\u00e7\u00e3o total, de perd\u00e3o. \u00c0s vezes tenho medo de que o Jubileu se assemelhe a um turismo religioso. O Jubileu, para ser vivido bem, tem que ser de dentro para fora. E, de alguma forma, consertar um pouco as hist\u00f3rias pessoais. Nesse aspecto, \u00e9 um momento de perd\u00e3o, um momento de alegria, um momento de recomposi\u00e7\u00e3o de tantas coisas pessoais e sociais. Um jubileu que se reduza ao turismo n\u00e3o serve. Esse \u00e9 o perigo e isso me d\u00e1 muito medo\u201d. Nesse sentido, Francisco nos recorda, tantas vezes, que devemos viver o Jubileu como um tempo prop\u00edcio da gra\u00e7a para nos comprometermos com a constru\u00e7\u00e3o de um mundo mais justo e solid\u00e1rio. Na b\u00edblia, o Jubileu iniciava ao toque da trombeta; hoje, o som que nos desperta \u00e9 outro: \u201cTamb\u00e9m nos dias de hoje, o Jubileu \u00e9 um acontecimento que nos impele a procurar a justi\u00e7a libertadora de Deus em toda a terra. Em vez da trombeta, no in\u00edcio deste Ano de Gra\u00e7a, n\u00f3s gostar\u00edamos de estar atentos ao \u2018desesperado grito de ajuda\u2019 que, como a voz do sangue de Abel, o justo, se eleva de muitas partes da terra (cf. Gn 4,10) e que Deus nunca deixa de escutar. N\u00f3s, por nossa vez, sentimo-nos chamados a unir-nos \u00e0 voz que denuncia tantas situa\u00e7\u00f5es de explora\u00e7\u00e3o da terra e de opress\u00e3o do pr\u00f3ximo\u201d (Papa Francisco, Mensagem para o Dia Mundial da Paz 2025). O grito de agonia dos pobres e da terra junto ao nosso grito de den\u00fancia dessas injusti\u00e7as devem formar o som da trombeta que anuncia este Jubileu. E isso se torna ainda mais pertinente quando pensamos no tema escolhido pelo Papa para ele: A ESPERAN\u00c7A. O cristianismo \u00e9 a religi\u00e3o da esperan\u00e7a, nossa f\u00e9 est\u00e1 alicer\u00e7ada na certeza de que a vida venceu a morte, de que a ressurrei\u00e7\u00e3o de Jesus nos mostra que nenhum mal \u00e9 maior que a vida que vem de Deus. Logo, \u00e9 urgente retomarmos a reflex\u00e3o sobre a esperan\u00e7a em um mundo onde a dor, a injusti\u00e7a, a viol\u00eancia e a morte parecem ter cada dia mais for\u00e7a. Diferentemente do que alguns podem pensar, a esperan\u00e7a crist\u00e3 n\u00e3o \u00e9 um anest\u00e9sico que aliena e faz cruzar os bra\u00e7os, esperando algo melhor. Achar que o tema da esperan\u00e7a, nesse Jubileu, \u00e9 desnecess\u00e1rio ou alienador \u00e9 desconhecer o que \u00e9 a esperan\u00e7a crist\u00e3. Contudo, tamb\u00e9m \u00e9 verdade que uma tenta\u00e7\u00e3o, sempre presente na vida de quem segue Jesus, \u00e9 viver a f\u00e9 de modo intimista, restrito ao \u00e2mbito privado. Portanto, existe o perigo do Jubileu ser vivido assim, todavia nada mais contr\u00e1rio a ele do que essa forma de religiosidade. Afinal, \u201ca esperan\u00e7a \u00e9 incompat\u00edvel com a vida tranquila dos que n\u00e3o levantam a voz contra o mal e contra as injusti\u00e7as cometidas diretamente sobre os mais pobres. Pelo contr\u00e1rio, a esperan\u00e7a crist\u00e3, ao mesmo tempo que nos convida a esperar pacientemente que o Reino germine e cres\u00e7a, exige de n\u00f3s a aud\u00e1cia de antecipar hoje essa promessa, atrav\u00e9s da nossa responsabilidade, mas n\u00e3o s\u00f3, atrav\u00e9s tamb\u00e9m da nossa compaix\u00e3o\u201d (Papa Francisco, Homilia na missa de abertura do Jubileu). Diante do exposta, vale ressaltar que este Jubileu deve ser tempo prop\u00edcio da gra\u00e7a de Deus para renovarmos nossa esperan\u00e7a, comprometidos na transforma\u00e7\u00e3o pessoal, social, pol\u00edtica, econ\u00f4mica, enfim, integral, para que o mundo seja como Deus quer. Nessa perspectiva, em sua mensagem para o Dia Mundial da Paz 2025, o Papa prop\u00f5e tr\u00eas a\u00e7\u00f5es para que este Jubileu nos ajude na constru\u00e7\u00e3o de um mundo melhor: 1) o perd\u00e3o da d\u00edvida externa dos pa\u00edses pobres; 2) a elimina\u00e7\u00e3o da pena de morte e 3) a destina\u00e7\u00e3o de um percentual fixo do dinheiro usado nas guerras para a cria\u00e7\u00e3o de um fundo mundial de combate \u00e0 fome. Soma-se a essas tr\u00eas a\u00e7\u00f5es o olhar sobre os sinais de esperan\u00e7a hoje. Trata-se de perceber que \u201cos sinais dos tempos, que cont\u00eam o an\u00e9lito do cora\u00e7\u00e3o humano, carecido da presen\u00e7a salv\u00edfica de Deus, pedem para ser transformados em sinais de esperan\u00e7a\u201d (SNC 7). O Papa cita alguns deles: a paz, a transmiss\u00e3o da vida, os presos, os doentes, os jovens, os migrantes, os idosos e os pobres (Cf. SNC 8-15). Este ano jubilar tamb\u00e9m \u00e9 tempo de implementa\u00e7\u00e3o das orienta\u00e7\u00f5es do S\u00ednodo dos Bispos sobre sinodalidade a partir do seu Documento Final (DF). O objetivo \u00e9 renovarmos toda a Igreja a partir do Evangelho, sendo esse sopro de esperan\u00e7a para o mundo. Afinal, como o pr\u00f3prio texto diz: \u201cPr\u00e1ticas aut\u00eanticas de sinodalidade permitem aos Crist\u00e3os desenvolver uma cultura capaz de profecia cr\u00edtica face ao pensamento dominante e, assim, oferecer um contributo peculiar na procura de respostas a muitos dos desafios que as sociedades contempor\u00e2neas devem enfrentar e na constru\u00e7\u00e3o do bem comum\u201d (DF 47). Assim, a sinodalidade \u00e9 tamb\u00e9m esperan\u00e7a que move a construir o Reino de Deus. Sinodalidade significa caminhar juntos, e o Jubileu, tempo de gra\u00e7a e de liberta\u00e7\u00e3o, nos recorda que somos peregrinos da esperan\u00e7a. Por isso, a marcha da esperan\u00e7a, nosso peregrinar \u00e9 sinodal, \u00e9 express\u00e3o de uma Igreja sempre em movimento, em sa\u00edda para as periferias. Assim, espera-se que este Jubileu nos ajude a entender que n\u00e3o podemos ser uma Igreja fechada em nossas pr\u00f3prias comodidades, autorreferencial (Cf. EG 49). Que seja, de fato, um tempo prop\u00edcio para assumirmos nossa miss\u00e3o de peregrinos da esperan\u00e7a, homens e mulheres em constante sa\u00edda, anunciando a Boa Nova aos pobres, a liberta\u00e7\u00e3o aos oprimidos, o Ano da Gra\u00e7a de Deus (Cf. Lc 4,18-19). Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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