Esse cen\u00e1rio \u00e9 apontado por diferentes pesquisas como um dos pilares para a car\u00eancia de professores da rede b\u00e1sica que pode atingir o Brasil nas pr\u00f3ximas d\u00e9cadas. Em 2022, uma proje\u00e7\u00e3o do Sindicato das Entidades Mantenedoras do Ensino Superior (Semesp) indicou um poss\u00edvel d\u00e9ficit de 235 mil docentes em 2040. Para entender o quadro, o g1 conversou com o representante dos cursos de forma\u00e7\u00e3o de professores da Unicamp e com Nat\u00e1lia Fregonesi, coordenadora de Pol\u00edticas Educacionais do Todos Pela Educa\u00e7\u00e3o. Ambos apontam, entre outros fatores, a desvaloriza\u00e7\u00e3o da carreira como causadora do desinteresse (confira as an\u00e1lises abaixo). “A carreira de professor n\u00e3o est\u00e1 mais chamando a aten\u00e7\u00e3o dos jovens, considerando que existem v\u00e1rias outras possibilidades. Ent\u00e3o, a causa, a raiz desse problema est\u00e1 justamente nessa falta de valoriza\u00e7\u00e3o do docente”, diz Nat\u00e1lia. (Essa reportagem faz parte de uma s\u00e9rie que aborda a queda no interesse por cursos de licenciatura e como esse cen\u00e1rio pode afetar o estoque de professores da educa\u00e7\u00e3o b\u00e1sica no futuro). O desinteresse em n\u00fameros A Unicamp possui, no total, 15 cursos destinados \u00e0 forma\u00e7\u00e3o de professores. Seis deles s\u00e3o exclusivamente licenciaturas, isto \u00e9, todas as suas disciplinas buscam a prepara\u00e7\u00e3o de novos docentes. S\u00e3o eles: ci\u00eancias biol\u00f3gicas, f\u00edsica, letras, integrado qu\u00edmica e f\u00edsica, matem\u00e1tica e pedagogia. Os demais d\u00e3o ao candidato a possibilidade de optar ou n\u00e3o pela licenciatura. Para essa reportagem, al\u00e9m dos citados acima, foram considerados ainda os cursos que n\u00e3o s\u00e3o apenas de licenciatura, pois tamb\u00e9m oferecem a modalidade de bacharelado, mas est\u00e3o ligados \u00e0 educa\u00e7\u00e3o b\u00e1sica, como: artes visuais, ci\u00eancias sociais, educa\u00e7\u00e3o f\u00edsica, filosofia, geografia e hist\u00f3ria, excluindo as gradua\u00e7\u00f5es em dan\u00e7a, m\u00fasica e enfermagem. Entre os vestibulares de 2022 e 2025, os cursos destinados exclusivamente \u00e0 forma\u00e7\u00e3o de professores tiveram os menores \u00edndices de inscri\u00e7\u00e3o, segundo n\u00fameros dos Anu\u00e1rios da Assessoria de Economia e Planejamento (Aeplan) da Unicamp. Essas gradua\u00e7\u00f5es viveram um auge no in\u00edcio dos anos 2000 e permaneceram em um cen\u00e1rio positivo at\u00e9 pouco antes de 2020. No entanto, o total de candidatos come\u00e7ou a cair e chegou ao menor patamar nos anos seguintes (veja o gr\u00e1fico acima). Outro aspecto \u00e9 a rela\u00e7\u00e3o entre alunos que ingressam na institui\u00e7\u00e3o e concluem o curso e aqueles que desistem durante a gradua\u00e7\u00e3o. Comparando todos os cursos, os indicadores s\u00e3o piores nas forma\u00e7\u00f5es voltadas a novos professores, como aponta o Censo da Educa\u00e7\u00e3o Superior, do MEC: considerando todos os cursos da Unicamp, menos os de forma\u00e7\u00e3o de professores, a taxa de conclus\u00e3o acumulada foi de 68%. A desist\u00eancia acumulada foi de 31%;considerando apenas os cursos de forma\u00e7\u00e3o de professores da Unicamp, excluindo todos os outros, a taxa de conclus\u00e3o acumulada foi de 46%. A desist\u00eancia acumulada foi de 54%.a m\u00e9dia geral, considerando todos os cursos da institui\u00e7\u00e3o, \u00e9 de 63% de conclus\u00e3o acumulada, contra 36% de desist\u00eancia. O cen\u00e1rio preocupa a Unicamp Pedro Cunha, presidente da Comiss\u00e3o Permanente de Forma\u00e7\u00e3o de Professores da Unicamp, reconhece o cen\u00e1rio e afirma que essa tem sido uma preocupa\u00e7\u00e3o nos \u00faltimos anos: o n\u00famero de pessoas que sonham em se tornar educadoras realmente caiu e aqueles que decidem viver esse sonho podem se frustrar e desistir no meio do caminho. \u201cEssa \u00e9 uma quest\u00e3o que nos preocupa, sim […] quando a gente olha para a taxa de formandos, ela tem se mantido mais ou menos est\u00e1vel nos \u00faltimos 10 anos. O que acontece \u00e9 que a gente forma um n\u00famero menor do que a gente teria o potencial de formar\u201d, comenta. A aten\u00e7\u00e3o \u00e9 ainda maior quando consideradas as gradua\u00e7\u00f5es exclusivamente destinadas \u00e0 licenciatura, isto \u00e9, aquelas em que o ingressante entra com a inten\u00e7\u00e3o \u00fanica de se tornar professor. \u201cN\u00f3s temos a entrada e temos um percentual at\u00e9 alto de evas\u00e3o, especialmente nos cursos na \u00e1rea de ci\u00eancias exatas”. \ud83e\udd14 Mas o que explica isso? Sobre a queda no n\u00famero de inscritos, Cunha diz que a varia\u00e7\u00e3o \u00e9, de certa forma, normal. Como ocorre com qualquer carreira, dependendo do curso, \u201ch\u00e1 per\u00edodos em que voc\u00ea tem uma procura maior, h\u00e1 per\u00edodos em que voc\u00ea tem uma busca menor\u201d. O problema \u00e9 que o momento de baixa tem sido cada vez mais longo e frequente. J\u00e1 a evas\u00e3o, pode estar ligada \u00e0 dificuldade dos alunos nos primeiros per\u00edodos do curso, o que ocorre, principalmente, com quem veio da rede p\u00fablica, afirma o professor. Dessa forma, considerando a an\u00e1lise de Pedro Cunha, dois fatores principais podem estar associados a queda nos inscritos e \u00e0 desist\u00eancia dos alunos: Falta de perspectiva na profiss\u00e3o: \u201cQuem emprega professores no Brasil, na grande maioria dos casos, \u00e9 escola p\u00fablica. No estado de S\u00e3o Paulo tivemos um concurso em 2013 e outro em 2023. Isso significa que voc\u00ea tem um contingente muito grande de tempor\u00e1rios. Mas qual a condi\u00e7\u00e3o de trabalho? Isso acaba sendo algo que n\u00e3o incentiva\u201d, diz.Dificuldade para seguir o ritmo do curso: o n\u00famero de alunos que v\u00eam da rede p\u00fablica aumentou, o que \u00e9 bom, mas muitos deles podem encontrar dificuldades para acompanhar o ritmo da gradua\u00e7\u00e3o, pois n\u00e3o tiveram uma base de ensino consistente nos ensinos fundamental e m\u00e9dio \u2013 o que \u00e9 ainda pior para quem busca uma licenciatura em exatas. Em resumo, essa dificuldade com o ritmo do curso \u2013 o que faz com que a taxa de reprova\u00e7\u00e3o seja alta nos primeiros semestres \u2013 e o des\u00e2nimo com a carreira de professor no Brasil s\u00e3o elementos que desmotivam e podem fazer o aluno desistir da gradua\u00e7\u00e3o. \ud83d\ude37 E tem mais: com rela\u00e7\u00e3o aos dados dos \u00faltimos anos, o professor lembra que os n\u00fameros de evas\u00e3o foram afetados pela pandemia da Covid-19 que, ao afastar os estudantes da sala de aula e obrigar a realiza\u00e7\u00e3o de aulas remotas, atrapalhou a atua\u00e7\u00e3o dos futuros professores em escolas por meio de est\u00e1gios e outros programas \u2013 o que tamb\u00e9m explicaria a piora nos par\u00e2metros. Futuro sem professores? Nat\u00e1lia Fregonese, da Todos pela Educa\u00e7\u00e3o, pontua que esse cen\u00e1rio n\u00e3o \u00e9 exclusividade da Universidade Estadual de Campinas. Ela diz que a falta de interesse em estudar para ser professor vem crescendo a n\u00edvel nacional. \u201cA gente teve um aumento muito grande na ociosidade de vagas, ou seja, naquelas vagas que a institui\u00e7\u00e3o oferece, mas n\u00e3o s\u00e3o preenchidas\u201d. \u201cDe fato, a procura vem diminuindo ao longo dos anos, assim como a taxa de evas\u00e3o est\u00e1 crescendo. V\u00e1rios cursos da educa\u00e7\u00e3o superior t\u00eam uma taxa de evas\u00e3o alta, mas quando a gente olha para as licenciaturas, \u00e9 um cen\u00e1rio especialmente preocupante\u201d. \ud83c\udfc3 Um artigo publicado em 2023 no Jornal da Universidade de S\u00e3o Paulo (USP) apontou que em alguns cursos de licenciatura, como matem\u00e1tica, f\u00edsica, ci\u00eancias exatas, ci\u00eancias da natureza e educomunica\u00e7\u00e3o, a taxa de evas\u00e3o chega a 30%, acima da m\u00e9dia geral de 17% em outras gradua\u00e7\u00f5es. Ainda de acordo com a especialista, a falta de atratividade da profiss\u00e3o tem tirado a doc\u00eancia da lista de carreiras de interesse entre os jovens. \u201cEu acho que esse risco \u00e9 real olhando para o cen\u00e1rio que a gente tem hoje. A gente j\u00e1 tem falta de professores com forma\u00e7\u00e3o adequada para algumas disciplinas em algumas regi\u00f5es. Isso j\u00e1 est\u00e1 acontecendo atualmente e pode piorar no futuro\u201d. \ud83c\udf93 A representante da Todos pela Educa\u00e7\u00e3o ainda listou os elementos que podem estar associados ao desinteresse na carreira: Condi\u00e7\u00f5es de trabalho desafiadoras: escolas precarizadas, poucos professores para muitos alunos e inseguran\u00e7a;Sal\u00e1rios baixos: na compara\u00e7\u00e3o com outras carreiras, tende a pagar pouco, apesar de exigir forma\u00e7\u00e3o maior;Falta de estabilidade: poucos concursos e muitas vagas tempor\u00e1rias;Pouca divulga\u00e7\u00e3o das boas oportunidades: alguns munic\u00edpios j\u00e1 oferecem vagas mais atrativas, mas poucos candidatos ficam sabendo. \u201cA carreira docente ainda \u00e9 vista como essa carreira que paga mal, que em todo lugar tem condi\u00e7\u00f5es ruins […] ent\u00e3o, voc\u00ea acaba optando por cursos que oferecem uma carreira mais est\u00e1vel, com uma remunera\u00e7\u00e3o melhor. Voc\u00ea pode fazer um curso t\u00e9cnico, um tecn\u00f3logo menor que um curso de licenciatura, mas que vai ter uma carreira um pouco mais estabilizada, ganhando um pouco mais\u201d. V\u00cdDEOS: Tudo sobre Campinas e Regi\u00e3o <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
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