{"id":45850,"date":"2024-12-24T06:20:00","date_gmt":"2024-12-24T09:20:00","guid":{"rendered":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/papas-e-jubileus-a-abertura-da-porta-santa-na-historia\/"},"modified":"2024-12-24T06:20:00","modified_gmt":"2024-12-24T09:20:00","slug":"papas-e-jubileus-a-abertura-da-porta-santa-na-historia","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/papas-e-jubileus-a-abertura-da-porta-santa-na-historia\/","title":{"rendered":"Papas e Jubileus: a abertura da Porta Santa na hist\u00f3ria"},"content":{"rendered":"

A partir do Ano Santo de 1900, atrav\u00e9s das cr\u00f4nicas do L’Osservatore Romano e dos arquivos sonoros da R\u00e1dio Vaticano, reconstitu\u00edmos alguns momentos das cerim\u00f4nias de abertura da Porta Santa. Palavras rituais e momentos de sil\u00eancio e emo\u00e7\u00e3o nos quais o Pont\u00edfice, sozinho e em primeiro lugar, atravessa a Porta e abre o Jubileu. Amedeo Lomonaco \u2013 Vatican News Uma das imagens simb\u00f3licas de todo Jubileu \u00e9 a do Pont\u00edfice cruzando o limiar da Porta Santa. Essa \u00e9 uma imagem que est\u00e1 profundamente enraizada na Idade M\u00e9dia. O primeiro peregrino a cruzar a porta \u00e9 sempre o bispo de Roma. De acordo com a descri\u00e7\u00e3o feita em 1450 por Giovanni Rucellai da Viterbo, foi o Papa Martinho V, em 1423, que abriu a Porta Santa pela primeira vez na hist\u00f3ria dos anos jubilares. Naquela ocasi\u00e3o, o pano de fundo foi a Bas\u00edlica de S\u00e3o Jo\u00e3o de Latr\u00e3o. Na Bas\u00edlica do Vaticano, a abertura da Porta Santa foi registrada pela primeira vez no Natal de 1499. O Papa Alexandre VI queria que ela fosse aberta n\u00e3o apenas em S\u00e3o Jo\u00e3o de Latr\u00e3o, mas tamb\u00e9m nas outras bas\u00edlicas romanas. \u201cEu sou a porta: se algu\u00e9m entrar por mim, ser\u00e1 salvo; entrar\u00e1 e sair\u00e1 e encontrar\u00e1 pastagem\u201d (do Evangelho segundo Jo\u00e3o).\u201d A abertura da Porta Santa A abertura da Porta Santa, pelo Papa, marca o in\u00edcio do Jubileu. O Ano Santo de 2025, que est\u00e1 prestes a come\u00e7ar, inclui, ap\u00f3s esse rito, a celebra\u00e7\u00e3o da Santa Missa, na noite do Natal do Senhor, dentro da Bas\u00edlica do Vaticano. A parede que sela a Porta por dentro foi desmontada nos \u00faltimos dias e a caixa de metal, que continha a chave que permite a abertura da Porta, foi retirada. O Papa empurra suas portas de forma simb\u00f3lica e, por motivos de seguran\u00e7a, o uso do martelo usado para bater no diafragma de tijolos que antes a fechava no lado externo da Bas\u00edlica foi abandonado. Ap\u00f3s o rito presidido pelo Papa, a Porta permanece aberta durante todo o ano para permitir a passagem dos peregrinos. Com esse gesto, \u00e9 poss\u00edvel vivenciar plenamente a indulg\u00eancia ligada ao Ano Santo. Cruzar esse limiar tamb\u00e9m significa que o caminho de convers\u00e3o de uma pessoa \u00e9 selada pelo encontro com Cristo, a \u201cPorta\u201d que nos une ao Pai. Os Jubileus fazem parte de uma profunda hist\u00f3ria de f\u00e9 que abre suas portas para o mundo. Uma caminhada na qual os passos do Pont\u00edfice se unem aos do povo de Deus, nas estradas do perd\u00e3o. Percorremos os Anos Santos do s\u00e9culo XX e do terceiro mil\u00eanio. Os dois lados da Porta Santa em S\u00e3o Pedro antes da abertura (foto de arquivo). O Jubileu de 1900 Superar o desafio da moderniza\u00e7\u00e3o. Esse foi um dos principais objetivos do Jubileu de 1900. 24 de dezembro de 1899 \u00e9 o dia da abertura da Porta Santa. Desde as primeiras horas da manh\u00e3, escreve o L\u2019Osservatore Romano em sua edi\u00e7\u00e3o de Natal, v\u00ea-se \u201cuma anima\u00e7\u00e3o incomum\u201d de todas as partes da cidade. Carruagens elegantes, de cardeais, bispos, diplomatas e pr\u00edncipes, est\u00e3o se dirigindo \u201cao maior templo do cristianismo\u201d. Muitos peregrinos tamb\u00e9m chegam a p\u00e9 ou em carros \u201comnibus\u201d para o servi\u00e7o p\u00fablico. Na pra\u00e7a, o espet\u00e1culo se torna \u201cimponente devido ao fluxo de carruagens dos vilarejos em frente \u00e0 Bas\u00edlica\u201d. O Papa Le\u00e3o XIII \u201cprimeiro e sozinho\u201d atravessa a Porta e entra na Bas\u00edlica. Ap\u00f3s o t\u00e9rmino do servi\u00e7o, as entradas s\u00e3o abertas, permitindo que os fi\u00e9is entrem. O Ano Santo de 1925 Em 24 de dezembro de 1924, v\u00e9spera de Natal, \u201ca abertura da Porta Santa na Bas\u00edlica do Vaticano foi realizada pelas m\u00e3os de Pio XI\u201d. Com a fun\u00e7\u00e3o solene, escreve o jornal da Santa S\u00e9 relatando aquele dia, \u201co Ano Santo come\u00e7ou\u201d. O rito ocorre no p\u00f3rtico da Bas\u00edlica de S\u00e3o Pedro: \u00e0 esquerda da Porta Santa est\u00e1 o Trono Papal em frente \u00e0s tribunas reais. No final do p\u00f3rtico est\u00e1 o coro da Capela Musical Pontif\u00edcia. Em frente \u00e0 est\u00e1tua de Constantino, antes de entrar no p\u00f3rtico da Bas\u00edlica, o Pont\u00edfice sobe na cadeira gestat\u00f3ria, encimada pelo baldaquino. Ap\u00f3s o canto do \u201cVeni Creator\u201d, Pio XI se aproxima da Porta Santa e, recebendo o martelo doado pelo episcopado do mundo cat\u00f3lico, bate tr\u00eas vezes na Porta Santa, pronunciando as palavras rituais. Em seguida, ele cruza a Porta e o Jubileu come\u00e7a. Pio XI abre o Jubileu de 1925 (\u00a9 Biblioteca do Vaticano). O Jubileu de 1933 No 1900\u00ba anivers\u00e1rio da morte de Jesus, foi proclamado um Jubileu extraordin\u00e1rio. No Ano Santo de 1933, mais de dois milh\u00f5es de peregrinos chegaram a Roma. Em 3 de abril daquele ano, a abertura da Porta Santa marcou o in\u00edcio do Jubileu da Reden\u00e7\u00e3o. Durante todo o dia, segundo o L’Osservatore Romano, \u201ca aflu\u00eancia a S\u00e3o Pedro, S\u00e3o Jo\u00e3o, S\u00e3o Paulo e Santa Maria Maior foi enorme\u201d. Poucas horas ap\u00f3s a cerim\u00f4nia de abertura, Pio XI recebeu, em uma audi\u00eancia especial, 500 peregrinos da arquidiocese de Mil\u00e3o, que tinham vindo a Roma para assistir \u00e0 abertura da Porta Santa. Naquela primeira peregrina\u00e7\u00e3o do Ano Santo, lembra o jornal di\u00e1rio da Santa S\u00e9, havia \u201crepresentantes das mais diversas atividades de trabalho\u201d, incluindo trabalhadores ferrovi\u00e1rios, funcion\u00e1rios de escrit\u00f3rio e eletricistas. Ano Santo de 1950 Estamos em 24 de dezembro de 1949. O mundo crist\u00e3o, como o L’Osservatore Romano destaca na primeira p\u00e1gina no dia de Natal, \u201cregozija-se com o dom excepcional da gra\u00e7a\u201d: o Papa Pio XII abre a Porta Santa com tr\u00eas golpes de martelo. O Pont\u00edfice veste a “falda”, uma grande t\u00fanica de seda branca, o sobrepeliz, a estola, o manto e a mitra branca. Precedido pelo Sacro Col\u00e9gio, ele se dirige primeiro \u00e0 Capela Sistina para a adora\u00e7\u00e3o ao Sant\u00edssimo Sacramento. Em seguida, ele entoa o hino \u201cVeni Creator\u201d e desce, pela Scala Regia, at\u00e9 a est\u00e1tua de Constantino. Pio XII abre o Jubileu de 1950 – (arquivo hist\u00f3rico da F\u00e1brica de S\u00e3o Pedro). Pio XII entra ent\u00e3o no p\u00f3rtico da Bas\u00edlica e recebe o martelo. Pela primeira vez, ele bate na Porta Santa cantando o verso: \u201cAperite mihi portas Justitiae\u201d. Em seguida, o Pont\u00edfice bate na Porta pela segunda vez, cantando \u201cIntroibo in domum tuam, Domine\u201d. O pr\u00f3ximo golpe de martelo \u00e9 acompanhado pelas palavras: \u201cAperite portas quoniam nobiscum est Deus\u201d. Ap\u00f3s esse terceiro golpe, a parede da Porta Santa cai. O Pont\u00edfice, que segura uma vela que simboliza a f\u00e9 e a caridade em sua m\u00e3o esquerda, avan\u00e7a com a cabe\u00e7a descoberta e entoa o \u201cTe Deum\u201d. O Papa Pacelli cruza a porta primeiro. S\u00e3o 10h55 da manh\u00e3 e o Jubileu \u00e9 aberto. Da Pra\u00e7a de S\u00e3o Pedro vem o eco de um estrondoso aplauso. Na Capela da Sant\u00edssima Trindade, Pio XII dirigiu ent\u00e3o um discurso aos representantes das Arquiconfrarias e Confrarias da Cidade: \u201cSegundo um antigo costume, confiamos a voc\u00eas, amados filhos, a cust\u00f3dia das Portas Santas durante o Ano Jubilar que acaba de come\u00e7ar. Assim, voc\u00eas ter\u00e3o a oportunidade de serem testemunhas imediatas de um desses momentos privilegiados de gra\u00e7a, nos quais a Cidade Eterna e o universo cat\u00f3lico se encontram unidos no beijo fraterno da paz de Cristo\u201d. Primeira p\u00e1gina do L’Osservatore Romano sobre a abertura do Jubileu em 1950. O Jubileu de 1975 O Ano Santo de 1975 foi dedicado \u00e0 reconcilia\u00e7\u00e3o. O rito de abertura da Porta Santa, na noite de Natal de 1974, come\u00e7ou com a entrada do Papa Paulo VI, precedido pelo clero ministrante, no \u00e1trio da Bas\u00edlica. Ap\u00f3s o canto de invoca\u00e7\u00e3o ao Esp\u00edrito Santo, o L’Osservatore Romano recorda que, naquele dia, o Pont\u00edfice se aproximou da Porta Santa. O cardeal Penitenci\u00e1rio-Mor lhe entrega o martelo. Paulo VI d\u00e1 tr\u00eas golpes na Porta e canta, alternando com a assembleia, os versos que se abrem com as palavras: \u201cAbri-me as portas da justi\u00e7a\u201d. Quando o c\u00e2ntico termina, o Papa retorna \u00e0 C\u00e1tedra e, nesse momento, a Porta Santa \u00e9 removida. As ombreiras s\u00e3o banhadas com \u00e1gua aben\u00e7oada pelos quatro penitenci\u00e1rios da Bas\u00edlica do Vaticano. Em seguida, a Schola entoa um Salmo e o Pont\u00edfice canta a antiga ora\u00e7\u00e3o \u201cDeus qui per Moysem\u201d. O Papa se ajoelha na soleira da Porta Santa e, segurando a Cruz Pastoral em sua m\u00e3o, cruza a Porta. No momento da abertura, como pode ser visto no v\u00eddeo da \u00e9poca, alguns escombros ca\u00edram do alto, atingindo de rasp\u00e3o Paulo VI, felizmente sem nenhuma consequ\u00eancia. A circunst\u00e2ncia levou a uma mudan\u00e7a no rito e, desde ent\u00e3o, a parede que fechava a porta foi constru\u00edda dentro da Bas\u00edlica. O Papa Paulo VI abre o Jubileu de 1975 (Arquivos Hist\u00f3ricos de S\u00e3o Pedro). Ano Santo de 1983 Em 1983 foi celebrado o Jubileu da Reden\u00e7\u00e3o, uma ponte para o terceiro mil\u00eanio. Jo\u00e3o Paulo II convocou o mundo cat\u00f3lico a celebrar esse Ano Santo para comemorar o evento da morte e ressurrei\u00e7\u00e3o do Senhor. Em 25 de mar\u00e7o, solenidade da Anuncia\u00e7\u00e3o do Senhor, Jo\u00e3o Paulo II inaugurou o Ano Santo seguindo o rito tradicional da abertura da Porta Santa, localizada no \u00e1trio da Bas\u00edlica de S\u00e3o Pedro. Este \u00e9 um Jubileu extraordin\u00e1rio porque est\u00e1 sendo celebrado fora do ciclo de 25 anos. Em sua homilia durante a cerim\u00f4nia de abertura, o Papa Wojty\u0142a lembrou que a Porta \u00e9 \u201cum s\u00edmbolo\u201d pelo qual se entra n\u00e3o apenas na Bas\u00edlica do Vaticano, mas \u201cna dimens\u00e3o mais sagrada da Igreja, na dimens\u00e3o da gra\u00e7a e da salva\u00e7\u00e3o que ela sempre extrai do Mist\u00e9rio da Reden\u00e7\u00e3o\u201d. Jubileu do Ano 2000 Na noite de Natal, 24 de dezembro de 1999, Jo\u00e3o Paulo II, envolto em um manto de cores, abriu as portas para o Grande Jubileu do Ano 2000. No longo sil\u00eancio que acompanha os gestos do pont\u00edfice, a hist\u00f3ria de dois mil\u00eanios parece condensada. Ajoelhado, com as m\u00e3os postas na cruz, o Papa Wojty\u0142a abre o Ano Santo. \u00c9 o alvorecer do terceiro mil\u00eanio. A abertura do Ano Santo em 2000. Os olhos do mundo, fixos naqueles dezesseis pain\u00e9is de bronze que comp\u00f5em a Porta Santa, se iluminam de esperan\u00e7a. Jo\u00e3o Paulo II, precedido pelos cardeais concelebrantes, chega \u00e0 C\u00e1tedra para abrir a solene celebra\u00e7\u00e3o. Ap\u00f3s o canto do Evangelho, o Papa caminha em dire\u00e7\u00e3o \u00e0 Porta Santa e, chegando diante dela, diz em latim: \u201cEsta \u00e9 a porta do Senhor\u201d. Com passos lentos, Jo\u00e3o Paulo II segue em dire\u00e7\u00e3o \u00e0 Porta, que ele abre \u00e0s 23h25min. Esses s\u00e3o momentos de grande emo\u00e7\u00e3o: o Pont\u00edfice se ajoelha na soleira da porta e faz uma pausa em ora\u00e7\u00e3o por alguns minutos. Um aplauso prolongado come\u00e7a com a assembleia reunida em S\u00e3o Pedro e no \u00e1trio. Do lado de fora, na Pra\u00e7a de S\u00e3o Pedro, mais de cinquenta mil pessoas acompanham o evento nos tel\u00f5es localizados nos v\u00e1rios cantos do hemiciclo de Bernini. E, em todo o mundo, milh\u00f5es e milh\u00f5es de pessoas se sintonizaram para acompanhar o Papa cruzando aquele limiar. Jo\u00e3o Paulo II abre o Jubileu de 2000 (foto de arquivo) Ano Santo de 2015 A abertura do Jubileu Extraordin\u00e1rio da Miseric\u00f3rdia de 2015, no 50\u00ba anivers\u00e1rio do final do Conc\u00edlio Vaticano II, est\u00e1 ligada a duas datas: a de 29 de novembro, dia em que o Papa Francisco abre a Porta Santa da Catedral de Notre-Dame em Bangui, por ocasi\u00e3o de sua viagem apost\u00f3lica \u00e0 \u00c1frica, e a de 8 de dezembro, de 2015. No dia da Solenidade da Imaculada Concei\u00e7\u00e3o, a silhueta iluminada do Papa Francisco, filmada em todo o mundo, rompe a meia-luz na qual a Bas\u00edlica do Vaticano est\u00e1 imersa. A abertura da Porta Santa, relata o L’Osservatore Romano, segue um rito antigo, rico em s\u00edmbolos, caracterizado por uma imagem sem precedentes: a de Francisco e seu antecessor Bento XVI, naquele momento Papa Em\u00e9rito, que cruzam \u201co limiar um ap\u00f3s o outro, n\u00e3o antes de trocar um abra\u00e7o afetuoso no \u00e1trio\u201d. O Papa Francisco abre o Jubileu de 2015. O Jubileu \u00e9 uma d\u00e1diva de gra\u00e7a. O Ano Santo de 2025, que est\u00e1 prestes a come\u00e7ar, est\u00e1 em continuidade com esses tempos especiais de gra\u00e7a, cujas origens est\u00e3o ligadas ao s\u00e9culo XIV e ao pontificado de Bonif\u00e1cio VIII. \u201cAgora\u201d, enfatiza o Papa Francisco na Bula de Indica\u00e7\u00e3o \u2018Spes non confundit\u2019, \u2018chegou a hora de um novo Jubileu, no qual abrir novamente a Porta Santa para oferecer a experi\u00eancia viva do amor de Deus, que desperta no cora\u00e7\u00e3o a esperan\u00e7a certa da salva\u00e7\u00e3o em Cristo\u2019. 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