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As disputas do evento esportivo para crian\u00e7as e jovens com defici\u00eancia considerado o maior do mundo no g\u00eanero come\u00e7aram nesta quarta-feira (27), em S\u00e3o Paulo. Realizadas desde 2006 pelo Comit\u00ea Paral\u00edmpico Brasileiro (CPB), as Paralimp\u00edadas Escolares de 2024 re\u00fanem 2.013 atletas-alunos (um recorde) representando os 26 estados do pa\u00eds e o Distrito Federal. Eles disputam medalhas em 13 modalidades at\u00e9 a pr\u00f3xima sexta-feira (29), no Centro de Treinamento Paral\u00edmpico.![](\"https:\/\/agenciabrasil.ebc.com.br\/ebc.png?id=1621470&o=rss\")
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O atletismo \u00e9 a modalidade com mais competidores (1.010). Entre eles, o \u00fanico estrangeiro do evento. Nascido em San F\u00e9lix, cidade venezuelana a mais de 600 quil\u00f4metros da capital Caracas, Jorge Tortoledo teve meningite na inf\u00e2ncia, que atingiu sua locomo\u00e7\u00e3o. Ele e a fam\u00edlia vieram ao Brasil em 2019, como refugiados, em busca de uma cirurgia para tratar as sequelas da doen\u00e7a. Tr\u00eas anos depois, quando ainda vivia em um abrigo em Boa Vista, foi apresentado ao esporte paral\u00edmpico, o que, segundo ele, foi decisivo para permanecer no pa\u00eds.<\/p>\n<\/p>\n
\u201cComecei no basquete, por poder usar a cadeira [de rodas] e correr. Um dia, o professor Vin\u00edcius [Denardin, coordenador do Centro de Refer\u00eancia Paral\u00edmpico de Roraima] me chamou, disse que poderia funcionar melhor no atletismo, pois eu era veloz. A\u00ed fui para o atletismo, treinei s\u00f3 um m\u00eas e j\u00e1 me convocaram para viajar [para as Paralimp\u00edadas Escolares de 2022, tamb\u00e9m em S\u00e3o Paulo]. Fiquei assustado, nunca tinha viajado de avi\u00e3o, mas logo no primeiro campeonato ganhei dois ouros. Gra\u00e7as a Deus conheci aqui [no Brasil] o esporte. Na Venezuela, n\u00e3o tinha nada disso\u201d, contou Jorge, de 17 anos e que compete nas classes F34 (arremesso de peso para atletas que competem sentados) e T34 (provas de pista para cadeirantes).<\/p>\n
A delega\u00e7\u00e3o do estado conta ainda com Carlos Elielson da Silva, ind\u00edgena do povo Wapichana, que se concentra principalmente em Roraima e na Guiana. Segundo o Sistema de Informa\u00e7\u00e3o da Aten\u00e7\u00e3o \u00e0 Sa\u00fade Ind\u00edgena (Siasi), cerca de 11 mil indiv\u00edduos da etnia vivem no territ\u00f3rio brasileiro. O jovem, de tamb\u00e9m 17 anos, mora na comunidade Tabalascada, em Cant\u00e1 (RR), a 30 quil\u00f4metros de Boa Vista. Ele foi acometido, ao nascimento, por uma paralisia cerebral, que afetou o lado esquerdo do seu corpo.<\/p>\n
\u201cNa comunidade do Carlos, os professores de Educa\u00e7\u00e3o F\u00edsica souberam que ter\u00edamos uma competi\u00e7\u00e3o em Boa Vista e o levaram com outros alunos para participarem e conhecerem o movimento paral\u00edmpico. O Carlos logo teve resultados no atletismo e conseguiu classifica\u00e7\u00e3o para as Paralimp\u00edadas Escolares. \u00c9 a primeira competi\u00e7\u00e3o nacional dele, est\u00e1 um pouco nervoso, mas na hora da pr\u00e1tica, com certeza, vai desempenhar\u201d, projetou Vin\u00edcius, que tamb\u00e9m \u00e9 chefe da equipe de Roraima no evento.<\/p>\n
\u201c\u00c9 minha primeira vez saindo do estado. \u00c9 um pouco estranho, acho que porque a cidade [S\u00e3o Paulo] \u00e9 grande. Se for ao p\u00f3dio, trouxe a bandeira da minha escola [Estadual Ind\u00edgena Professor Ednilson Lima Cavalcante]. Meu sonho \u00e9 seguir em frente e viajar por muitos lugares\u201d, declarou Carlos, que est\u00e1 nas classe F37 (arremesso de peso) e T37 (provas de pista), ambas para atletas com paralisia cerebral.<\/p>\n
As Paralimp\u00edadas Escolares s\u00e3o a porta de entrada de jovens atletas com defici\u00eancia ao mundo do alto rendimento. Pela competi\u00e7\u00e3o, passaram muitos que n\u00e3o apenas foram a uma Paralimp\u00edada, mas conquistaram medalhas no megaevento. Casos do paraibano Petr\u00facio Ferreira, velocista tricampe\u00e3o paral\u00edmpico dos 100 metros da classe T47 (amputados de bra\u00e7o), do brasiliense Leomon Moreno, ouro em T\u00f3quio (Jap\u00e3o) no goalball (esporte desenvolvido para deficientes visuais), e do mineiro Gabriel Ara\u00fajo, o Gabrielzinho, nadador da classe S2 (para atletas com comprometimento f\u00edsico-motor severo) que j\u00e1 acumula cinco douradas nos Jogos, tr\u00eas delas obtidas este ano em Paris.<\/p>\n
Inclusive, na edi\u00e7\u00e3o deste ano da competi\u00e7\u00e3o escolar est\u00e1 justamente um dos medalhistas brasileiros na capital francesa. Bronze no revezamento 4×100 metros livre da classe S14 (defici\u00eancia intelectual), o mineiro Arthur Xavier, de 17 anos, participa do evento em S\u00e3o Paulo pela terceira vez.<\/p>\n
\u201c\u00c9 superlegal ver o p\u00fablico que me acompanhou, que torceu por mim, rever amigos de outros estados e competir, claro. Acho que sou mais visado [pelos advers\u00e1rios] por ter essa Paralimp\u00edada na carreira, bate uma press\u00e3ozinha, mas tem que acostumar n\u00e9? \u00c9 importante [participar] pelos jovens atletas que est\u00e3o come\u00e7ando agora. Servir de inspira\u00e7\u00e3o, para que nunca desistam dos sonhos\u201d, declarou Arthur.<\/p>\n
O pernambucano Wagner Leonardo da Silva teve a experi\u00eancia de competir na raia vizinha a de Arthur, na prova dos 100 metros costas, que reuniu atletas com diferentes defici\u00eancias. Atleta da classe S9 (limita\u00e7\u00e3o f\u00edsico-motora menos severa), ele participa das Paralimp\u00edadas Escolares pela quarta vez. Devido a uma osteomielite (infec\u00e7\u00e3o \u00f3ssea), o nadador tinha uma perna menor que a outra. Este ano passou por uma cirurgia para amputar o membro inferior acometido pela doen\u00e7a.<\/p>\n
\u201cO cara [Arthur] \u00e9 uma lenda, uma m\u00e1quina. Tentei acompanhar, mas n\u00e3o deu certo n\u00e3o [risos]\u201d, brincou Wagner.<\/p>\n
A delega\u00e7\u00e3o de S\u00e3o Paulo \u00e9 a maior desta edi\u00e7\u00e3o das Paralimp\u00edadas Escolares, com 305 representantes. O estado \u00e9 tanto o atual campe\u00e3o por equipes como o maior vencedor (11 t\u00edtulos) do evento. Minas Gerais (176), Santa Catarina (159), Esp\u00edrito Santo (115) e Mato Grosso do Sul (101) completam o top-5 dos times com mais atletas. Na outra ponta, a Bahia veio com apenas nove competidores \u00e0 capital paulista.<\/p>\n
Al\u00e9m de atletismo e nata\u00e7\u00e3o, outras 11 modalidades est\u00e3o em disputa no Centro de Treinamento Paral\u00edmpico: basquete em cadeira de rodas (realizado no formato 3×3 ao inv\u00e9s do tradicional 5×5), badminton, bocha, futebol de cegos, futebol de paralisados cerebrais (PC), goalball, halterofilismo, jud\u00f4, t\u00eanis de mesa, t\u00eanis em cadeira de rodas e v\u00f4lei sentado.<\/p>\n
\u201cNas Paralimp\u00edadas Escolares, conseguimos detectar diferentes talentos de diferentes regi\u00f5es. Falamos de uma comunidade ind\u00edgena no extremo Norte do pa\u00eds, mas tamb\u00e9m temos alunos do Sul, do Nordeste, Centro-Oeste… Alguns v\u00eam com a perspectiva da inicia\u00e7\u00e3o, outros para descobrirem o esporte, mas, depois que saem com a medalha no peito, voltam para seus estados para trabalharem, treinarem, quem sabe ingressarem em uma sele\u00e7\u00e3o de jovens, depois de adultos e darem orgulho ao pa\u00eds. \u00c9 inevit\u00e1vel que tenhamos cada vez mais sucesso no movimento paral\u00edmpico\u201d, concluiu Vin\u00edcius, de Roraima.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
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