A advogada de Dominique Pelicot, o homem julgado na Fran\u00e7a por ter submetido sua esposa, sob efeito de medicamentos, a estupros cometidos por ele pr\u00f3prio e outras dezenas de homens, alegou, nesta quarta-feira (27), que seu cliente tamb\u00e9m \u00e9 um “bom pai e bom av\u00f4”. Por pouco mais de uma hora, a advogada B\u00e9atrice Zavarro tentou explicar as raz\u00f5es pelas quais seu cliente se tornou o “regente de orquestra” \u2014 nas suas palavras \u2014 dos abusos contra sua agora ex-esposa Gis\u00e8le, cometidos durante uma d\u00e9cada na resid\u00eancia do casal. Durante sua interven\u00e7\u00e3o perante o tribunal penal de Vaucluse, no sul da Fran\u00e7a, Zavarro, que iniciou sua fala expressando seu “profundo respeito” por Gis\u00e8le Pelicot, destacou a parte humana do “outro Dominique”, o “bom pai e av\u00f4”. “Dominique Pelicot n\u00e3o \u00e9 o pior inimigo de Dominique Pelicot?”, perguntou, propondo \u00e0 corte que se distanciasse “um pouco da peti\u00e7\u00e3o mais forte da acusa\u00e7\u00e3o”. Outras penas Ap\u00f3s pedir, na segunda-feira, a pena m\u00e1xima de 20 anos para Pelicot, principal acusado e considerado o instigador dos fatos durante uma d\u00e9cada, o promotor anunciou, nesta quarta, as penas que faltava solicitar. O Minist\u00e9rio P\u00fablico franc\u00eas pediu penas de quatro a 20 anos de pris\u00e3o contra os 51 acusados no julgamento. A menor foi para Joseph C., de 69 anos, que s\u00f3 \u00e9 acusado de agress\u00e3o sexual, enquanto todas as demais oscilam entre dez e 18 anos de pris\u00e3o. A Promotoria pediu dez anos de pris\u00e3o para onze acusados, 11 anos para dois, 12 anos para treze, 13 anos para seis, 14 anos para outros seis, 15 anos para tr\u00eas, 16 anos para quatro, 17 anos para tr\u00eas e 18 anos para o \u00faltimo, um dos quatro homens que foi seis vezes \u00e0 resid\u00eancia do casal Pelicot para estuprar Gis\u00e8le. Gis\u00e8le Pelicot comparece a audi\u00eancia do julgamento, iniciado em setembro \u2014 Foto: Reuters A advogada B\u00e9atrice Zavarro lembrou os traumas que Dominique Pelicot sofreu na inf\u00e2ncia, antes de cair na “perversidade”, uma “engrenagem” que o levou a drogar, violentar e fazer estuprar sua esposa em sua casa no sul da Fran\u00e7a. “N\u00e3o se nasce pervertido, torna-se”, afirmou, repetindo uma frase usada por seu cliente durante seu primeiro interrogat\u00f3rio ante o tribunal. “Esta frase \u00e9 dita pelo outro Dominique, pelo qual advogo hoje”, disse a advogada. “Este outro Dominique \u00e9 dotado de certa perversidade, mas antes disso h\u00e1 um homem”, acrescentou, antes de lembrar do “ambiente familiar nocivo” onde cresceu, como um pai “autorit\u00e1rio, tir\u00e2nico”. A advogada tamb\u00e9m citou as duas agress\u00f5es sexuais que Dominique Pelicot diz ter sofrido na juventude: quando um enfermeiro o violentou durante uma interna\u00e7\u00e3o hospitalar ainda crian\u00e7a e quando ele foi for\u00e7ado a participar do estupro de uma jovem. As peti\u00e7\u00f5es de pena do Minist\u00e9rio P\u00fablico s\u00e3o significativamente mais severas que a m\u00e9dia de condena\u00e7\u00f5es por estupro na Fran\u00e7a, que foi de 11,1 anos em 2022, segundo o Minist\u00e9rio da Justi\u00e7a. Quando expuseram seus argumentos finais na segunda-feira, os dois representantes da Promotoria advertiram que “a aus\u00eancia de consentimento [de Gis\u00e8le Pelicot] n\u00e3o podia ser ignorada pelos acusados”. A v\u00edtima, atualmente com 71 anos, esteve presente nas audi\u00eancias de pedidos de senten\u00e7as, assim como fez ao longo de todo o julgamento, buscando sensibilizar a sociedade sobre os estupros mediante submiss\u00e3o qu\u00edmica. O julgamento ganhou repercuss\u00e3o mundial pelo n\u00famero de estupros, mas tamb\u00e9m pelo perfil dos acusados, com idades entre 26 e 74 anos, e ocupa\u00e7\u00f5es que abrangem um amplo leque de atividades, incluindo bombeiro e jornalista. <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
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