Na natureza, sobreviver exige habilidade. Imagine um pequeno r\u00e9ptil que, quando amea\u00e7ado, n\u00e3o aposta corrida em terra firme, mas desafia as leis da gravidade e desliza sobre a \u00e1gua como um atleta de patina\u00e7\u00e3o art\u00edstica. Esse \u00e9 o lagarto basilisco (Basiliscus basiliscus), chamado por alguns pesquisadores de \u2018Jesus\u2019. O apelido vem, claramente, da sua habilidade impressionante de correr sobre a \u00e1gua, uma refer\u00eancia ao milagre b\u00edblico. Capaz de atingir a velocidade de 3 metros por segundo na superf\u00edcie l\u00edquida, o r\u00e9ptil possui uma membrana nas patas que o ajuda a flutuar na superf\u00edcie aquosa. Al\u00e9m do formato corporal favorecer o deslocamento, as patas traseiras possuem dedos alongados e uma membrana que ajuda a “sustentar” o corpo na \u00e1gua. \u201cA resist\u00eancia da \u00e1gua causada pela tens\u00e3o superficial, que s\u00e3o as liga\u00e7\u00f5es de hidrog\u00eanio, fazem com que ele n\u00e3o afunde imediatamente. Essa tens\u00e3o superficial \u00e9 t\u00edpica da \u00e1gua em condi\u00e7\u00f5es naturais. O predador que vem atr\u00e1s dele n\u00e3o consegue acompanhar ele por cima da \u00e1gua por conta da tens\u00e3o, porque geralmente o predador \u00e9 maior, mais pesado, e termina afundando e desistindo do ataque\u201d, explica o herpet\u00f3logo Willianilson Pessoa. Willianilson explica que, semelhante a uma moto quando empina, o corpo do lagarto realiza uma \u201ctra\u00e7\u00e3o traseira\u201d, fazendo com que ele se mantenha em p\u00e9. Seu corpo, quando est\u00e1 ereto, serve como resist\u00eancia para o ar. Al\u00e9m disso, possui escamas modificadas na cabe\u00e7a e no dorso que servem como uma esp\u00e9cie de \u201cvela\u201d para ajudar a controlar o ar. Lagarto possui escamas modificadas na cabe\u00e7a e no dorso que ajudam a controlar o ar. \u2014 Foto: lewisbholmes\/iNaturalist \u201c\u00c9 uma t\u00e1tica de defesa que a maioria dos predadores, mesmo que eles nadem, ter\u00e3o mais dificuldade do que o bicho, n\u00e9? O bicho tem uma cauda que ajuda a nadar, ent\u00e3o o basilisco nem sempre ele vai atravessar o rio correndo\u201d, diz o especialista em r\u00e9pteis. Este lagarto consegue percorrer dist\u00e2ncias curtas sobre a \u00e1gua, geralmente suficientes para atravessar pequenos riachos ou despistar predadores. Essa habilidade \u00e9 limitada pela energia acumulada no corpo, que \u00e9 otimizada para movimentos r\u00e1pidos e explosivos, mas n\u00e3o sustentados. Por ser um animal de sangue frio, o basilisco depende de fontes externas de calor para manter a energia necess\u00e1ria, o que significa que ele n\u00e3o pode correr por longos per\u00edodos antes de se cansar. Essa estrat\u00e9gia, no entanto, \u00e9 suficiente para garantir sua sobreviv\u00eancia nos ambientes. \u201cEle corre uma certa dist\u00e2ncia. Se for uma po\u00e7a d\u2019\u00e1gua, um riacho, ele talvez consiga atravessar, mas se for um corpo d’\u00e1gua muito maior como um rio, talvez ele n\u00e3o consiga atravessar\u201d, informa Willianilson. R\u00e9ptil pode ser encontrado em \u00e1rvores e tamb\u00e9m no ch\u00e3o das florestas. \u2014 Foto: Steve Rushing\/iNaturalist Mas n\u00e3o se engane, correr sobre a \u00e1gua n\u00e3o \u00e9 a \u00fanica \u201ccarta na manga\u201d deste lagarto, que tamb\u00e9m \u00e9 um excelente nadador. Quando come\u00e7a a perder velocidade, o basilisco passa a usar as quatro patas para se locomover, ficando parcialmente submerso. Nessa posi\u00e7\u00e3o, ele movimenta as patas para nadar e seguir seu percurso. No total, a esp\u00e9cie \u00e9 capaz de permanecer na \u00e1gua por mais de 10 minutos, demonstrando tamb\u00e9m uma incr\u00edvel adapta\u00e7\u00e3o ao ambiente aqu\u00e1tico. O lagarto pode ser encontrado em florestas tropicais na Am\u00e9rica Central e do Sul, sempre pr\u00f3ximos a rios e riachos, onde podem se valer da agilidade para despistar amea\u00e7as. Apesar de tropical, a esp\u00e9cie n\u00e3o ocorre no Brasil. \u00c9 um r\u00e9ptil de h\u00e1bitos diurnos, sendo encontrado em \u00e1rvores e tamb\u00e9m no ch\u00e3o das florestas, e possui uma dieta ampla que vai de insetos, pequenos vertebrados, como peixes, sapos e p\u00e1ssaros, at\u00e9 frutas, folhas e sementes. *Texto sob supervis\u00e3o de Lizzy Martins V\u00cdDEOS: Destaques Terra da Gente <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
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