{"id":42358,"date":"2024-11-24T08:04:00","date_gmt":"2024-11-24T11:04:00","guid":{"rendered":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/quatro-em-cada-10-moradores-de-campinas-eram-escravizados-em-1872-mostra-1o-censo-do-brasil\/"},"modified":"2024-11-24T08:04:00","modified_gmt":"2024-11-24T11:04:00","slug":"quatro-em-cada-10-moradores-de-campinas-eram-escravizados-em-1872-mostra-1o-censo-do-brasil","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/quatro-em-cada-10-moradores-de-campinas-eram-escravizados-em-1872-mostra-1o-censo-do-brasil\/","title":{"rendered":"Quatro em cada 10 moradores de Campinas eram escravizados em 1872, mostra 1\u00ba Censo do Brasil"},"content":{"rendered":"
Em Campinas (SP), um dos principais centros econ\u00f4micos do pa\u00eds, a porcentagem de pessoas escravizadas era ainda maior, dos 31.397 moradores, 13.685 eram homens e mulheres escravizados, uma propor\u00e7\u00e3o de 43,6%. Tais n\u00fameros trazem consequ\u00eancias para os dias atuais, como o racismo estrutural e cultural. Para entender esse processo e o impacto na sociedade atual, a EPTV, filiada da Rede Globo, entrevistou os pesquisadores Ma\u00edsa Faleiros da Cunha, do N\u00facleo de Estudos de Popula\u00e7\u00e3o (NEPO) da UnicampMatheus Gato, coordenador do Afro Cebrap e professor de sociologia na Unicamp.Edna Almeida Louren\u00e7o, professora de hist\u00f3ria. EPTV 2 faz reportagem especial para Dia da Conci\u00eancia Negra Campinas em 1872 Segundo o censo de 1872, na prov\u00edncia de S\u00e3o Paulo, havia 837.354 habitantes, destes, mais de 156.612 eram escravizados, ou seja, 18,7% do total. E entre os 89 munic\u00edpios da prov\u00edncia, nenhum outro lugar tinha tantos escravizados quanto Campinas. O munic\u00edpio era dividido em duas freguesias: Nossa Senhora da Concei\u00e7\u00e3o de Campinas, que tinha 9.942 pessoas livres e 6.705 homens e mulheres escravizados.Nossa Senhora do Carmo e Santa Cruz de Campinas, com 7.770 pessoas livres e 6.980 escravizadas. Eram 31.397 moradores pessoas morando no munic\u00edpio, e destes, 13.685 escravizados. Valor que representa 43,6% de toda a popula\u00e7\u00e3o na \u00e9poca. \u201cNo caso de Campinas e outras localidades do Brasil que utilizavam de forma mais intensa a m\u00e3o de obra escravizada. E Campinas principalmente por estar participando dessa agro exporta\u00e7\u00e3o, h\u00e1 uma grande demanda por m\u00e3o de obra. Ent\u00e3o por isso que voc\u00ea tem essa presen\u00e7a t\u00e3o significativa\u201d, explica Faleiros Quatro em cada 10 moradores de Campinas eram escravizados em 1872, mostra 1\u00ba Censo do Brasil \u2014 Foto: Reprodu\u00e7\u00e3o EPTV Estigma que perpetua Matheus Gato volta a aten\u00e7\u00e3o para a quest\u00e3o de que em 1872, mesmo entre a popula\u00e7\u00e3o livre havia negros e estes eram marginalizados, estigma que se perpetuou ao longo dos anos. \u201cO que acontece quando vem a aboli\u00e7\u00e3o e esses negros s\u00e3o deixados \u00e0 margem e como \u00e9 que isso reverbera at\u00e9 hoje\u201d, fala. Ele explica que, mesmo entre as pessoas livres, essa popula\u00e7\u00e3o enfrentavam preconceitos e exclus\u00e3o social e sujeita a um imagin\u00e1rio social que vinculava automaticamente a negritude \u00e0 escravid\u00e3o. Em Campinas, o censo de 1872 mostra que entre as 17.712 pessoas livres, 5.111 eram classificados como pretos, pardos ou caboclos, que corresponde a 14,68% do total. Ap\u00f3s a aboli\u00e7\u00e3o, essa popula\u00e7\u00e3o enfrentou desafios ainda maiores, pois sem pol\u00edticas de inser\u00e7\u00e3o, muitos negros que haviam conquistado algum direito ou posse viram essas conquistas esfacelarem. \u201cO per\u00edodo p\u00f3s-Aboli\u00e7\u00e3o n\u00e3o \u00e9 s\u00f3 um per\u00edodo de pessoas que n\u00e3o tem nada com dificuldade para conseguir mais coisas para conseguir ter uma vida melhor, mas dificuldade de pessoas que tinham conseguido alguma coisa e que aquelas conquistas v\u00e3o se perdendo ent\u00e3o a ideia mesmo que a gente tem \u00e9 os negros s\u00e3o os descendentes dos escravos significa que a escravid\u00e3o \u00e9 o estigma que constitui \u00e0 ideia de pessoa negra\u201d, explica. A aboli\u00e7\u00e3o, longe de significar emancipa\u00e7\u00e3o plena, refor\u00e7ou barreiras sociais e econ\u00f4micas para os negros, especialmente em \u00e1reas como moradia, trabalho e educa\u00e7\u00e3o. Mulheres negras, por exemplo, permaneceram massivamente vinculadas ao trabalho dom\u00e9stico, um setor historicamente desprovido de garantias trabalhistas. \u201cDizer as consequ\u00eancias da escravid\u00e3o, elas n\u00e3o s\u00e3o s\u00f3 consequ\u00eancias para a gente pensar o racismo, mas para a gente pensar, por exemplo, o pr\u00f3prio modo como a ideia de trabalho de vida \u00e9 vivida no Brasil. A escravid\u00e3o conformou um certo desprezo por uma forma de trabalho, o desprezo pelo trabalho manual\u201d, finaliza. Professora de hist\u00f3ria Edna Almeida Louren\u00e7o. \u2014 Foto: Reprodu\u00e7\u00e3o EPTV Liberdade no dia seguinte? A escraviza\u00e7\u00e3o foi abolida 16 anos depois daquele censo, em 13 de maio de 1888. Mas o que aconteceu com a popula\u00e7\u00e3o no dia seguinte? A professora de hist\u00f3ria Edna Almeida levanta o questionamento. \u201cN\u00e3o gosto de falar do dia 13, nem do dia 14, mas eu foco no dia 14. O dia seguinte, libertos, sem moradia, sem educa\u00e7\u00e3o, sem alimento, sem nada, voc\u00ea olha para um lado e para o outro e qual horizonte? […] Foi ali que come\u00e7ou o nosso problema mesmo de forma decisiva que n\u00e3o se resolveu at\u00e9 o dia de hoje, entendeu?\u201d, fala. A professora Edna \u00e9 descendente de escravizada. Ela guarda em casa dois objetos deixados pela bisav\u00f3, um ferro de passar que era aquecido com brasa e uma chaleira. V\u00cdDEOS: saiba tudo sobre Campinas e Regi\u00e3o <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
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