{"id":41934,"date":"2024-11-20T13:42:00","date_gmt":"2024-11-20T16:42:00","guid":{"rendered":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/rio-piracicaba-bate-recorde-de-volume-de-agua-no-inicio-da-piracema\/"},"modified":"2024-11-20T13:42:00","modified_gmt":"2024-11-20T16:42:00","slug":"rio-piracicaba-bate-recorde-de-volume-de-agua-no-inicio-da-piracema","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/rio-piracicaba-bate-recorde-de-volume-de-agua-no-inicio-da-piracema\/","title":{"rendered":"Rio Piracicaba bate recorde de volume de \u00e1gua no in\u00edcio da piracema"},"content":{"rendered":"
O m\u00eas de novembro j\u00e1 entrou para a hist\u00f3ria do Rio Piracicaba. Os dados da Esta\u00e7\u00e3o Convencional do Departamento de Engenharia de Biossistemas da Esalq (Escola Superior de Agricultura da USP) mostram que na primeira semana do m\u00eas, choveu no munic\u00edpio um volume de 148,9 mil\u00edmetros. A esta\u00e7\u00e3o foi criada em 1917 e desde ent\u00e3o, esse \u00e9 o maior registro para o per\u00edodo do in\u00edcio da piracema, \u00e9poca de reprodu\u00e7\u00e3o dos peixes. Em termos de compara\u00e7\u00e3o, a m\u00e9dia mensal hist\u00f3rica de chuva para a primeira semana de novembro em Piracicaba era de 25,7 mil\u00edmetros. A medi\u00e7\u00e3o \u00e9 feita por equipamentos que coletam a chuva em pontos distintos da cidade. O \u00edndice pluviom\u00e9trico \u00e9 calculado com base na altura em que a \u00e1gua atinge um espa\u00e7o delimitado. Por exemplo, 200 mil\u00edmetros no medidor, significam que a chuva alcan\u00e7ou altura de 20 cent\u00edmetros de l\u00e2mina d\u00b4\u00e1gua. Mas, como esse volume de \u00e1gua influencia o ciclo de vida dos peixes? O professor doutor Domingos Garrone Neto do Campus Experimental do Litoral Paulista da Unesp explica que esp\u00e9cies nativas do interior paulista, como o dourado (Salminus brasiliensis), pacu (Piaractus mesopotamicus), curimbat\u00e1 (Prochilodus lineatus), lambaris (algumas esp\u00e9cies do g\u00eanero Astyanax) e o mandi-pintado (Pimelodus maculatus) necessitam de gatilhos ambientais para migrar e se reproduzir. O aumento da turbidez da \u00e1gua, do n\u00edvel do rio e da velocidade da correnteza entre outros fatores podem ser considerados gatilhos. Segundo Garrone Neto, \u00e9 poss\u00edvel que o retorno das chuvas e o aumento no n\u00edvel do rio possam ter um efeito positivo, minimizando os grandes danos provocados por algumas atividades humanas. Esp\u00e9cie curimbat\u00e1 (Prochilodus lineatus) \u2014 Foto: Leonardo Mer\u00e7on \/ iNaturalist Trag\u00e9dia ambiental A Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de S\u00e3o Paulo) estimou que 235 mil peixes morreram. An\u00e1lises da Companhia na \u00e9poca mostraram n\u00edvel de oxig\u00eanio dissolvido na \u00e1gua, pr\u00f3ximo a zero, o que tornou imposs\u00edvel a vida dos cardumes. Tanqu\u00e3, em Piracicaba, registra mortandade de peixes \u2014 Foto: Reprodu\u00e7\u00e3o\/EPTV O dano ambiental gerou multa de R$ 18 milh\u00f5es de reais \u00e0 Usina S\u00e3o Jos\u00e9 de Rio das Pedras, apontada pela Cetesb como respons\u00e1vel pela polui\u00e7\u00e3o da \u00e1gua. Os efeitos da carga poluidora foram sentidos no Rio Piracicaba por cerca de dez dias. A usina informou que colaborou com as investiga\u00e7\u00f5es, mas negou ter provocado a morte dos peixes. A esperan\u00e7a da piracema Desde 1\u00b0 de novembro, teve in\u00edcio a piracema, per\u00edodo de reprodu\u00e7\u00e3o dos peixes em que a captura de esp\u00e9cies nativas fica proibida at\u00e9 o fim de fevereiro. No Rio Piracicaba algumas esp\u00e9cies j\u00e1 est\u00e3o subindo o curso para a reprodu\u00e7\u00e3o. “Os ovos e as larvas desses peixes que realizam piracema precisam encontrar locais aptos ao seu desenvolvimento, como as \u00e1reas de v\u00e1rzea e as lagoas marginais. Em muitos locais da bacia do Rio Piracicaba essas \u00e1reas est\u00e3o afetadas pelo desmatamento, pelo aterramento e pela introdu\u00e7\u00e3o de esp\u00e9cies de peixes que n\u00e3o s\u00e3o nativas, como apaiaris (Astronotus spp.), tucunar\u00e9s (Cichla spp.), bagres-africanos (Clarias gariepinus) e til\u00e1pias (algumas esp\u00e9cies africanas da fam\u00edlia Cichlidae)”, conclui o professor. As esp\u00e9cies invasoras podem se alimentar dos ovos dos peixes nativos. Al\u00e9m disso, muitas \u00e1reas de cabeceira da bacia, incluindo diversos afluentes importantes, est\u00e3o impactadas por pequenos barramentos, as chamadas PCHs (Pequenas Centrais Hidrel\u00e9tricas). Essa interrup\u00e7\u00e3o do curso natural dos rios prejudica a reprodu\u00e7\u00e3o das esp\u00e9cies migradoras, que necessitam atingir \u00e1reas de desova, normalmente trechos mais rasos com fundo de cascalho ou pedra, onde a oxigena\u00e7\u00e3o da \u00e1gua e a correnteza s\u00e3o fundamentais para que os ovos tenham viabilidade. Um assunto complexo que segundo o pesquisador tem sido relegado a um segundo plano nas discuss\u00f5es a respeito da gest\u00e3o ambiental das bacias hidrogr\u00e1ficas paulistas. Apesar de todos esses desafios, a natureza mostra vigor na recupera\u00e7\u00e3o da vida. Com o aumento do n\u00edvel do rio e com a \u00e9poca de preserva\u00e7\u00e3o das esp\u00e9cies nativas para a reprodu\u00e7\u00e3o a esperan\u00e7a \u00e9 que os peixes mantenham o ciclo reprodutivo, mesmo depois de um desastre ambiental de grandes propor\u00e7\u00f5es. Peixes subindo o Rio Piracicaba durante o per\u00edodo de Piracema \u2014 Foto: Gabriela Lopes\/Arquivo pessoal An\u00e1lise dos especialistas O professor da Unesp d\u00e1 detalhes sobre esse balan\u00e7o. “O monitoramento da ictiofauna (conjunto de esp\u00e9cies de peixes de uma determinada regi\u00e3o biogeogr\u00e1fica) \u00e9 uma ferramenta importante para podermos avaliar a extens\u00e3o desse tipo de dano. Esse monitoramento pode ser feito de diversas formas, como o acompanhamento de descargas pesqueiras em comunidades que ainda praticam a pesca artesanal, o monitoramento de atividades de lazer como a pesca amadora e o monitoramento de ovos e larvas (o chamado \u201cictiopl\u00e2ncton\u201d)”. “Infelizmente o estado de S\u00e3o Paulo n\u00e3o possui uma pol\u00edtica dedicada a isso na regi\u00e3o do Rio Piracicaba e, tamb\u00e9m, em outras bacias, o que impede que uma avalia\u00e7\u00e3o adequada desses danos e de uma eventual resposta natural do ambiente e dos peixes a esse problema”, completa Garrone Neto. Toda situa\u00e7\u00e3o por mais dif\u00edcil que seja, deixa li\u00e7\u00f5es. A aus\u00eancia de pol\u00edticas ambientais s\u00e9rias e do respeito \u00e0 natureza por parte de muitas empresas ligadas ao uso da terra e da \u00e1gua podem ser catastr\u00f3ficas. Os desastres recorrentes observados no Rio Piracicaba e em alguns dos seus afluentes atestaram isso. “\u00c9 necess\u00e1rio que institui\u00e7\u00f5es como o Minist\u00e9rio P\u00fablico passem a exigir a\u00e7\u00f5es mais efetivas do Estado, tanto para evitar os desastres quanto para conservar os rios e a sua ictiofauna, isso inclui monitorar para conhecer. \u00c9 necess\u00e1rio responsabilizar os culpados e faz\u00ea-los pagar pelos danos, fomentando pesquisas e a\u00e7\u00f5es voltadas \u00e0 conserva\u00e7\u00e3o da ictiofauna”, esclarece Garrone Neto. O professor do setor de piscicultura da Esalq Brunno da Silva Cerozi, d\u00e1 detalhes de como funciona a reprodu\u00e7\u00e3o dos peixes. “Eles passam praticamente um ano se preparando para chegar nesse per\u00edodo da piracema que eles v\u00e3o migrar pra fazer justamente a reprodu\u00e7\u00e3o, \u00e9 importante lembrar que esse \u00e9 um per\u00edodo \u00fanico. Ent\u00e3o se a gente perder esse per\u00edodo agora, s\u00f3 daqui um ano que isso vai acontecer novamente”. Cerozi diz que por isso, \u00e9 fundamental o respeito \u00e0 piracema, \u00e9poca em que fica proibida a pesca de peixes nativos. “Um peixe faz muita diferen\u00e7a. Dependendo do tamanho desse peixe, n\u00f3s estamos falando de alguns milhares de ovos que deixariam de ser liberados e fertilizados. Ent\u00e3o, cada peixe, cada f\u00eamea ou cada macho que \u00e9 retirado de forma prematura e que n\u00e3o faz realmente a desova, n\u00f3s estamos falando de alguns milhares, podemos at\u00e9 falar de centenas de milhares de peixes que deixam de ser repovoados no rio de forma natural, faz toda diferen\u00e7a. N\u00e3o importa se \u00e9 um s\u00f3 se s\u00e3o dez, realmente esses peixes precisam chegar ao seu destino e fazer esse evento que \u00e9 anual”. A recupera\u00e7\u00e3o total do dano ambiental causado deve levar alguns anos, segundo os especialistas. Mas quando se v\u00ea o salto dos peixes nas corredeiras do Piracicaba, \u00e9 ineg\u00e1vel perceber a for\u00e7a que a s\u00f3 a natureza tem. V\u00cdDEOS: Destaques Terra da Gente <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
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