Mas o bioma conhecido internacionalmente como \u201ca maior plan\u00edcie alag\u00e1vel do mundo\u201d j\u00e1 d\u00e1 sinais de que suas principais caracter\u00edsticas est\u00e3o diferentes. De acordo com dados do sistema MapBiomas, o ano de 2018 marcou a \u00faltima grande cheia do Pantanal. Em compara\u00e7\u00e3o a 1988, primeira grande cheia da hist\u00f3ria desde o come\u00e7o da medi\u00e7\u00e3o por sat\u00e9lites em 1985, 2018 j\u00e1 foi 22% mais seco. Desde abril do ano passado, o bioma vem secando em fun\u00e7\u00e3o do d\u00e9ficit de precipita\u00e7\u00e3o, enfrentando uma seca extrema. Comparando com 1985, quando as \u00e1reas alagadas do Pantanal ocupavam 7 milh\u00f5es de hectares, em 2023, essas \u00e1reas ca\u00edram para 3,5 milh\u00f5es de hectares, uma diminui\u00e7\u00e3o de 50%. Evolu\u00e7\u00e3o anual da cobertura e uso da terra do Pantanal \u2014 Foto: MapBiomas O bi\u00f3logo e diretor de comunica\u00e7\u00e3o da ONG SOS Pantanal Gustavo Figueir\u00f4a explica que diversas nascentes, fontes e matas ciliares, que s\u00e3o grandes produtoras de \u00e1gua para o bioma, foram devastadas ao longo de d\u00e9cadas, principalmente pela preocupa\u00e7\u00e3o de monoculturas. Somado aos outros fatores desencadeados pela a\u00e7\u00e3o do homem, como as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas que intensificam as ondas de calor e a seca, e consequentemente os inc\u00eandios, o Pantanal est\u00e1 sendo destru\u00eddo. \u201cA destrui\u00e7\u00e3o, a degrada\u00e7\u00e3o do Planalto, do Cerrado, do Sul da Amaz\u00f4nia principalmente, a destrui\u00e7\u00e3o de APPs n\u00e9, v\u00e1rias propriedades n\u00e3o respeitam as \u00e1reas de prote\u00e7\u00e3o permanentes e c\u00f3rregos nascentes, esses corpos d’\u00e1gua n\u00e3o tem a prote\u00e7\u00e3o que deveriam ter e por isso eles n\u00e3o produzem mais \u00e1gua. Quem produz \u00e1gua \u00e9 floresta de p\u00e9, ent\u00e3o a gente precisa de Floresta de p\u00e9 para produ\u00e7\u00e3o de \u00e1gua, que \u00e9 essa \u00e1gua que vai descer para o Pantanal e vai irrigar aquela plan\u00edcie\u201d O bi\u00f3logo tamb\u00e9m explica que daqui para frente a tend\u00eancia \u00e9 de que as cheias n\u00e3o durem tanto e sejam cada vez mais curtas e em uma menor \u00e1rea. A falta de \u00e1gua e o excesso de fogo est\u00e3o destruindo e desconfigurando o que a gente conhece como Pantanal. Se as coisas continuarem caminhando nesse ritmo, at\u00e9 o final do s\u00e9culo \u00e9 muito prov\u00e1vel que n\u00e3o exista mais o Pantanal como a gente conhece hoje, que ele j\u00e1 tenha se modificado para uma paisagem completamente diferente \u2014 Gustavo Figueir\u00f4a, bi\u00f3logo Desde 2020, o bioma sofre com grandes per\u00edodos de seca, o que tem aumentado \u00e0 incid\u00eancia de grandes inc\u00eandios. Esse decl\u00ednio cont\u00ednuo das cheias reflete as preocupa\u00e7\u00f5es com a sa\u00fade ecol\u00f3gica do Pantanal, que passa pela maior estiagem dos \u00faltimos 74 anos, sendo o ano de 2024 categorizado como o mais seco da hist\u00f3ria do bioma. No centro-oeste, Pantanal ardeu em chamas nos \u00faltimos meses em consequ\u00eancia da seca e da a\u00e7\u00e3o humana. \u2014 Foto: EPA Em 2024, n\u00e3o houve o esperado pico de cheia, e os inc\u00eandios come\u00e7aram mais cedo do que o previsto. O m\u00eas de junho registou a maior \u00e1rea queimada (370 mil hectares) no bioma no primeiro semestre j\u00e1 observada pelo Monitor do Fogo. Al\u00e9m disso, a menor precipita\u00e7\u00e3o entre janeiro a maio deste ano, quando comparada aos anos anteriores desde a \u00faltima grande cheia em 2018, indica um retorno de condi\u00e7\u00f5es de seca extrema. Estas condi\u00e7\u00f5es aumentam os riscos de inc\u00eandios no bioma, levando a impactos severos como perda de biodiversidade, degrada\u00e7\u00e3o, destrui\u00e7\u00e3o de habitats, redu\u00e7\u00e3o da qualidade da \u00e1gua, e amea\u00e7as \u00e0 sa\u00fade das comunidades locais por causa da fuma\u00e7a e poluentes (Garcia et al., 2021). A crise h\u00eddrica e a alta frequ\u00eancia de inc\u00eandios destacam a vulnerabilidade do Pantanal. A altern\u00e2ncia entre cheias, que promovem o crescimento da vegeta\u00e7\u00e3o aqu\u00e1tica, e secas, que transformam essa vegeta\u00e7\u00e3o em combust\u00edvel, aumenta o risco de inc\u00eandios em per\u00edodos de seca prolongada, intensificado por altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas e mudan\u00e7as na cobertura da terra Queimadas e seca no Pantanal \u2014 Foto: Arte\/g1 \u201cIsso tem um nome: baixa precipita\u00e7\u00e3o, alto processo de evapotranspira\u00e7\u00e3o, n\u00e3o conseguindo alcan\u00e7ar a cota de cheia, nem dos rios nem da plan\u00edcie alagada\u201d, alerta a Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. A cada ano se vai perdendo cobertura vegetal. Seja em fun\u00e7\u00e3o de desmatamento ou de queimadas. Voc\u00ea prejudica toda a bacia e assim, segundo eles [pesquisadores], at\u00e9 o final do s\u00e9culo n\u00f3s poderemos perder a maior plan\u00edcie alagada do planeta \u2014 Maria Silva, Ministra do Meio Ambiente Ao longo das \u00faltimas quatro d\u00e9cadas, o Pantanal perdeu mais de 21% da sua superf\u00edcie de \u00e1gua. Os eventos clim\u00e1ticos extremos estando cada vez mais frequentes e intensos e mais de 95% dos inc\u00eandios s\u00e3o causados pela a\u00e7\u00e3o humana, sejam elas intencionais ou n\u00e3o. Ap\u00f3s as declara\u00e7\u00f5es da Ministra, o Minist\u00e9rio do Meio Ambiente concedeu um posicionamento oficial ao Terra da Gente sobre medidas que est\u00e3o sendo adotadas para amenizar esses danos. Segundo o \u00f3rg\u00e3o, Ibama e ICMBio atuam com mais de 3 mil brigadistas distribu\u00eddos pelo pa\u00eds, que s\u00e3o mobilizados e deslocados a depender do cen\u00e1rio de inc\u00eandio nas regi\u00f5es. Na semana passada, foi autorizada a contrata\u00e7\u00e3o de mais brigadas tempor\u00e1rios em 20 estados. No Pantanal, o trabalho dos bombeiros n\u00e3o termina no combate ao inc\u00eandio. Depois, ainda \u00e9 preciso monitorar o local por um bom tempo \u2014 Foto: Jornal Nacional\/ Reprodu\u00e7\u00e3o Eles for\u00e7am que no Pantanal, 907 funcion\u00e1rios do Governo Federal atuam no combate aos inc\u00eandios, apoiados por 16 aeronaves. Mais de 87% dos 112 inc\u00eandios registrados no bioma at\u00e9 3 de setembro foram extintos ou est\u00e3o controlados. Outras medidas como projetos de lei, MPs e libera\u00e7\u00e3o de recursos tamb\u00e9m foram autorizadas. Pela primeira vez, a estiagem afeta o pa\u00eds inteiro. Em 2023, a perda de \u00e1reas naturais no Brasil atinge a marca de 33% do territ\u00f3rio, com o Pantanal sendo o bioma que mais queimou proporcionalmente, com 59% do territ\u00f3rio queimado pelo menos uma vez entre 1985 e 2023, segundo o MapBiomas. V\u00cdDEO: cervo-do-pantanal \u00e9 flagrado pr\u00f3ximo a inc\u00eandio no Mato Grosso do Sul Embora os anos de 2019, 2020 e 2021 tenham registrado \u00e1reas queimadas acima da m\u00e9dia, 2023 apresentou uma redu\u00e7\u00e3o, mas ainda assim superior a 2022. O Pantanal possui uma \u00e1rea m\u00e9dia queimada anualmente de 824.567 h\u00e1\/ano, cerca de 5,46% do bioma. Esses dados mostram que o fogo prevalece principalmente em \u00e1reas de vegeta\u00e7\u00e3o nativa, como savanas, campos e florestas, o que reflete a complexidade das din\u00e2micas de inc\u00eandios no Brasil. Entre 1985 e 2023, 91,9% do fogo no per\u00edodo ocorreu em vegeta\u00e7\u00e3o nativa e apenas 8,1% em \u00e1rea antr\u00f3pica. Nas \u00faltimas semanas, uma manifesta\u00e7\u00e3o mais evidente das queimadas e do clima \u00e1rido afetou diversas regi\u00f5es do pa\u00eds. V\u00e1rias cidades ficaram envoltas em fuma\u00e7a, que, de acordo com especialistas, teve origem nos inc\u00eandios florestais em \u00e1reas como a Amaz\u00f4nia e o Pantanal. Regi\u00e3o de Campinas registrou dia ‘cinzento’ causado por queimadas na Amaz\u00f4nia \u2014 Foto: Reprodu\u00e7\u00e3o\/EPTV Segundo o Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden), o pa\u00eds como um todo tamb\u00e9m enfrenta a maior seca desde 1950. A estiagem tem afetado, de acordo com o \u00f3rg\u00e3o, todo a extens\u00e3o do pa\u00eds, com exce\u00e7\u00e3o do Rio Grande do Sul. Marina Silva defendeu que o Congresso crie um marco regulat\u00f3rio de emerg\u00eancia clim\u00e1tica. \u201cN\u00f3s temos condi\u00e7\u00e3o de fazer esse enfrentamento com os meios que dispomos sem que ele traga consequ\u00eancias? A reposta \u00e9: vamos ter que ampliar cada vez mais nossos esfor\u00e7os\u201d, finaliza. A gente precisa falar do que t\u00e1 acontecendo do mundo no dia a dia. [..] Todo mundo tem que entender que o meio ambiente n\u00e3o \u00e9 uma pauta pol\u00edtica, \u00e9 uma pauta de sobreviv\u00eancia \u2014 Gustavo Figueir\u00f4a, bi\u00f3logo *Texto sob supervis\u00e3o de Lizzy Martins V\u00cdDEOS: Destaques Terra da Gente <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
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