No entanto, pesquisadores v\u00eam tentando mostrar que n\u00e3o \u00e9 bem assim: o potencial elevado existe, mas nem sempre ser\u00e1 usado para o bem e, em alguns casos, pode at\u00e9 ser considerado t\u00f3xico ou nem ser percebido. Esse debate \u00e9 tema de um artigo publicado pela doutora em psicologia Tatiana de Cassia Nakano, que \u00e9 professora da PUC-Campinas (SP). No m\u00eas em que \u00e9 celebrado o Dia Internacional das Altas Habilidades\/Superdota\u00e7\u00e3o, o g1 conversou com uma pesquisadora sobre as quatro poss\u00edveis manifesta\u00e7\u00f5es da condi\u00e7\u00e3o e mostra qual o papel da educa\u00e7\u00e3o socioemocional no desenvolvimento de quem tem capacidades acima da m\u00e9dia (confira mais detalhes abaixo). \ud83e\udde0 Nesta reportagem voc\u00ea vai ver: O que \u00e9 a superdota\u00e7\u00e3o? De acordo com Tatiana, as altas habilidades\/superdota\u00e7\u00e3o (express\u00e3o combinada usada para definir a condi\u00e7\u00e3o) s\u00e3o explicadas como um fen\u00f4meno que leva \u00e0 presen\u00e7a de um potencial elevado em diferentes \u00e1reas do conhecimento. “N\u00e3o \u00e9 s\u00f3 relacionada \u00e0 superintelig\u00eancia acad\u00eamica. Durante muito tempo foi, mas hoje a gente sabe que \u00e9 mais que isso”, explica Nakano. “O cara que tem uma criatividade elevada, que tem uma habilidade psicomotora elevada no esporte, uma capacidade diferenciada na lideran\u00e7a, no discurso, na comunica\u00e7\u00e3o. Todos eles s\u00e3o superdotados. Tem tamb\u00e9m a pessoa com QI alto [quociente de intelig\u00eancia], que \u00e9 um tipo espec\u00edfico, normalmente ligado \u00e0 intelig\u00eancia acad\u00eamica”, completa. Em geral, esse potencial est\u00e1 ligado \u00e0 capacidade de encontrar solu\u00e7\u00f5es e resolver problemas, independentemente da \u00e1rea. Isso significa que, al\u00e9m dos grandes cientistas, pessoas com alta habilidade de discurso e argumenta\u00e7\u00e3o, uma dona de casa extremamente habilidosa em resolver a rotina da fam\u00edlia ou um atleta excepcional tamb\u00e9m podem ser superdotados. \ud83d\udca1 Apesar de requerer a avalia\u00e7\u00e3o de um profissional, que pode ser da psicologia, para ser identificada, a superdota\u00e7\u00e3o n\u00e3o \u00e9 um transtorno como o autismo ou o TDAH. Por isso, tecnicamente falando, n\u00e3o depende de um diagn\u00f3stico, mas, sim, de uma identifica\u00e7\u00e3o. Entenda o que s\u00e3o altas habilidades e superdota\u00e7\u00e3o Quais s\u00e3o os tipos de superdota\u00e7\u00e3o? Pesquisadores defendem que, da mesma maneira que a superdota\u00e7\u00e3o pode se manifestar em diferentes \u00e1reas do conhecimento, a forma como ela ocorre tamb\u00e9m pode variar: pode servir para o bem, para o mal ou, simplesmente, para nada. Em seu artigo, Tatiana refor\u00e7a a ideia proposta nos trabalhos do psic\u00f3logo estadunidense Robert Sternberg. Ao todo, a superdota\u00e7\u00e3o poderia se manifestar em quatro tipos, segundo ele: \u270a Transformacional: \u00e9 aquela em que a pessoa usa seu potencial para fazer mudan\u00e7as positivas e significativas para o mundo. N\u00e3o tem a ver com o ativismo, mas \u00e9 comum que o indiv\u00edduo use sua capacidade de forma altru\u00edsta. Ela pode ser auto transformacional, usada para realiza\u00e7\u00e3o pessoal; do outro, quando faz o bem a outras pessoas; e total, quando exerce ambos os pap\u00e9is. \ud83c\udfc6 Transacional: se refere \u00e0s pessoas que usam a superdota\u00e7\u00e3o para refor\u00e7ar a ideia de que seus resultados sempre ser\u00e3o elevados e, com isso, ter benef\u00edcios. S\u00e3o capazes de aprender o que a sociedade espera deles e tentam cumprir essas expectativas. Tendem a ser bem-sucedidos e a encontrar satisfa\u00e7\u00e3o em suas realiza\u00e7\u00f5es pessoais \u2013 e n\u00e3o no que fizeram para os outros. \ud83d\ude11 Inerte: ocorre quando a superdota\u00e7\u00e3o \u00e9 confirmada por testes, mas, na pr\u00e1tica, n\u00e3o \u00e9 utilizada para proporcionar nenhum tipo de mudan\u00e7a. S\u00e3o indiv\u00edduos que fazem muito pouco com seus potenciais elevados e acabam desperdi\u00e7ando seus talentos. \u201cPode passar o resto da vida sem saber que tem esse potencial. \u00c9 uma superdota\u00e7\u00e3o que n\u00e3o serve para nada\u201d, diz a psic\u00f3loga. \ud83d\ude08 T\u00f3xica: se refere \u00e0s pessoas que usam o alto potencial para fins mal\u00e9volos. Para Sternberg, esse tipo pode ser autodestrutivo, quando usado para fazer mal a si mesmo (aplicar o talento em apostas e jogos, por exemplo), destrutivo para os outros ou pseudo transformacional, quando \u00e9 aplicada para promover os pr\u00f3prios interesses, causando mal a si ou para os outros no processo. \u201cA gente sempre pensa na superdota\u00e7\u00e3o como um fen\u00f4meno que vai levar as pessoas a resolverem problemas mundiais, mas nem sempre \u00e9 assim. A gente pode ter gente trabalhando em uma organiza\u00e7\u00e3o de tr\u00e1fico drogas. A pessoa pode estar usando a intelig\u00eancia para pensar como disfar\u00e7ar aquela droga de um jeito que o cachorro do lado da pol\u00edcia n\u00e3o vai achar\u201d. \u201cNa pol\u00edtica, uma pessoa pode ser superdotada verbalmente, que sabe argumentar, fala bem, faz a cabe\u00e7a das pessoas, faz os maiores discursos do mundo, mas ela \u00e9 t\u00e3o convincente que pode influenciar radicalmente a sociedade, inclusive, em algo ruim\u201d, completa a especialista. O que define qual ser\u00e1 o tipo de superdota\u00e7\u00e3o? Tatiana diz que existem muitos debates sobre o que faz algu\u00e9m desenvolver superdota\u00e7\u00e3o, n\u00e3o sendo poss\u00edvel determinar ainda se ela \u00e9 gen\u00e9tica ou se depende de fatores externos. Por\u00e9m, estudiosos como Stenberg acreditam que a forma como ela se manifestar\u00e1 ao longo da vida vai variar de acordo com o suporte e as influ\u00eancias oferecidas ao indiv\u00edduo. \u201cA pessoa pode at\u00e9 nascer com um potencial elevado, mas, se n\u00e3o tiver oportunidade, se n\u00e3o tiver um ambiente prop\u00edcio, n\u00e3o vai fazer diferen\u00e7a na vida dela\u201d, comenta. Pensando por essa l\u00f3gica, \u00e9 poss\u00edvel afirmar que \u00e9 muito dif\u00edcil que um superdotado seja capaz de grandes feitos sem que haja algum est\u00edmulo para isso. \u270f\ufe0f Mesmo que seja autodidata e tenha a habilidade de aprender sozinho, ele precisar\u00e1 de uma fonte para receber conhecimento. Al\u00e9m disso, dependendo do est\u00edmulo recebido, o indiv\u00edduo pode aprender a usar a dota\u00e7\u00e3o para o bem ou para o mal. Al\u00e9m do boletim escolar: a import\u00e2ncia da educa\u00e7\u00e3o socioemocional A educa\u00e7\u00e3o multidisciplinar, que pensa no social e nas emo\u00e7\u00f5es, tem papel fundamental no desenvolvimento de superdotados, explica a pesquisadora. Al\u00e9m de descobrir quem \u00e9 ou n\u00e3o superdotado, \u00e9 preciso se preocupar em oferecer um suporte que vai al\u00e9m das notas da escola. \u201cInfelizmente, principalmente no Brasil, a gente n\u00e3o ouve falar disso. Al\u00e9m de superar as necessidades de identifica\u00e7\u00e3o, a gente tem que ajudar as pessoas sobre o que fazer a partir disso. Muitas vezes voc\u00ea consegue identificar, mas a pessoa fala assim: ‘agora, o que eu fa\u00e7o?\u201d. \u201cCada um tem sua necessidade. No caso do negativo, n\u00e3o \u00e9 s\u00f3 estimular a intelig\u00eancia. A gente tem que olhar e trabalhar tamb\u00e9m os aspectos socioemocionais. Ensinar o que \u00e9 \u00e9tica, ensinar a se relacionar, empatia, o que \u00e9 fazer o bem, a import\u00e2ncia de usar esse potencial para o bem das pessoas\u201d. Ainda em seu artigo, a psic\u00f3loga sugere como solu\u00e7\u00e3o o modelo educacional ACCEL (do ingl\u00eas, Cidadania Ativa e Preocupada e Lideran\u00e7a \u00c9tica), que minimiza a import\u00e2ncia do QI e d\u00e1 maior \u00eanfase em aspectos como o pensamento cr\u00edtico, a criatividade, a \u00e9tica e a paix\u00e3o como formas de mudar o mundo. \u201cA quest\u00e3o emocional \u00e9 muito interessante. \u00c9 mais ou menos aquela hist\u00f3ria do menino pobre da favela, que voc\u00ea d\u00e1 uma oportunidade e ele pode superar a vulnerabilidade. Por\u00e9m, se voc\u00ea n\u00e3o d\u00e1 a oportunidade, ele pode usar para algo ruim, pode ir para o tr\u00e1fico e usar essa intelig\u00eancia nisso\u201c, completa Tatiana. V\u00cdDEOS: tudo sobre Campinas e regi\u00e3o <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
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