Vale lembrar que o Pantanal ainda estava se recuperando dos impactos de inc\u00eandios ocorridos em 2020, quando 4,5 milh\u00f5es de hectares foram perdidos – resultando na morte de 17 milh\u00f5es de vertebrados e impactos negativos em pelo menos 65 milh\u00f5es de animais. Um ano depois da trag\u00e9dia, em 2021, a diversidade de mam\u00edferos e a abund\u00e2ncia de animais havia ca\u00eddo pela metade, em m\u00e9dia, nos locais mais atingidos. A conclus\u00e3o veio do estudo realizado por um grupo de cientistas de 13 institui\u00e7\u00f5es, que fez um levantamento de mam\u00edferos de pequeno a grande porte entre agosto e novembro de 2021, na Esta\u00e7\u00e3o Ecol\u00f3gica (Esec) de Taiam\u00e3, no munic\u00edpio de C\u00e1ceres (MT), regi\u00e3o do Pantanal Norte. Para realiza\u00e7\u00e3o das an\u00e1lises, os cientistas compararam a diversidade e abund\u00e2ncia de mam\u00edferos em dois tipos de ambientes: as florestas conhecidas na regi\u00e3o como abobral e as florestas de beira de rio. Veja as caracter\u00edsticas de cada uma: Abobral: ambiente onde predomina a a\u00e7acurana (Erythrina fusca), uma \u00e1rvore com estatura de at\u00e9 30 metros, com flores cor-de-laranja e ra\u00edzes aqu\u00e1ticas, adaptadas a \u00e1reas alagadas;Florestas de beira de rio: compostas por diversas esp\u00e9cies de \u00e1rvores e n\u00e3o alagam com frequ\u00eancia. De acordo com o artigo, publicado em junho na Scientific Reports, o maior impacto das queimadas ocorreu nas \u00e1reas de abobral, onde ocorre s\u00f3 uma esp\u00e9cie de \u00e1rvore. Segundo Marcelo Magioli, primeiro autor do artigo, alguns tipos de animais quase desapareceram. \u201cCom a passagem do fogo, esse tipo de floresta que \u00e9 mono-dominante por essa \u00fanica esp\u00e9cie foi totalmente devastada em alguns pontos. Queimou at\u00e9 pouco mais de um metro abaixo do solo, esterilizando o local. Todas as esp\u00e9cies foram afetadas\u201d, explica. As an\u00e1lises se basearam em registros feitos por meio de 50 c\u00e2meras fotogr\u00e1ficas espalhadas na reserva (para animais de m\u00e9dio e grande porte) e amostras de DNA ambiental (para animais pequenos). Com base em imagens de sat\u00e9lite, os pesquisadores mediram a propor\u00e7\u00e3o de \u00e1rea queimada em um raio de 1 quil\u00f4metro (km) em volta de cada c\u00e2mera. Adaptada \u00e0 \u00e1gua, n\u00e3o ao fogo As florestas onde predomina a a\u00e7acurana t\u00eam adapta\u00e7\u00f5es que permitem ela sobreviver em \u00e1reas alagadas. No entanto, essa pr\u00f3pria adapta\u00e7\u00e3o contribui tamb\u00e9m para que ela produza muito material org\u00e2nico que acaba se tornando combust\u00edvel para o fogo. Em 2020, brigadistas foram essenciais no combate ao fogo. \u2014 Foto: Reprodu\u00e7\u00e3o \u201cSe ela for exposta a fogo, o efeito do fogo, que foi uma das nossas hip\u00f3teses, seria muito mais dr\u00e1stico do que nas florestas com mais esp\u00e9cies. E foi o que a gente observou\u201d, diz Marcelo. Com a descaracteriza\u00e7\u00e3o do ambiente pelas queimadas, al\u00e9m do risco dos pr\u00f3prios inc\u00eandios, os animais acabam ficando sem abrigo e alimento. Risco de descaracteriza\u00e7\u00e3o total O estudo indica que o Pantanal estava se recuperando dos inc\u00eandios de 2020, j\u00e1 que todas as 18 esp\u00e9cies de mam\u00edferos de m\u00e9dio e grande porte identificadas antes do inc\u00eandio foram encontradas um ano depois. Um ponto que chamou a aten\u00e7\u00e3o dos pesquisadores \u00e9 que nove esp\u00e9cies que n\u00e3o existiam na Esec Taiam\u00e3 antes do fogo – como tr\u00eas esp\u00e9cies de veados e a anta, com registros em \u00e1reas pr\u00f3ximas \u00e0 esta\u00e7\u00e3o ecol\u00f3gica. Mas isso n\u00e3o \u00e9 necessariamente bom, mas pode ser um sinal que o bioma est\u00e1 se descaracterizando e atraindo esp\u00e9cies de fora. \u201cAp\u00f3s o fogo, parte da vegeta\u00e7\u00e3o volta a crescer, oferecendo brotos a esses animais que se alimentam de plantas\u201d, diz Magioli. Algumas esp\u00e9cies de veados, que n\u00e3o existiam na reserva, surgiram depois do fogo \u2014 Foto: Equipe Marcelo Magioli \/ USP Exemplo disso \u00e9 a apari\u00e7\u00e3o do lobo-guar\u00e1 (Chrysocyon brachyurus) e da raposinha (Lycalopex vetulus), habitantes do Cerrado que normalmente n\u00e3o entram no Pantanal, mas que foram atra\u00eddos pela altera\u00e7\u00e3o na vegeta\u00e7\u00e3o. Carn\u00edvoros como on\u00e7as-pintadas e jaguatiricas, que normalmente vivem em florestas, tamb\u00e9m foram vistos nas \u00e1reas queimadas, provavelmente atr\u00e1s de presas. \u201cNosso artigo levanta um alerta para como apenas um desses eventos de inc\u00eandio severo causou uma descaracteriza\u00e7\u00e3o grande. Se esse tipo de evento voltar a se repetir, pode ser que essa resili\u00eancia do Pantanal, de conseguir se recuperar ap\u00f3s o fogo, pode acabar\u201d, alerta o bi\u00f3logo. \u201cO bioma pode acabar se descaracterizando e impedindo a recoloniza\u00e7\u00e3o das esp\u00e9cies mais sens\u00edveis que dependem da floresta\u201d, completa. V\u00cdDEOS: Destaques Terra da Gente <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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