No entanto, essas \u00e1reas de conhecimento n\u00e3o s\u00e3o as \u00fanicas capazes de explor\u00e1-las e um exemplo disso est\u00e1 nas ci\u00eancias sociais. Josianne Cerasoli, professora do Departamento de Hist\u00f3ria do Instituto de Filosofia e Ci\u00eancias Humanas (IFCH) da Universidade Estadual de Campinas (SP)(Unicamp), explicou ao g1 como obras que retratam a sociedade e a pol\u00edtica podem ser relacionadas \u00e0s emo\u00e7\u00f5es do filme. A rela\u00e7\u00e3o \u00e9 inspirada em uma publica\u00e7\u00e3o feita pela Biblioteca Octavio Ianni da Unicamp, que fez uma s\u00e9rie de indica\u00e7\u00f5es liter\u00e1rias baseadas nas emo\u00e7\u00f5es de \u201cDivertida Mente 2\u201d. Confira a lista e entenda a rela\u00e7\u00e3o abaixo: Tristeza: \u201cRetrato do Brasil: ensaio sobre a tristeza brasileira\u201d – Paulo PradoAlegria: \u201cA hist\u00f3ria da alegria: da b\u00edblia ao romantismo tardio\u201d – Adam PotkayRaiva: \u201cO medo ao pequeno n\u00famero: ensaio sobre a geografia da raiva\u201d – Arjun AppaduraiMedo: \u201cHist\u00f3ria do medo no ocidente, 1300-1800: uma cidade sitiada\u201d – Jean DelumeauRepulsa\/Nojinho: \u201cFasc\u00ednio e repulsa: Estado, cultura e sociedade no Brasil\u201d – M\u00e1rcio Souza Emo\u00e7\u00f5es em ci\u00eancias sociais\u2753 Para Josianne Cerasoli, a iniciativa da biblioteca de conectar o acervo com as emo\u00e7\u00f5es \u00e9 algo oportuno, j\u00e1 que a \u201cpalavra emo\u00e7\u00e3o \u00e9 aquilo que move, aquilo que comove e aquilo que nos move. Essas rea\u00e7\u00f5es s\u00e3o sempre agudas, \u00e0s vezes, moment\u00e2neas, mas sempre s\u00e3o cheias de significados\u201d. \ud83e\udd14 Apesar de geralmente a filosofia, hist\u00f3ria, ci\u00eancia pol\u00edtica e a antropologia n\u00e3o serem associadas \u00e0s emo\u00e7\u00f5es, Cerasoli diz que \u00e9 interessante entender que elas se debru\u00e7aram sobre essas quest\u00f5es, pois mesmo que pare\u00e7am algo privado, podem ser percebidas na sociedade. Tristeza \ud83d\ude14 Josiane explica que o livro \u201cRetrato do Brasil: ensaio sobre a tristeza brasileira\u201d, escrito por Paulo Prado, come\u00e7a de uma forma enf\u00e1tica, falando sobre um povo triste. Dentro do texto, o autor tenta explicar o que era entendido como um \u201cfracasso\u201d na \u00e9poca. O ensaio \u00e9 uma interpreta\u00e7\u00e3o sobre o Brasil dentro das ci\u00eancias sociais e, apesar de a palavra \u201ctristeza\u201d ser utilizada com frequ\u00eancia, o trabalho das humanidades \u00e9 justamente questionar e compreender por que essas emo\u00e7\u00f5es est\u00e3o sendo relacionadas a uma ou outra situa\u00e7\u00e3o, explica. Alegria \ud83d\ude00 O livro destacado na lista, \u201cA Hist\u00f3ria da Alegria: Da B\u00edblia ao Romantismo\u201d, do historiador Adam Potkay, tenta realizar uma leitura desse sentimento por meio de um jogo de oposi\u00e7\u00f5es. “Ao longo dessa trajet\u00f3ria, esse sentimento muda muito, mas ele vai buscando trabalhar com os opostos: aquilo que \u00e9 contr\u00e1rio \u00e0 alegria e aquilo que alimenta a alegria ao longo do tempo, para que a gente possa entender como ela \u00e9 definida e muda historicamente”, detalha Cerasoli. Medo \ud83d\ude28 O medo tamb\u00e9m pode ser relacionado \u00e0s ci\u00eancias sociais por meio do livro \u201cHist\u00f3ria do Medo no Ocidente\u201d, de Jean Delumeau, que trata de como diversos aspectos da vida entre os s\u00e9culos 14 e 18 mobilizavam medos na sociedade. Segundo Josianne, a rela\u00e7\u00e3o com a morte, as doen\u00e7as, o mar desconhecido e fome, at\u00e9 mesmo situa\u00e7\u00f5es menos palp\u00e1veis, como a pr\u00f3pria ideia de Apocalipse, mostram como os medos s\u00e3o socialmente informados e presentes na hist\u00f3ria. Para ela, essa an\u00e1lise se torna particularmente relevante quando os eventos recentes s\u00e3o observados, como a pandemia, que trouxe \u00e0 tona medos antigos, como o medo da \u201cpeste\u201d, de maneira muito similar ao que foi visto em s\u00e9culos passados. Ela afirma que, atualmente, com dissemina\u00e7\u00e3o r\u00e1pida de informa\u00e7\u00f5es torna f\u00e1cil a mobiliza\u00e7\u00e3o do medo. Aqueles que t\u00eam a inten\u00e7\u00e3o de criar p\u00e2nico ou inseguran\u00e7a, acabam utilizando e alimentando esse p\u00e2nico na sociedade. A professora diz ser crucial entender como as ci\u00eancias sociais e a hist\u00f3ria abordam essa emo\u00e7\u00e3o, para compreender o medo e seu funcionamento como uma forma de defesa de manipula\u00e7\u00f5es. “\u00c9 um jeito da gente se defender tamb\u00e9m de um ass\u00e9dio constante. Que pode nos produzir medo, e ainda nos induzir a ter certos comportamentos. Ent\u00e3o acho que \u00e9 uma obra que merece aten\u00e7\u00e3o. Acho que \u00e9 uma emo\u00e7\u00e3o que merece muita aten\u00e7\u00e3o”, explica. Repulsa \ud83e\udd22 Outro exemplo \u00e9 como o extremo na pol\u00edtica, pelo olhar do sentimento, se relaciona com a repulsa e o fasc\u00ednio. Josianne destaca que essas emo\u00e7\u00f5es acabam sendo mobilizadas politicamente, especialmente em estados autorit\u00e1rios, onde esses sentimentos podem justificar a\u00e7\u00f5es e pol\u00edticas. “Talvez esse seja (sentimento) o mais perigoso. \u00c9 porque ele anula a diferen\u00e7a que \u00e9 a base da nossa rela\u00e7\u00e3o social saud\u00e1vel. […] O sentimento de repulsa, ele tenta se basear em incertezas e em um padr\u00e3o repetido, que seria a solu\u00e7\u00e3o para tudo. Ent\u00e3o, eles sempre v\u00e3o indicar sentimentos muito radicais no sentido de desconsiderar a d\u00favida, desconsiderar \u00e9 a diferen\u00e7a. Sobretudo, desconsiderar a a diferen\u00e7a do outro”, relata. Ansiedade \ud83d\ude1f A professora chama a aten\u00e7\u00e3o em rela\u00e7\u00e3o a uma emo\u00e7\u00e3o que n\u00e3o est\u00e1 presente das indica\u00e7\u00f5es realizadas pela biblioteca: a ansiedade. Para ela, em tempos de tanta acelera\u00e7\u00e3o e cobran\u00e7a, em que todos lidam com a ansiedade, olhar para o futuro, dentro de um momento de muitas incertezas, pode acabar alimentando esse sentimento. \u201cE as ansiedades, fazendo uma analogia com aquilo que ela provoca individualmente, ela n\u00e3o costuma ser um estado de esp\u00edrito promissor. Podem ser consideradas um estado de esp\u00edrito que n\u00e3o ajuda a tomar as melhores decis\u00f5es. Ent\u00e3o, acho que \u00e9 um sentimento tamb\u00e9m para tomar para n\u00f3s como uma cautela e, como sociedade, entender melhor como estamos produzindo a ansiedade social e como essa ansiedade social nos afeta\u201d, explica. A ansiedade \u00e9 a nova emo\u00e7\u00e3o antag\u00f4nica de Divertida Mente 2. Mas, como dizem os especialistas, nem sempre \u00e9 um sentimento negativo. \u2014 Foto: GETTY IMAGES via BBC Indica\u00e7\u00f5es dos livros \ud83d\udcda O objetivo da iniciativa da biblioteca foi de enriquecer o conhecimento dos alunos de gradua\u00e7\u00e3o e do p\u00fablico geral, apresentando obras das \u00e1reas de filosofia, hist\u00f3ria e ci\u00eancias humanas de forma criativa. A ideia surgiu com a equipe de comunica\u00e7\u00e3o da biblioteca, que desde a cria\u00e7\u00e3o do Instagram, usa a vertente de mostrar livros, temas e conte\u00fados presentes no acervo. LEIA TAMB\u00c9M: De acordo com a Maria Cim\u00e9lia Garcia, que trabalha na \u00e1rea de comunica\u00e7\u00e3o biblioteca, \u201cmuitas vezes as pessoas nem imaginam o que tem\u201d dentro do acervo. Antes mesmo da ideia de usar as emo\u00e7\u00f5es do filme surgir, as indica\u00e7\u00f5es por meio da cria\u00e7\u00e3o de \u201cs\u00e9ries\u201d com temas e abordagens diversificadas j\u00e1 era algo comum na rede social. A inten\u00e7\u00e3o \u00e9 interagir diretamente com os alunos utilizando um linguajar mais din\u00e2mico. As escolhas foram feitas para que pudessem, de certa forma, levar algumas dessas emo\u00e7\u00f5es para os leitores. Ainda de acordo com Cim\u00e9lia, em compara\u00e7\u00e3o do que j\u00e1 \u00e9 postado no dia a dia, houve um aumento de 91,2% no engajamento e nas contas alcan\u00e7adas por conta desse novo formato. \u201cConsideramos muito bom esses dados, visto a natureza do posicionamento da biblioteca\u201d, finaliza. *Estagi\u00e1ria sob supervis\u00e3o de Gabriella Ramos. V\u00cdDEOS: tudo sobre Campinas e regi\u00e3o <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

No entanto, essas \u00e1reas de conhecimento n\u00e3o s\u00e3o as \u00fanicas capazes de explor\u00e1-las e um exemplo disso est\u00e1 nas ci\u00eancias sociais. Josianne…<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":26370,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[17,1],"tags":[],"class_list":["post-26369","post","type-post","status-publish","format-standard","has-post-thumbnail","hentry","category-cidades","category-todas-noticias"],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/26369","targetHints":{"allow":["GET"]}}],"collection":[{"href":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=26369"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/26369\/revisions"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media\/26370"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=26369"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=26369"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=26369"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}