{"id":25771,"date":"2024-06-30T20:01:00","date_gmt":"2024-06-30T23:01:00","guid":{"rendered":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/por-que-tanta-gente-odeia-pombos\/"},"modified":"2024-06-30T20:01:00","modified_gmt":"2024-06-30T23:01:00","slug":"por-que-tanta-gente-odeia-pombos","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/por-que-tanta-gente-odeia-pombos\/","title":{"rendered":"Por que tanta gente odeia pombos?"},"content":{"rendered":"
BBC News Brasil Estou em um p\u00e1tio, observando Lisa Davies retirar um conjunto de manicure rosa beb\u00ea de sua mochila e abri-lo no colo. O kit conta com uma variedade de pin\u00e7as e lixas de unha, entre outros elementos. Como um cirurgi\u00e3o arrumando seus instrumentos antes de uma opera\u00e7\u00e3o, ela passa as m\u00e3os sobre os instrumentos e pega uma tesoura de unha. \u00c9 uma tarde quente e \u00famida de domingo em um cemit\u00e9rio no bairro londrino do Soho. Grupos de adolescentes descansam na grama, enquanto homens sem camisa jogam t\u00eanis de mesa ao fundo. Mas mais adiante no parque, uma cena de ver\u00e3o menos t\u00edpica se desenrola. Um grupo de volunt\u00e1rios est\u00e1 reunido em torno de um bando de 50 pombos, observando atentamente suas patas. Um est\u00e1 mancando. Os p\u00e9s do jovem pombo est\u00e3o inchados, presos em um emaranhado de longos e escuros cabelos humanos e fios de algod\u00e3o \u2014os detritos da vida na cidade, recolhidos ao longo de muitos meses de caminhada ao lado dos pedestres.Este \u00e9 um caso cl\u00e1ssico de “string foot” (ou corda nos p\u00e9s, em tradu\u00e7\u00e3o livre) que, sem ajuda humana, ir\u00e1 gradualmente cortar o fornecimento de sangue aos p\u00e9s e aos dedos dos p\u00e9s, at\u00e9 que caiam completamente. Mas esse pombo \u00e9 um dos sortudos. Com impressionante confian\u00e7a e precis\u00e3o, Davies \u2014uma estudante que tem trabalhado como volunt\u00e1ria com pombos nos \u00faltimos 18 meses\u2014 estende os bra\u00e7os para a frente e gentilmente tira a ave da multid\u00e3o. Ela o prende sob a camiseta que, apropriadamente, tem uma estampa de pombo. Demora cerca de meia hora puxando e cortando cuidadosamente antes que os pelos sejam removidos, e o p\u00e1ssaro possa ser solto em uma enxurrada de penas. Davies faz parte do grupo London Pigeon String Foot and Rescue (Resgate de pombos com cordas nos p\u00e9s em Londres, em tradu\u00e7\u00e3o literal), uma organiza\u00e7\u00e3o que visa ajudar os aproximadamente tr\u00eas milh\u00f5es de pombos da cidade. Os volunt\u00e1rios se re\u00fanem todos os domingos, durante todo o ano, para cuidar dos p\u00e9s mutilados dos pombos espalhados pela cidade. Enquanto pondero sobre essa nobre tarefa, sou arrancada do meu devaneio por uma como\u00e7\u00e3o – na rua abaixo, um homem est\u00e1 perseguindo um pombo “por brincadeira”, lan\u00e7ando no ar uma tempestade de p\u00e1ssaros em p\u00e2nico. Os pombos urbanos est\u00e3o entre os animais mais detestados do planeta. Depois de uma s\u00e9rie de mal-entendidos que remontam a d\u00e9cadas, eles se tornaram amplamente considerados sujos, fontes de doen\u00e7as e semelhantes a “ratos voadores”. As les\u00f5es horr\u00edveis deles muitas vezes s\u00e3o consequ\u00eancias da exist\u00eancia desesperada e oprimida, e a propens\u00e3o deles para viver perto dos humanos \u00e9 por vezes considerada irritante ou anti-higi\u00eanica. Mas nem sempre foi assim. Durante mil\u00eanios, os pombos foram vistos com respeito e at\u00e9 rever\u00eancia. Um imperador mongol era um grande f\u00e3 e transportava cerca de 20 mil p\u00e1ssaros aonde quer que fosse, enquanto o cientista brit\u00e2nico Charles Darwin \u2014que a certa altura tinha um grupo de 90\u2014 era supostamente obcecado por eles. Mas, afinal, como nosso relacionamento com essas criaturas deu t\u00e3o errado? EXIST\u00caNCIA PARALELA Ao longo da costa rochosa das H\u00e9bridas Exteriores (ou Ilhas Ocidentais), um grupo de ilhas no Reino Unido, empoleirados no topo de fal\u00e9sias e edif\u00edcios abandonados, encontram-se rostos familiares: cabe\u00e7as cinzentas com grandes olhos laranja, \u00e0 espreita dos transeuntes. S\u00e3o os pombos-das-rochas, Columba livia. Embora estas aves pare\u00e7am quase id\u00eanticas aos pombos encontrados nas cidades, n\u00e3o s\u00e3o iguais. Este remoto posto avan\u00e7ado escoc\u00eas tem uma das popula\u00e7\u00f5es mais selvagens desses pombos do planeta – \u00e9 um dos \u00faltimos lugares onde se agarraram a uma propor\u00e7\u00e3o substancial da sua gen\u00e9tica ancestral original. Os pombos vistos nas cidades, por outro lado, s\u00e3o um caso totalmente diferente. Eles pertencem \u00e0 subesp\u00e9cie Columba livia domestica e s\u00e3o quase exclusivamente descendentes de aves domesticadas, que forneceram um fluxo constante de fugitivos para perambular pelos assentamentos humanos nos \u00faltimos 4.000 anos. Existem varia\u00e7\u00f5es sutis na ancestralidade das popula\u00e7\u00f5es de uma regi\u00e3o para outra, dependendo das ra\u00e7as espec\u00edficas tradicionalmente mantidas naquela parte do mundo – em algum momento, no entanto, a \u00e1rvore geneal\u00f3gica da grande maioria dos pombos leva de volta \u00e0 mesma origem das aves que convivem com humanos. Os pombos dom\u00e9sticos confiam extraordinariamente nos humanos e s\u00e3o atra\u00eddos para ambientes com alta densidade de pessoas. Paul Themis, conhecido na comunidade de resgate de vida selvagem como Paul Leous Pigeon, \u00e9 um reabilitador de pombos de Londres. Ele ajuda pombos na cidade h\u00e1 17 anos e foi cofundador do grupo London Pigeon String Foot and Rescue h\u00e1 cinco anos. At\u00e9 agora, ele estima ter resgatado mais de 1.000 pombos e agora vive com pelo menos 20 ex-pacientes \u2014ele n\u00e3o me diz exatamente quantos\u2014 que vagam livremente pela sua casa. Themis reabilitou pombos ao longo dos anos e explica que h\u00e1 uma diferen\u00e7a marcante no seu comportamento. Veja o exemplo do pombo-torcaz comum \u2014um p\u00e1ssaro grande e bonito com manchas verdes brancas e iridescentes no pesco\u00e7o, que habita parques, jardins e bordas de florestas no Reino Unido. A esp\u00e9cie \u00e9 distinta dos pombos selvagens, mas s\u00e3o primos pr\u00f3ximos \u2014e mostram como os pombos verdadeiramente selvagens veem as pessoas. “Quando voc\u00ea pega os pombos, eles quase podem ter um ataque card\u00edaco de tanto medo”, diz Themis. “Eles s\u00e3o como qualquer outro p\u00e1ssaro selvagem.” Por outro lado, diz, “os pombos dom\u00e9sticos est\u00e3o t\u00e3o acostumados com os humanos que alguns deles nem se incomodam se voc\u00ea os pegar”. Os pombos dom\u00e9sticos t\u00eam at\u00e9 uma biologia diferente. Assim como as galinhas, essas aves domesticadas se reproduzem com mais frequ\u00eancia do que as vers\u00f5es selvagens e produzem mais ovos por ninhada. Na verdade, a vida dos pombos dom\u00e9sticos est\u00e1 intimamente ligada \u00e0 das pessoas. Caminham pelas ruas humanas \u2014preferem viajar a p\u00e9\u2014, abrigam-se nos recantos aconchegantes criados pela arquitetura humana e comem restos de comida humana. Um estudo descobriu que eles tendem a ser atra\u00eddos por estruturas artificiais e locais com atividade humana, enquanto evitam habitats mais tradicionalmente associados \u00e0 vida selvagem, como \u00e1reas de floresta densa. Como comedores de sementes que ganham a vida num mundo urbano de concreto e a\u00e7o, pode ser um desafio para os pombos dom\u00e9sticos encontrarem comida suficiente, diz Themis. Depois de uma s\u00e9rie de proibi\u00e7\u00f5es \u00e0 alimenta\u00e7\u00e3o de pombos na Trafalgar Square, em Londres, a partir de 2007, cientistas de ag\u00eancias governamentais confirmaram ao jornal Evening Standard que v\u00e1rias aves tinham morrido de fome. Os pombos selvagens que andam e balan\u00e7am a cabe\u00e7a pelas ruas de S\u00e3o Paulo, Londres, Nova York, Singapura, Cidade do Cabo e outras grandes cidades globais foram criados por humanos. Eles s\u00e3o totalmente dependentes de n\u00f3s. E ainda assim, n\u00f3s os rejeitamos. \u00c0 medida que minha tarde de domingo com o grupo London Pigeon String Foot and Rescue avan\u00e7a, suas atividades recebem rea\u00e7\u00f5es dos espectadores que v\u00e3o desde uma curiosidade confusa \u2014”o que voc\u00ea est\u00e1 fazendo com aquele pombo?”\u2014 \u00e0 hostilidade total. Os volunt\u00e1rios est\u00e3o constantemente em alerta para a pr\u00f3xima onda de abusos verbais, especialmente quando alimentam pombos, algo a que muitas pessoas se op\u00f5em. H\u00e1 in\u00fameros exemplos de indiferen\u00e7a ou mesmo de crueldade. Os pedestres esbarram nos pombos como se eles n\u00e3o estivessem ali, for\u00e7ando bandos inteiros a fugirem do caminho. As crian\u00e7as os perseguem, criando um p\u00e2nico leve que alguns adultos parecem considerar um esporte aceit\u00e1vel. Themis, que tamb\u00e9m foi cofundador da organiza\u00e7\u00e3o de bem-estar animal London Wildlife Protection em 2011, explica que, dado o preconceito generalizado contra os pombos, os volunt\u00e1rios s\u00e3o extremamente cuidadosos com quem pede ajuda. Muitos veterin\u00e1rios sacrificam pombos feridos como algo natural, diz ele, embora as aves sejam notavelmente resistentes; \u00e9 comum ver pombos saud\u00e1veis que perderam totalmente os dois p\u00e9s. E embora os bombeiros muitas vezes concordem em ajudar quando as aves ficam presas em redes, Themis explica que obter permiss\u00e3o dos propriet\u00e1rios dos edif\u00edcios para retirar as v\u00edtimas pode ser um campo minado diplom\u00e1tico. UM ERRO SOCIAL Em 2016, o \u00f3dio irracional que muitas pessoas sentem pelos pombos fez Ver\u00f4nica Sevillano pensar sobre o tema. Hoje Sevillano trabalha como professora assistente de Psicologia Social e Ambiental na Universidade Aut\u00f4noma de Madrid. Mas na \u00e9poca ela trabalhava com Susan Fiske, professora de Psicologia da Universidade de Princeton, em Nova Jersey, que estuda como as pessoas formam preconceitos contra determinados grupos sociais. Os pesquisadores se perguntaram: assim como temos uma imagem clara, e geralmente falha, das caracter\u00edsticas t\u00edpicas de, digamos, povos ingleses ou americanos, poder\u00edamos ter preconceitos semelhantes sobre certas esp\u00e9cies de animais? Juntos, Sevillano e Fiske descobriram que este era realmente o caso. Tal como as nossas opini\u00f5es sobre as diferentes demografias das pessoas, a forma como as esp\u00e9cies animais s\u00e3o percebidas se baseia em duas caracter\u00edsticas: qu\u00e3o competentes elas parecem (ou seja, quais s\u00e3o as suas capacidades) e qu\u00e3o cordiais elas pensavam ser (ou seja, qu\u00e3o favor\u00e1veis consideramos as suas inten\u00e7\u00f5es em rela\u00e7\u00e3o a n\u00f3s). Em ess\u00eancia, aplicamos aos pombos as mesmas regras de julgamento social que aplicamos \u00e0s pessoas. Infelizmente para os pombos, eles tendem a ser vistos como extremamente baixos em ambos aspectos. “N\u00e3o nos importamos de matar ou perseguir estes animais porque as dimens\u00f5es de cordialidade e compet\u00eancia neste caso s\u00e3o bastante negativas”, diz Sevillano. Sevillano explica que \u00e9 importante estarmos cientes de que essas cren\u00e7as enviesada est\u00e3o sendo aplicadas automaticamente e contribuindo para nossos sentimentos de desprezo. Isso \u00e9 especialmente verdade porque, tal como os estere\u00f3tipos negativos sobre outros grupos marginalizados, a percep\u00e7\u00e3o recorrente dos pombos n\u00e3o se baseia na realidade. Como explica Themis, quase todas as suposi\u00e7\u00f5es desfavor\u00e1veis que temos sobre os pombos s\u00e3o um mito. Considere a ideia de que os pombos n\u00e3o s\u00e3o inteligentes. Isto \u00e9 particularmente f\u00e1cil de refutar, porque eles t\u00eam sido amplamente utilizados em estudos comportamentais, que revelaram algumas capacidades not\u00e1veis. Para come\u00e7ar, os pombos t\u00eam boa mem\u00f3ria: conseguem identificar seres humanos individuais pelas suas caracter\u00edsticas faciais e s\u00e3o capazes de recordar as dire\u00e7\u00f5es para uma determinada viagem durante anos depois de terem voltado para casa. Os pombos t\u00eam vidas interiores complexas e experimentos revelaram que eles s\u00e3o at\u00e9 capazes de entender conceitos como espa\u00e7o e tempo \u2014um feito surpreendente, visto que eles n\u00e3o t\u00eam c\u00f3rtex cerebral, a camada mais externa e enrugada do c\u00e9rebro que os humanos usam para compreender tais ideias abstratas. Mais recentemente, os cientistas descobriram que os pombos dom\u00e9sticos resolvem certos problemas de forma semelhante aos algoritmos de intelig\u00eancia artificial, usando tentativa e erro para aprender a reconhecer padr\u00f5es e prever a melhor solu\u00e7\u00e3o para um determinado problema. No entanto, se essas elevadas atividades intelectuais fazem os pombos parecerem intimidadores ou preocupantes, podemos ter certeza de que eles t\u00eam algumas falhas. Um estudo descobriu que as aves agem de forma semelhante aos humanos, caindo na conhecida armadilha psicol\u00f3gica de, em diferentes contextos, apostar em uma chance remota de ganhar muito, em vez de uma chance garantida de ganho m\u00e9dio. Themis diz que os pombos muitas vezes o lembram de c\u00e3es \u2014eles s\u00e3o inteligentes, soci\u00e1veis e podem ser muito afetuosos com as pessoas. Em 2020, a organiza\u00e7\u00e3o sem fins lucrativos Peta, que defende os direitos dos animais, lan\u00e7ou uma campanha para rebatizar os pombos como “filhotes do c\u00e9u”, uma vez que eles “fazem coc\u00f4 em p\u00fablico, imploram por comida e reconhecem as pessoas que s\u00e3o legais com eles”. Talvez a acusa\u00e7\u00e3o mais prejudicial contra os pombos seja a de que est\u00e3o infestados de doen\u00e7as \u2014mas mesmo aqui as provas n\u00e3o se confirmam. Por um lado, s\u00e3o altamente resistentes \u00e0 gripe avi\u00e1ria. Raramente contraem o v\u00edrus e, quando o fazem, tendem a ter quantidades baixas no corpo. Os pombos podem transmitir algumas doen\u00e7as com potencial de se espalharem para os humanos, embora as infec\u00e7\u00f5es sejam relativamente raras. Um estudo descobriu que, entre 1941 e 2004, houve apenas 207 relatos de pat\u00f3genos transmitidos de pombos para humanos – em qualquer lugar do mundo. Ao todo, foram 13 mortes registradas. O n\u00famero real pode ser mais elevado, mas teria de ser maior em v\u00e1rias ordens de grandeza para competir com a escala de infec\u00e7\u00f5es de outros animais domesticados \u2014especialmente alguns daqueles com reputa\u00e7\u00f5es mais favor\u00e1veis. Segundo a Organiza\u00e7\u00e3o Mundial da Sa\u00fade (OMS), ocorrem cerca de 59 mil casos de raiva em humanos todos os anos, 99% dos quais s\u00e3o transmitidos por meio de c\u00e3es \u2014e 100% dos quais s\u00e3o fatais. Mesmo em pa\u00edses sem o v\u00edrus, acredita-se que muitos outros agentes patog\u00eanicos podem ser adquiridos de c\u00e3es e gatos, incluindo a superbact\u00e9ria MRSA. Dadas essas compara\u00e7\u00f5es, Themis acredita que nosso julgamento em rela\u00e7\u00e3o aos pombos \u00e9 equivocado. UMA REVIRAVOLTA INESPERADA Uma das coisas mais estranhas sobre a tend\u00eancia de vilanizar os pombos \u00e9 que ela \u00e9 relativamente nova. Nadira Faber, professora de psicologia na Universidade de Bremen e pesquisadora em filosofia na Universidade de Oxford, explica como atitudes desfavor\u00e1veis em rela\u00e7\u00e3o aos pombos podem ser interpretadas como especismo \u2014uma forma de discrimina\u00e7\u00e3o baseada na ideia de que algumas esp\u00e9cies s\u00e3o moralmente superiores a outras. Esse preconceito psicol\u00f3gico geralmente est\u00e1 ligado \u00e0s categorias em que classificamos os diferentes animais, como “animal de estima\u00e7\u00e3o”, “alimento” ou “praga”. No entanto, Faber sugere que os pombos s\u00e3o um caso interessante. Os pombos h\u00e1 muito tempo s\u00e3o associados ao amor, \u00e0 fertilidade e \u00e0 beleza celestial, por culturas que v\u00e3o desde os babil\u00f4nios at\u00e9 os antigos gregos. No s\u00e9culo 16, o imperador mogol Akbar, o Grande, elevou os pombos a um novo n\u00edvel, com uma vasta popula\u00e7\u00e3o que aprendeu truques de voo elaborados, como cambalhotas e arcos dram\u00e1ticos. Na Gr\u00e3-Bretanha vitoriana, as criaturas ganharam novamente destaque, e clubes de pombos surgiram em todo o pa\u00eds \u2014lugares onde orgulhosos aquaristas podiam exibir ra\u00e7as estranhas e “chiques”, como a ra\u00e7a English short-faced tumbler, com seu rosto achatado e apar\u00eancia de constante surpresa. Durante a Segunda Guerra Mundial, os pombos conquistaram ainda mais apre\u00e7o do p\u00fablico. No Reino Unido, 32 dos mais valentes pombos-oficiais foram premiados com a Medalha Dickin, uma premia\u00e7\u00e3o para animais semelhante \u00e0 Victoria Cross, a mais alta homenagem oferecida a militares brit\u00e2nicos. Um pombo americano, GI Joe, se tornou famoso em todo o mundo por ter salvado uma vila [ao transportar uma mensagem durante a Segunda Guerra Mundial]. Ainda hoje, as pombas brancas s\u00e3o s\u00edmbolos de paz e amor em todo o mundo \u2014enquanto os seus primos pr\u00f3ximos s\u00e3o vistos como um animal que causa danos. “\u00c9 fascinante que a mesma esp\u00e9cie possa, dependendo do momento e da cultura que observamos, ser vista como pertencente a categorias diferentes”, diz Faber. \u00c0 medida que a minha tarde com o grupo de resgate de pombos de Londres termina, viramos para uma rua lateral onde pessoas sem teto fazem fila para uma refei\u00e7\u00e3o gratuita em um carro que est\u00e1 distribuindo comida. Ao longo do dia, os volunt\u00e1rios ajudaram pelo menos 11 aves, incluindo uma cujo dedo escuro caiu enquanto era examinado – levando a alguma confus\u00e3o sobre o que deveria ser feito com esse elemento macabro (no fim, algu\u00e9m reivindicou para sua cole\u00e7\u00e3o). Nos sentamos no meio-fio enquanto um pombo que se arrastava com os dois p\u00e9s amarrados era cuidado. O sol estava forte, todos estavam cansados e parece que o trabalho vai demorar pelo menos uma hora. Mas aqui os pombos \u2014e o grupo de resgate\u2014 recebem a sua melhor rea\u00e7\u00e3o durante todo o dia, das pessoas que vivem nas proximidades deles, nas ruas de Londres. “Voc\u00eas s\u00e3o anjos”, um morador de rua sorri para n\u00f3s, enquanto outro compartilha seu jantar com uma multid\u00e3o de p\u00e1ssaros. Este texto foi publicado originalmente aqui. <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
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