A Empresa de Desenvolvimento Urbano de Campinas (Emdec), \u00f3rg\u00e3o respons\u00e1vel pela organiza\u00e7\u00e3o e fiscaliza\u00e7\u00e3o do transporte p\u00fablico, defende que o n\u00famero de \u00f4nibus acompanha a demanda de passageiros. “Assim como ocorreu na maioria das cidades brasileiras, houve uma redu\u00e7\u00e3o no n\u00famero de passageiros no per\u00edodo p\u00f3s-pandemia em rela\u00e7\u00e3o ao per\u00edodo pr\u00e9-pandemia”, diz a Emdec. Especialistas ouvidos pelo g1 dizem que o encolhimento no n\u00famero de ve\u00edculos pode ser resultado de uma recupera\u00e7\u00e3o lenta ap\u00f3s a pandemia, mas cen\u00e1rio gera preju\u00edzos para popula\u00e7\u00e3o. Para compreender as mudan\u00e7as e os impactos sociais e ambientais provocados pelo cen\u00e1rio atual do transporte urbano de Campinas, o g1 conversou com tr\u00eas especialistas em mobilidade: pesquisadora da Unicamp Janini Dias da Silva professor da Faculdade de Engenharia Civil e de Arquitetura e Urbanismo de Unicamp Pedro Perez-Martinezdiretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Puc-Campinas, F\u00e1bio Muzetti Frota de \u00f4nibus urbano em Campinas \u00e9 16% menor que antes da pandemia, mas linhas aumentam 8,7% \u2014 Foto: Reprodu\u00e7\u00e3o EPTV Por que aconteceu a queda?Impactos sociais e ambientaisDesafios e oportunidadesO que diz a EMDEC? Por que aconteceu a queda? Ao pedir o levantamento, o g1 questionou quantos \u00f4nibus circularam em Campinas nos dias da semana e aos s\u00e1bados e domingos, quando o n\u00famero \u00e9 naturalmente menor por conta da demanda, entre 2019 e 2024. A Emdec respondeu com o n\u00famero amostral de tr\u00eas dias espec\u00edficos de novembro de 2019, 2020, 2021, 2022 e 2023, e outro de abril de 2024. Segundo a empresa, essa amostragem reflete a quantidade m\u00e9dia de cada ano. O total \u00f4nibus em circula\u00e7\u00e3o caiu de 1.081 carros em 2019 para 694 em 2020, como reflexo do per\u00edodo de lockdown provocado pela pandemia de Covid-19. Esse n\u00famero foi se recuperando e chegou a 823 em 2021; 897 ve\u00edculos em 2022; chegou a 911 em 2023 e, em 2024, atingiu os atuais 906 carros. O n\u00famero de linhas ativas tamb\u00e9m apresentou decr\u00e9scimo durante a pandemia, passando de 207 itiner\u00e1rios em 2019 para 193 no ano que come\u00e7ou a pandemia em 2020. Depois, 196 em 2021; 203 em 2022; at\u00e9 superar o patamar inicial em 2023, com 218 linhas e 225 em 2024. Veja no gr\u00e1fico abaixo. Segundo os especialistas entrevistados, o principal motivo da queda foi a pandemia de Covid-19, que provocou uma medida de confinamento sanit\u00e1rio e consequentemente diminuiu o uso do transporte p\u00fablico. No entanto, o levantamento mostra que a frota ainda n\u00e3o recuperou o patamar pr\u00e9-pand\u00eamico. Segundo a Emdec, o n\u00famero de passageiros (que tem rela\u00e7\u00e3o direta com o de \u00f4nibus) ap\u00f3s a pandemia foi impactado tr\u00eas fatores: pela migra\u00e7\u00e3o para meios de transporte por aplicativopelo aumento da frota de motocicletas, em fun\u00e7\u00e3o do cen\u00e1rio econ\u00f4micoe pelo crescimento das posi\u00e7\u00f5es de trabalho em home office. Para Muzetti, morosidade na troca de ve\u00edculos velhos por novos \u00e9 outro fator. H\u00e1 tamb\u00e9m, segundo Janini da Silva, \u00f4nibus sem conforto e seguran\u00e7a, al\u00e9m de n\u00e3o suprir a quantidade de hor\u00e1rio e o alcance do trajeto necess\u00e1rios para os usu\u00e1rios. \u201cQuanto menos ve\u00edculos de transporte p\u00fablico na cidade, quanto menos op\u00e7\u00e3o para a popula\u00e7\u00e3o, mais a popula\u00e7\u00e3o vai procurar outro transporte individual e eles s\u00e3o mais poluentes, acabam emitindo mais polui\u00e7\u00e3o\u201d, diz a pesquisadora Janini Dias da Silva. \u201cA popula\u00e7\u00e3o tende a buscar outros meios de deslocamentos como os modos individuais\u201d, afirma Pedro Perez-Martinez. J\u00e1 F\u00e1bio Muzetti lembra que outros fatores devem ser considerados, como a mudan\u00e7a de comportamento em alguns usu\u00e1rios, que passaram a trabalhar com entregas, ou como motoristas de aplicativos. \u201cTem muita gente salvando a renda familiar, na falta de emprego, com esse servi\u00e7o de Uber. Ent\u00e3o muita gente que n\u00e3o tinha carro ou n\u00e3o usava no dia a dia, come\u00e7ou a usar\u201d, esclarece F\u00e1bio Muzetti. A Emdec defende que a qualidade do servi\u00e7o prestado n\u00e3o est\u00e1 diretamente relacionada \u00e0 quantidade de ve\u00edculos na frota. “As amplia\u00e7\u00f5es de itiner\u00e1rios e cria\u00e7\u00e3o de novas linhas mencionadas atendem geralmente \u00e0s demandas da popula\u00e7\u00e3o para ampliar a abrang\u00eancia do atendimento” . \u00d4nibus do transporte p\u00fablico municipal de Campinas \u2014 Foto: Fernanda Sunega\/Prefeitura Municipal de Campinas Impactos sociais e ambientais Para Muzetti, o atual modelo prejudica as pessoas que vivem nos lugares mais afastados do centro da metr\u00f3pole, reflexo de uma ocupa\u00e7\u00e3o espalhada e pouco planejada no territ\u00f3rio, que difere de outras cidades do mesmo porte. Ele completa que o problema ocorre por uma defici\u00eancia no planejamento urbano, zoneamento e na pr\u00f3pria falta de controle na expans\u00e3o do per\u00edmetro. Essa “bola de neve” provoca na popula\u00e7\u00e3o a necessidade de decidir pela mudan\u00e7a para o transporte particular por aplicativo. Escolha que, segundo os especialistas entrevistados, reflete na diminui\u00e7\u00e3o da demanda e as empresas respons\u00e1veis passam a justificar a queda no n\u00famero de \u00f4nibus para n\u00e3o ter de aumentar a tarifa. Muzetti tamb\u00e9m defende que os \u00f4nibus impactam menos no tr\u00e2nsito que carros, j\u00e1 que os coletivos podem levar at\u00e9 72 passageiros e o carro, com 2 metros quadrados, transporta no m\u00e1ximo cinco. \u201cVoc\u00ea tirar mais carros das vias para movimentar o transporte p\u00fablico \u00e9 muito melhor para o tr\u00e2nsito\u201d, afirma o professor Muzetti. Para Muzetti, o atual modelo prejudica as pessoas que vivem nos lugares mais afastados do centro da metr\u00f3pole. \u2014 Foto: Reprodu\u00e7\u00e3o EPTV Quais as sa\u00eddas? Todos os especialistas entrevistados apontam a integra\u00e7\u00e3o dos meios de transporte, al\u00e9m da necessidade de trabalhar com m\u00faltiplos modais – como uma implanta\u00e7\u00e3o mais sistem\u00e1tica do BRT – como alternativas para melhoria do transporte p\u00fablico da metr\u00f3pole. \u201cSeria muito eficiente a implanta\u00e7\u00e3o de redes de transporte de passageiros em massa como metr\u00f4 e VLT. Esses modais s\u00e3o mais sustent\u00e1veis e garantiriam o acesso \u00e0 grande parte da popula\u00e7\u00e3o, reduzindo congestionamentos, e tamb\u00e9m auxiliaria no crescimento econ\u00f4mico da regi\u00e3o\u201d, afirma Pedro Os pesquisadores tamb\u00e9m defendem maior participa\u00e7\u00e3o social e da comunidade acad\u00eamica, bem como investimento p\u00fablico e a prioriza\u00e7\u00e3o de modos coletivos e n\u00e3o motorizados. \u201cA gente tem que pensar cada vez mais na quest\u00e3o das emiss\u00f5es veiculares e ter uma pol\u00edtica de sustentabilidade voltado para \u00e1rea do transporte, buscando conforto maior dos ve\u00edculos. Um sistema de transporte p\u00fablico melhor, acess\u00edvel, seguro para a popula\u00e7\u00e3o e que chegue em pontos mais distantes\u201d, conclui Janini. Em nota, a Emdec afirma que investe na amplia\u00e7\u00e3o da malha ciclovi\u00e1ria e em projetos de prioriza\u00e7\u00e3o da mobilidade ativa. “Em maio deste ano, o munic\u00edpio alcan\u00e7ou mais de 107 km de rotas ciclovi\u00e1rias. Al\u00e9m disso, o munic\u00edpio deve receber o Trem Intercidades (TIC) S\u00e3o Paulo \u2013 Campinas (Eixo Norte) e o Trem Intermetropolitano (TIM) Jundia\u00ed \u2013 Campinas”. Pesquisadores defendem maior participa\u00e7\u00e3o social e da comunidade acad\u00eamica, bem como investimento p\u00fablico e a prioriza\u00e7\u00e3o de modos coletivos e n\u00e3o motorizados. \u2014 Foto: Reprodu\u00e7\u00e3o EPTV Nota completa da Emdec O n\u00famero de ve\u00edculos dispon\u00edvel na frota do transporte p\u00fablico coletivo acompanha a demanda de passageiros. Assim como ocorreu na maioria das cidades brasileiras, houve uma redu\u00e7\u00e3o no n\u00famero de passageiros no per\u00edodo p\u00f3s-pandemia em rela\u00e7\u00e3o ao per\u00edodo pr\u00e9-pandemia. Em 2019, antes do per\u00edodo pand\u00eamico, a m\u00e9dia de passageiros transportados era de 528,6 mil. Esse n\u00famero caiu 42,4% em 2020 \u2013 304,4 mil e 37,5% em 2021 \u2013 330,2 mil. A partir de 2022, a demanda aumentou cerca de 29% em rela\u00e7\u00e3o a 2021. Foram transportados, em m\u00e9dia, 423,6 mil passageiros em 2022 e, entre janeiro e dezembro de 2023, foram 427 mil passageiros transportados. Em 2024, considerando a m\u00e9dia de 428,3 mil passageiros em dias \u00fateis do m\u00eas de maio, a queda foi de 19% em rela\u00e7\u00e3o a 2019. O n\u00famero de passageiros do transporte p\u00fablico coletivo no per\u00edodo p\u00f3s-pandemia tamb\u00e9m foi impactado pela migra\u00e7\u00e3o dos passageiros para meios de transporte por aplicativo; pelo aumento da frota de motocicletas, em fun\u00e7\u00e3o do cen\u00e1rio econ\u00f4mico; e pelo crescimento das posi\u00e7\u00f5es de trabalho em home office. Varia\u00e7\u00e3o no n\u00famero de linhas em opera\u00e7\u00e3o Quanto \u00e0 varia\u00e7\u00e3o no n\u00famero de linhas, entre o final de 2022 e o in\u00edcio de 2024, foram criadas sete linhas BRT, que operam os corredores Campo Grande e Ouro Verde, al\u00e9m de nove linhas alimentadoras. Al\u00e9m disso, nos \u00faltimos tr\u00eas anos, a Emdec vem realizando a reestrutura\u00e7\u00e3o das linhas que contam com atendimentos derivados (linhas \u201cfilhas\u201d). At\u00e9 ent\u00e3o, somente as linhas principais eram computadas, o que impacta no total de linhas do sistema. Tamb\u00e9m foram criadas, entre 2022 a 2024, 13 novas linhas; e 188 a\u00e7\u00f5es de amplia\u00e7\u00e3o de itiner\u00e1rio foram realizadas pela Emdec nesse per\u00edodo. Atrasos e tempos de espera De forma permanente, a Emdec monitora o desempenho das linhas municipais e realiza os ajustes necess\u00e1rios para otimizar a opera\u00e7\u00e3o em benef\u00edcio dos usu\u00e1rios. Ao longo de 2023, a Emdec promoveu cerca de 1,3 mil ajustes em linhas municipais, incluindo refor\u00e7o de frota, amplia\u00e7\u00f5es de itiner\u00e1rio, ajustes na programa\u00e7\u00e3o hor\u00e1ria, cria\u00e7\u00e3o ou retorno da opera\u00e7\u00e3o de linhas paralisadas. Tamb\u00e9m ocorre a fiscaliza\u00e7\u00e3o permanente da opera\u00e7\u00e3o das linhas municipais. Quando constatadas falhas na opera\u00e7\u00e3o, os ve\u00edculos s\u00e3o autuados por viagens n\u00e3o realizadas, antecipa\u00e7\u00e3o ou atrasos, falta de ve\u00edculos. Vale lembrar que a total moderniza\u00e7\u00e3o da frota do transporte p\u00fablico est\u00e1 atrelada \u00e0 licita\u00e7\u00e3o do transporte p\u00fablico coletivo. Na fase atual, a Comiss\u00e3o Especial de Licita\u00e7\u00e3o trabalha na conclus\u00e3o de um modelo baseado nas contribui\u00e7\u00f5es da consulta p\u00fablica e na atualiza\u00e7\u00e3o de pre\u00e7os. A qualidade do servi\u00e7o prestado n\u00e3o est\u00e1 diretamente relacionada \u00e0 quantidade de ve\u00edculos na frota. Ao contr\u00e1rio do que afirma o especialista, as amplia\u00e7\u00f5es de itiner\u00e1rios e cria\u00e7\u00e3o de novas linhas mencionadas atendem geralmente \u00e0s demandas da popula\u00e7\u00e3o para ampliar a abrang\u00eancia do atendimento. Implanta\u00e7\u00e3o de m\u00faltiplos modais Como medidas de incentivo a meios sustent\u00e1veis de deslocamento, Campinas vem investindo na amplia\u00e7\u00e3o da malha ciclovi\u00e1ria e em projetos de prioriza\u00e7\u00e3o da mobilidade ativa. Em maio deste ano, o munic\u00edpio alcan\u00e7ou mais de 107 km de rotas ciclovi\u00e1rias. Al\u00e9m disso, o munic\u00edpio deve receber o Trem Intercidades (TIC) S\u00e3o Paulo \u2013 Campinas (Eixo Norte) e o Trem Intermetropolitano (TIM) Jundia\u00ed \u2013 Campinas. Diminui\u00e7\u00e3o da polui\u00e7\u00e3o atmosf\u00e9rica Toda a frota do sistema de transporte p\u00fablico coletivo de Campinas utiliza biodiesel, seguindo as diretrizes estabelecidas pela legisla\u00e7\u00e3o aplic\u00e1vel. Em 2023, foi incorporado \u00e0 frota do transporte p\u00fablico coletivo o primeiro \u00f4nibus movido a G\u00e1s Natural Veicular (GNV), que reduz as emiss\u00f5es de poluentes e apresenta baixo custo de combust\u00edvel. No in\u00edcio de maio, o governo federal anunciou a libera\u00e7\u00e3o de recursos do Programa de Acelera\u00e7\u00e3o do Crescimento (PAC) ao mun\u00edcipio de Campinas, que inclui cerca de R$ 949,2 mil de cr\u00e9dito liberado para aquisi\u00e7\u00e3o de 512 \u00f4nibus – 256 do modelo el\u00e9trico e outros 256 convencionais. No momento, a Emdec analisa as quest\u00f5es financeiras legais para que os recursos sejam utilizados, incluindo meios de contrata\u00e7\u00e3o. As pol\u00edticas de subs\u00eddio \u00e0 tarifa do transporte p\u00fablico coletivo atuais envolvem as gratuidades dedicadas aos idosos e descontos na tarifa para estudantes e universit\u00e1rios. *Reportagem sob supervis\u00e3o Fernando Evans V\u00cdDEOS: saiba tudo sobre Campinas e Regi\u00e3o <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
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