Na cidade, s\u00e3o ao menos dez pessoas que ainda mant\u00eam viva essa tradi\u00e7\u00e3o, atendendo pessoas que os buscam por diferentes motivos, como cura para doen\u00e7as, prote\u00e7\u00e3o contra o mau olhado e sucesso na vida amorosa ou financeira. Fruto da Lei Paulo Gustavo, \u201cBenzadeus\u201d \u00e9 idealizado, roteirizado e dirigido por Fabiano. A trilha sonora \u00e9 do m\u00fasico ingl\u00eas Wayne Hussey, conhecido por sua participa\u00e7\u00e3o nos bandas de rock The Mission, The Sisters of Mercy e Dead or Alive. A dire\u00e7\u00e3o de fotografia pe de Ricca Santana. A previs\u00e3o \u00e9 de finalizar em agosto e estreia no Cine-Teatro de S\u00e3o Pedro. Em entrevista ao g1, o diretor contou sobre sua rela\u00e7\u00e3o afetiva com o tema, se essa tradi\u00e7\u00e3o ainda \u00e9 passada por gera\u00e7\u00f5es, a diversidade religiosa e na forma de benzer de cada um e curiosidades que j\u00e1 vivenciou ao longo da produ\u00e7\u00e3o. Confira abaixo: Seu Expedito mant\u00e9m a tradi\u00e7\u00e3o como benzedor viva aos 92 anos \u2014 Foto: Divulga\u00e7\u00e3o g1: Como foi a concep\u00e7\u00e3o do document\u00e1rio e a rela\u00e7\u00e3o afetiva que voc\u00ea tem com o tema? Fabiano: Ele surgiu exatamente por essa rela\u00e7\u00e3o afetiva que eu tenho com benzedeiras, porque a minha av\u00f3 Maria, m\u00e3e da minha m\u00e3e, era benzedeira. E quando eu era bem crian\u00e7a, a minha av\u00f3 morava na frente da minha casa, e um dia, eu n\u00e3o lembro exatamente, eu devo ter falado para ela que eu gostava de v\u00ea-la benzendo. E ela sempre que ia benzer algu\u00e9m, ela me chamava. Ela benzia quebranto, com \u00e1gua e azeite no prato. Como eu tenho visto na minha pesquisa, isso \u00e9 uma coisa muito antiga mesmo, bem ancestral. Eu lembro que a hist\u00f3ria da benzedeira veio da av\u00f3 dela, e \u00e9 uma coisa que parou com ela, sabe. Ela n\u00e3o passou para nenhum dos filhos ou nenhum dos netos e ficou l\u00e1. S\u00f3 que, por causa disso, eu sempre procurei benzedeiras ou benzedores. Sempre fiquei procurando benzedeiras e sempre foi ficando cada vez mais dif\u00edcil de achar benzedeiras. Eu sou de S\u00e3o Paulo. Quando eu me mudei para S\u00e3o Pedro, uns oito anos atr\u00e1s, mais ou menos, eu logo comecei a procurar as benzedeiras da cidade tamb\u00e9m. Encontrava uma e depois sumia, morria, mudava. A\u00ed, eu fiquei com vontade de fazer um document\u00e1rio sobre benzedeiras exatamente por isso, para criar um documento sobre essas hist\u00f3rias, sobre como eles come\u00e7aram, como apareceu o dom para essas pessoas. E faz um ano e meio, mais ou menos, que eu venho pesquisando as benzedeiras aqui de S\u00e3o Pedro. Imagem de bastidores das filmagens do document\u00e1rio “Benzadeus” \u2014 Foto: Divulga\u00e7\u00e3o g1: Essa tradi\u00e7\u00e3o vem sendo repassada por gera\u00e7\u00f5es ou n\u00e3o mais? Essas benzedeiras e benzedores tentam fazer com que essa tradi\u00e7\u00e3o n\u00e3o morra? A minha a minha percep\u00e7\u00e3o \u00e9 que, para a tradi\u00e7\u00e3o n\u00e3o morrer, essas pessoas t\u00eam que passar para frente o seu conhecimento. E algumas, pelo que eu tenho visto, n\u00e3o est\u00e3o passando. Mas algumas est\u00e3o passando, que eu acho muito legal. Por exemplo, uma das benzedeiras novas com quem eu vou falar \u00e9 bem nova, n\u00e3o tem nem 30 anos de idade. E quem passou para ela foi a m\u00e3e, que recebeu da av\u00f3 tamb\u00e9m. Ent\u00e3o, essa tradi\u00e7\u00e3o est\u00e1 indo na fam\u00edlia dela. Uma das benzedeiras com quem a gente j\u00e1 filmou tamb\u00e9m j\u00e1 contou que ela j\u00e1 passou para frente tamb\u00e9m, para uma pessoa da fam\u00edlia dela, que n\u00e3o \u00e9 filho nem filha, mas j\u00e1 passou para frente. Um benzedor, que \u00e9 um cara que eu gosto muito, que \u00e9 o Seu Expedito, a hist\u00f3ria dele \u00e9 muito legal porque o dom dele foi descoberto por algu\u00e9m que n\u00e3o era da fam\u00edlia dele, sabe? Foi passado para ele por uma pessoa que n\u00e3o era da fam\u00edlia. […] Eu espero que com esse filme as pessoas abram os olhos, e n\u00e3o s\u00f3 abram os olhos, mas pensem na hist\u00f3ria e poder transmitir esse poder da benzedeira, do benzedor para frente tamb\u00e9m, para que n\u00e3o termine com uma pessoa. Dona Francisca, uma das benzedeiras retratadas no document\u00e1rio “Benzadeus” \u2014 Foto: Divulga\u00e7\u00e3o g1: Uma coisa que chama aten\u00e7\u00e3o \u00e9 a diversidade da atua\u00e7\u00e3o dessas pessoas, a diversidade da liturgia delas, que tipo de benzimentos que elas fazem, quem elas benzem, quais s\u00e3o as cren\u00e7as delas. Queria que voc\u00ea comentasse um pouco dessa diversidade que voc\u00ea encontrou. Fabiano: Acho que a coisa mais legal de todas desse projeto “Benzadeus” \u00e9 que eu descobri que o ser benzedeira ou benzedor n\u00e3o \u00e9 uma atividade cat\u00f3lica, que para mim sempre foi uma atividade cat\u00f3lica. Mas eu descobri que outras pessoas de outras religi\u00f5es tamb\u00e9m benzem como essa primeira ideia que eu tinha de benze\u00e7\u00e3o mesmo. Ent\u00e3o, tem a Talita, que \u00e9 uma benzedeira umbandista, que \u00e9 incr\u00edvel, a hist\u00f3ria dela \u00e9 super bacana tamb\u00e9m. Ela nasceu cat\u00f3lica e, de repente, a fam\u00edlia dela foi entrando para a umbanda e ela pequena foi entrando para a umbanda. A benze\u00e7\u00e3o dela \u00e9 diferente. Na verdade, todas s\u00e3o bem diferentes umas das outras. A da Talita tamb\u00e9m tem muito do cat\u00f3lico, ela benze com imagens cat\u00f3licas, que s\u00e3o tamb\u00e9m imagens umbandistas, mas ela tem o ter\u00e7o na m\u00e3o, ela fica segurando o ter\u00e7o na m\u00e3o, ela reza as cat\u00f3licas, e a\u00ed mistura com coisas da tradi\u00e7\u00e3o da umbanda tamb\u00e9m. Outras pessoas j\u00e1 benzem o que seria o comum para mim, com essa minha ignor\u00e2ncia cat\u00f3lica anterior a esse projeto todo, que \u00e9 rezar Ave Maria, reza o Pai Nosso, reza o Credo, salve Rainha. […] Cada um tem a sua forma, cada um tem a sua maneira de se comunicar com quem est\u00e1 sendo benzido. Tem uma benzedeira que conversa com a gente, ela pergunta coisas para a gente, e ela fala coisas para a gente durante a benze\u00e7\u00e3o dela. Tem outro, o Seu Expedito, por exemplo, \u00e9 um cara que ele benze e a gente n\u00e3o ouve quase nada do que ele est\u00e1 falando, e a benze\u00e7\u00e3o dele \u00e9 meio sussurrada assim, sabe. Ele tem um altar onde ele benze, ele se vira muito para o altar. As diferen\u00e7as, apesar de serem bem gritantes, elas acabam convergindo sempre para o mesmo fim. Al\u00e9m disso, eu acabei encontrando aqui, um benzedor que \u00e9 LGBTQIA +, que eu achei super bacana tamb\u00e9m. E \u00e9 uma pessoa que \u00e9 super procurada, est\u00e1 ficando at\u00e9 famoso na cidade, e ele n\u00e3o quis participar do filme exatamente por isso. Ele falou: “eu prefiro o meu anonimato e atender poucas pessoas porque, por enquanto, eu n\u00e3o consigo ser maior do que eu sou”. Document\u00e1rio aborda diversidade religiosa envolvida na pr\u00e1tica de benzedeiras e benzedores \u2014 Foto: Divulga\u00e7\u00e3o g1: Tem tamb\u00e9m uma benzedeira ou um benzedor de animais tamb\u00e9m? Tem um benzedor que ele s\u00f3 benze bicho, ele n\u00e3o benze gente de jeito nenhum. E ele benze bicho de longe. No dia que eu fui conversar com ele, ele recebeu um WhatsApp assim: “\u00d3h, t\u00f4 com uma vaca que t\u00e1 com n\u00e3o sei o qu\u00ea aqui”, e ele benze de longe. Ele falou: “vou fazer a minha ora\u00e7\u00e3o pra vaca e daqui tr\u00eas dias ela vai t\u00e1 boa”. Outro dia ele benzeu o meu cachorro, o meu cachorro t\u00e1 com problema no joelho da pata direita, e ele benzeu o meu cachorro de longe tamb\u00e9m. Deu uma super melhorada. No primeiro dia que eu fui conversar com o Seu Expedito, quase um ano e meio atr\u00e1s. Fui na casa dele, ele me levou l\u00e1 pro fundinho ali do sitiozinho dele, onde ele tem porco, tem galinha, tem vaca, n\u00e3o sei o qu\u00ea, e a\u00ed tinha um barulho. Eu nem ouvi, ele falou: “\u00d3h, t\u00e1 ouvindo esse barulho? Isso \u00e9 cobra”. Eu falei: “Pelo amor de Deus, morro de medo de cobra”. A\u00ed ele deu uma rezadinha, assim, e na hora a gente ouviu a cobra indo embora, sabe. Fabiano durante as filmagens de “Benzadeus” \u2014 Foto: Divulga\u00e7\u00e3o g1: E a busca por eles tamb\u00e9m \u00e9 diversificada tamb\u00e9m, Fabiano? Cada pessoa busca por diferentes motivos? Exatamente. Quando voc\u00ea vai benzer, a benzedeira, o benzedor, eles perguntam por que que voc\u00ea t\u00e1 l\u00e1, se voc\u00ea est\u00e1 l\u00e1 por algum motivo qualquer. Quando eu fui no Seu Expedito a primeira vez, ele perguntou, e eu falei: “Ah, n\u00e3o, eu t\u00f4 aqui porque eu vim conversar com o senhor e eu quero ser benzido, n\u00e3o tenho problema nenhum”. A\u00ed ele: “Ah, ent\u00e3o t\u00e1 bom”. E ele me benzeu. E tudo ok, mas voc\u00ea pode chegar l\u00e1 com seus problemas. E tem benzedeira que ela te d\u00e1 li\u00e7\u00e3o de casa tamb\u00e9m. Ela te benze e fala: “\u00d3h, agora voc\u00ea tem que tomar um banho, comprar um ch\u00e1 de n\u00e3o sei o qu\u00ea, dormir, sei l\u00e1 o qu\u00ea”.Tem v\u00e1rias li\u00e7\u00f5es de casa, assim, mas tem outros que acaba de benzer e fala assim: “\u00d3h, tirei teu mau olhado, t\u00e1 tudo bem com voc\u00ea, pode ir embora”. g1: Al\u00e9m da estreia no cinema de S\u00e3o Pedro, voc\u00ea pretende buscar meios digitais para levar tamb\u00e9m o document\u00e1rio a mais gente? Sim. O making off do “Benzadeus” t\u00e1 sendo no Instagram, que \u00e9 @benzadeusofilme, onde eu t\u00f4 postando todo dia fotos de bastidores, curiosidades sobre as benzedeiras e os benzedores com quem eu j\u00e1 falei. O filme vai ficar pronto provavelmente em agosto. […] E o filme vai ser lan\u00e7ado em agosto, provavelmente, no cinema. Depois, ele vai ficar dispon\u00edvel em YouTube, em outras redes, e eu tamb\u00e9m vou querer fazer uma carreira com o filme em festivais. Inscrever em todas as mostras e festivais que eu conseguir tamb\u00e9m, pra que o filme tenha uma vida longa. V\u00cdDEOS: Tudo sobre Piracicaba e regi\u00e3o <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
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