Ewerthon TobaceDe T\u00f3quio para a BBC Brasil10 setembro 2014Cr\u00e9dito, Arquivo PessoalLegenda da foto, “Estrangeiros s\u00f3 poder\u00e3o entrar se estiverem acompanhados de um japon\u00eas”, diz a placaUma recente onda de casos de xenofobia tem causado grande preocupa\u00e7\u00e3o no Jap\u00e3o e levou a ONU a pedir que o governo do primeiro-ministro Shinzo Abe tomasse medidas concretas para lidar com o problema.As principais v\u00edtimas nesse incidentes t\u00eam sido comunidades estrangeiras como a de coreanos e chineses, al\u00e9m de outras minorias chamadas de “inimigas do Jap\u00e3o”.Um exemplo dos abusos \u00e9 um v\u00eddeo que se tornou viral e circula pelas redes sociais. Mostra um grupo de homens da extrema-direita com megafones em frente a uma escola sul-coreana em Osaka.Eles insultam os alunos e professores com palavr\u00f5es, fazem piadas com a cultura do pa\u00eds vizinho e amea\u00e7am de morte os que se atreverem a sair do pr\u00e9dio.Um relat\u00f3rio do Comit\u00ea de Direitos Humanos da ONU encaminhado ao governo japon\u00eas, destaca a rea\u00e7\u00e3o passiva dos policiais em manifesta\u00e7\u00f5es deste tipo.As autoridades t\u00eam sido criticadas por apenas observarem, sem tomarem nenhuma atitude efetiva para conter os abusos. No final de agosto, o Comit\u00ea das Na\u00e7\u00f5es Unidas para a Elimina\u00e7\u00e3o da Discrimina\u00e7\u00e3o Racial solicitou que o pa\u00eds “abordasse com firmeza as manifesta\u00e7\u00f5es de \u00f3dio e racismo, bem como a incita\u00e7\u00e3o \u00e0 viol\u00eancia racial e \u00f3dio durante manifesta\u00e7\u00f5es p\u00fablicas”.Desde 2013, o Jap\u00e3o registrou mais de 360 casos de manifesta\u00e7\u00f5es e discursos racistas.A quest\u00e3o ganhou os holofotes da m\u00eddia e est\u00e1 sendo amplamente debatida pelo partido governista, o Liberal Democr\u00e1tico.Um caso que est\u00e1 sendo visto como teste para a Justi\u00e7a japonesa nesta \u00e1rea \u00e9 a a\u00e7\u00e3o movida, no m\u00eas passado, por uma jornalista sul-coreana, Lee Sinhae, contra Makoto Sakurai, presidente do grupo de extrema-direita Zaitokukai, por danos morais.Ela quer uma indeniza\u00e7\u00e3o depois de ser “humilhada” por textos discriminat\u00f3rios na internet. “O que me preocupa \u00e9 que muitos destes discursos est\u00e3o deixando o anonimato da internet e j\u00e1 chegaram \u00e0s ruas”, disse Lee em uma coletiva de imprensa.A jornalista alertou que v\u00e1rias crian\u00e7as est\u00e3o tendo contato com este tipo de pensamento e replicam no ambiente escolar, gerando casos de bullying.LeiNo Jap\u00e3o, n\u00e3o h\u00e1 uma lei que pro\u00edba discursos difamat\u00f3rios ou ofensivos. Para os opositores, banir os discursos de \u00f3dio pode acabar interferindo no direito das pessoas \u00e0 liberdade de express\u00e3o.Mas o pa\u00eds \u00e9 signat\u00e1rio da Conven\u00e7\u00e3o Internacional sobre a Elimina\u00e7\u00e3o de Todas as Formas de Discrimina\u00e7\u00e3o Racial, que entrou em vigor em 1969, e que reconhece express\u00f5es discriminat\u00f3rias como crime.Pela Conven\u00e7\u00e3o, os pa\u00edses seriam obrigados a rejeitar todas as formas de propaganda destinadas a justificar ou promover o \u00f3dio racial e a discrimina\u00e7\u00e3o e tomar a\u00e7\u00f5es legais contra eles.Segundo as Na\u00e7\u00f5es Unidas, o governo japon\u00eas ainda tem muito para fazer nesta \u00e1rea. O comit\u00ea da ONU insistiu para que o Jap\u00e3o implemente urgentemente “medidas adequadas para rever a sua legisla\u00e7\u00e3o”, em particular o seu c\u00f3digo penal, para regular o discurso de \u00f3dio.Exclus\u00e3o dos estrangeirosPule WhatsApp e continue lendoNo WhatsAppAgora voc\u00ea pode receber as not\u00edcias da BBC News Brasil no seu celularEntre no canal!Fim do WhatsAppPara o escritor, ativista e pesquisador norte-americano naturalizado japon\u00eas Arudou Debito, “(essas atitudes discriminat\u00f3rias) t\u00eam se tornado cada vez mais evidentes, organizadas e consideradas ‘normais'”.Debito coleciona, desde 1999, fotos de placas de lojas, bares, restaurantes, karaok\u00eas, muitas delas enviadas por leitores de todo o Jap\u00e3o, com frases em ingl\u00eas – e at\u00e9 em portugu\u00eas – proibindo a entrada de estrangeiros.A colet\u00e2nea virou livro, intitulado Somente japoneses: o caso das termas de Otaru e discrimina\u00e7\u00e3o racial no Jap\u00e3o.Debito se diz ainda preocupado que, com a divulga\u00e7\u00e3o cada vez maior dos pensamentos da extrema-direita, a causa ganhe cada vez mais “f\u00e3s”.”No Jap\u00e3o ainda h\u00e1 a cren\u00e7a de que \u00e9 pouco prov\u00e1vel haver o extremismo em uma ‘sociedade t\u00e3o pac\u00edfica'”, explicou.”Eu n\u00e3o acredito que seja t\u00e3o simples assim. Ignorar os problemas de \u00f3dio, intoler\u00e2ncia e exclusivismo para com as minorias esperando que eles simplesmente desapare\u00e7am \u00e9 um pensamento positivo demais e historicamente perigoso.”Cr\u00e9dito, Arquivo PessoalLegenda da foto, Aviso em um hotel de \u00e1guas termais alerta que estrangeiros n\u00e3o podem entrarBrasileirosA comunidade brasileira no Jap\u00e3o tamb\u00e9m \u00e9 alvo constante de atitudes discriminat\u00f3rias. Quarto maior grupo entre os estrangeiros que vivem no pa\u00eds, os brasileiros est\u00e3o constantemente reclamando de abusos gerados por discrimina\u00e7\u00e3o racial e o tema \u00e9 sempre levantado em discuss\u00f5es com autoridades locais.O brasileiro Ricardo Yasunori Miyata, 37, \u00e9 um dos que foi \u00e0 Justi\u00e7a depois que o irm\u00e3o foi confundido com um ladr\u00e3o em um supermercado de uma grande rede, na cidade de Hamamatsu, prov\u00edncia de Shizuoka.”O problema foi a abordagem. O seguran\u00e7a chegou gritando, como se ele fosse bandido e, mesmo depois de provado que tudo n\u00e3o passou de um engano, ele (o seguran\u00e7a) justificou que faz parte da \u00edndole do brasileiro roubar e que n\u00e3o poder\u00edamos reclamar pois dever\u00edamos estar acostumado com este tipo de coisa”, contou o rapaz, ainda indignado.O caso aconteceu h\u00e1 quatro anos, mas at\u00e9 hoje Ricardo divulga a hist\u00f3ria para que outros n\u00e3o passem pelo mesmo constrangimento pelo qual ele e a fam\u00edlia passaram.”Acionamos a pol\u00edcia, fizemos a reclama\u00e7\u00e3o na matriz da rede, procuramos um advogado e, por semanas, os gerentes do supermercado tentaram nos convencer a n\u00e3o entrar com processo”, lembra.Depois de tr\u00eas meses, foi feito um acordo. “A rede trocou a empresa que faz a seguran\u00e7a local, pagou todas as despesas com advogados e exigimos ainda que os gerentes pedissem desculpas em p\u00fablico”, contou Ricardo.H\u00e1 20 anos morando no Jap\u00e3o, o brasileiro lembra que antigamente a situa\u00e7\u00e3o era bem pior. “Quando entrava brasileiro em supermercados, por exemplo, geralmente tocavam uma m\u00fasica brasileira. Era um sinal para avisar os funcion\u00e1rios de que havia estrangeiro na loja”, contou.Ricardo j\u00e1 foi barrado em bares e tamb\u00e9m sofreu todo tipo agress\u00e3o verbal. “Esse tipo de discrimina\u00e7\u00e3o existe, \u00e9 vis\u00edvel e constante. Enquanto as autoridades e a pr\u00f3pria m\u00eddia n\u00e3o tomarem uma posi\u00e7\u00e3o, esses abusos v\u00e3o continuar acontecendo”, destacou.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
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