{"id":19799,"date":"2019-04-14T16:00:00","date_gmt":"2019-04-14T19:00:00","guid":{"rendered":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/bauru-criado-no-ponto-chic-em-1937-se-tornou-o-sanduiche-mais-querido-e-conhecido-do-brasil\/"},"modified":"2019-04-14T16:00:00","modified_gmt":"2019-04-14T19:00:00","slug":"bauru-criado-no-ponto-chic-em-1937-se-tornou-o-sanduiche-mais-querido-e-conhecido-do-brasil","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/bauru-criado-no-ponto-chic-em-1937-se-tornou-o-sanduiche-mais-querido-e-conhecido-do-brasil\/","title":{"rendered":"Bauru criado no Ponto Chic em 1937 se tornou o sandu\u00edche mais querido e conhecido do Brasil"},"content":{"rendered":"
Anos atr\u00e1s eu fiz uma viagem \u00e0 pacata Montevid\u00e9u. Qual n\u00e3o foi o meu espanto quando me deparei com uma empanada de bauru de cerdo? Em pleno Mercado del Puerto, um dos principais polos gastron\u00f4micos da capital vizinha, jamais imaginaria ver o salgado predileto dos \u201ccharr\u00faas\u201d, com um acento brazuca. A vers\u00e3o uruguaia do recheio, com carne de porco, s\u00f3 mostrou qu\u00e3o grande se tornou o sandu\u00edche bauru em seus 82 anos de vida. E falar de bauru \u00e9 falar do Ponto Chic. Afinal de contas, foi nesse nonagen\u00e1rio restaurante que tudo come\u00e7ou. A hist\u00f3ria do sanduba mais famoso do Brasil \u00e9 bem difundida. Em 1937, o estudante de direito Casimiro Pinto Neto, mais conhecido como \u201cBauru\u201d, acabara de ler \u201cO Livro das M\u00e3ezinhas\u201d. A publica\u00e7\u00e3o orientava como fazer refei\u00e7\u00f5es equilibradas, com prote\u00ednas, fibras e carboidratos. Ao chegar ao Ponto Chic, no Largo do Paissandu, o jovem deu as coordenadas para o chapeiro: rosbife, queijo derretido e tomate. Um amigo provou e logo ordenou: \u201cme d\u00e1 um desse do Bauru\u201d. Rapidamente, a receita se espalhou pela cidade. Em alguns anos, o bauru se tornou uma prefer\u00eancia nacional. Ganhou diferentes vers\u00f5es e acentos por esse Brasil afora. A mais comum, que vai em sandu\u00edches, salgados, past\u00e9is e at\u00e9 mesmo pizzas, leva presunto, queijo e tomate. Mas o bauru ao Ponto Chic \u00e9 leal \u00e0 receita original: queijo fundido, rosbife, tomate e, ainda, picles de pepino. Mas o que me impressiona \u00e9 a perenidade do sabor. Vou desde garoto ao local e, agora, de barbas brancas, posso dizer que o sabor \u00e9 sempre o mesmo. \u201cNossa maior responsabilidade \u00e9 manter o sabor inalterado. Pois um cliente que volta aqui depois de dez anos deseja a mesma experi\u00eancia que teve anteriormente\u201d, conta Rodrigo Alves, que j\u00e1 \u00e9 a quarta gera\u00e7\u00e3o de propriet\u00e1rios do Ponto Chic. \u201cA nossa b\u00fassola \u00e9 a tradi\u00e7\u00e3o. N\u00e3o vendemos comida, n\u00f3s vendemos tradi\u00e7\u00e3o.\u201d \u00c9 dessa maneira que Rodrigo encara o neg\u00f3cio. A casa \u201cesconde\u201d toda a tecnologia que usa. Os gar\u00e7ons anotam os pedidos no bloco de papel. \u201cUsar tablets ou celulares quebraria o encanto. A experi\u00eancia no Ponto Chic tem de ser m\u00e1gica\u201d, conclui Alves. Ele ainda conta que 25% da folha de pagamento \u00e9 de funcion\u00e1rios acima dos 60 anos. Grande parte dos gar\u00e7ons \u00e9 experiente, como o simp\u00e1tico Miguel Moreira Neto. Miguel trabalha h\u00e1 40 anos no local. \u00c9 daquelas figuras carimbadas, que te deixam \u00e0 vontade. Muita gente vai ao Paissandu s\u00f3 para bater um papo com ele. Sobre essa rela\u00e7\u00e3o com a clientela, o gar\u00e7om conta com orgulho o dia em que estava de f\u00e9rias em Fortaleza e foi reconhecido por um cliente da casa. O Ponto Chic \u00e9 pura hist\u00f3ria. Testemunha da transforma\u00e7\u00e3o de S\u00e3o Paulo em metr\u00f3pole. A casa fundada por Od\u00edlio Cecchini e Antonio Milanese nasceu com a Semana de Arte Moderna, em 1922. Viveu intensamente os combates da Revolu\u00e7\u00e3o Constitucionalista de 1932, quando o pr\u00f3prio Milanese morreu no conflito. Fez parte da \u201cera do r\u00e1dio\u201d, uma vez que as grandes emissoras ficavam todas no centro da capital. Era comum radialistas usarem o telefone do Ponto Chic para transmitir not\u00edcias \u00e0s suas reda\u00e7\u00f5es. O mundo do circo tamb\u00e9m tem uma rela\u00e7\u00e3o estreita com a lanchonete. Nos anos 1920, a regi\u00e3o do Paissandu abrigava os importantes circos Queirolo e Alceb\u00edades. Este \u00faltimo contava com o maior palha\u00e7o de todos os tempos, o genial Piolin. Al\u00e9m disso, at\u00e9 os anos 1990, donos de circo e artistas se encontravam em frente ao Ponto Chic. Era o lend\u00e1rio \u201cO Caf\u00e9 dos Artistas\u201d, onde negociavam as turn\u00eas e contratavam os artistas. O sandu\u00edche, recheado de tanta hist\u00f3ria, \u00e9 agora um patrim\u00f4nio cultural imaterial. O bauru foi agraciado no fim de 2018 com seu tombamento pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrim\u00f4nio Hist\u00f3rico, Arqueol\u00f3gico, Art\u00edstico e Tur\u00edstico do Governo do Estado de S\u00e3o Paulo). No Ponto Chic s\u00e3o feitos 130 mil baurus por m\u00eas. Pelo pa\u00eds, devem ser milh\u00f5es de sandu\u00edches. Cada um \u00e0 sua maneira. Mas, com certeza, o sanduba \u00e9 prefer\u00eancia nacional. Bom de Garfo Otavio Valle, 48, \u00e9 formado pela Unesp (Universidade Estadual Paulista) e p\u00f3s-graduado em fotografia pelo Senac, mas a vida de jornalista o fez especialista em “botecologia”, pela universidade “Bares da Vida”. <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
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