{"id":19793,"date":"2019-08-11T13:30:00","date_gmt":"2019-08-11T16:30:00","guid":{"rendered":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/pub-na-barra-funda-e-pioneiro-da-rica-cena-de-bares-e-restaurantes-do-bairro\/"},"modified":"2019-08-11T13:30:00","modified_gmt":"2019-08-11T16:30:00","slug":"pub-na-barra-funda-e-pioneiro-da-rica-cena-de-bares-e-restaurantes-do-bairro","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/pub-na-barra-funda-e-pioneiro-da-rica-cena-de-bares-e-restaurantes-do-bairro\/","title":{"rendered":"Pub na Barra Funda \u00e9 pioneiro da rica cena de bares e restaurantes do bairro"},"content":{"rendered":"

S\u00e3o Paulo O calor do sol de inverno faz estalar as caixas de papel\u00e3o deixadas na cal\u00e7ada. Domingo nas ruas da Barra Funda tem um qu\u00ea de cidade fantasma, daquelas de filmes norte-americanos. Vazio. Lixo voando sobre o asfalto. Apenas um morador ou outro se arrisca a sair de casa em busca de um frango assado para o almo\u00e7o. O sil\u00eancio somente \u00e9 interrompido pelo som alto de algum carro. S\u00f3 que n\u00e3o \u00e9 um domingo qualquer na vizinhan\u00e7a. Quando o sol vai caindo, um grupo estranho ao cotidiano do bairro se aproxima da esquina da rua Barra Funda com a Conselheiro Brotero. Eles param diante de um conjunto de casar\u00f5es do in\u00edcio do s\u00e9culo passado. No n\u00famero 611 da rua Barra Funda, a porta de correr, delicadamente grafitada, se escancara para esta gente. S\u00e3o todos m\u00fasicos. Aos poucos eles v\u00e3o entrando no local. L\u00e1 funciona o Deep Bar, um pub ao melhor estilo brit\u00e2nico.\u00a0 A casa se mant\u00e9m dentro na quietude da vizinhan\u00e7a. N\u00e3o trabalha aos domingos. Mas abriu as portas e suas torneiras de cervejas para receber um in\u00e9dito encontro de tocadores de gaitas de fole. O instrumento, incomum por nossas bandas, \u00e9 parte da m\u00fasica folcl\u00f3rica celta. E o pub da Barra Funda j\u00e1 tem uma tradi\u00e7\u00e3o de reunir em suas mesas um grupo de jovens que curte a m\u00fasica celta. Toda \u00faltima quarta-feira de cada m\u00eas, essa galera leva suas flautas, tambores, violino, bandolins e foles ao pub e passa a noite toda tocando e se divertindo. O Deep Bar abriu suas portas em setembro de 2010. O sonho do empres\u00e1rio Fernando Souza era exatamente criar um lugar que n\u00e3o fosse apenas um bar tem\u00e1tico, mas um lugar que revivesse, em terras paulistanas, a cultura dos pubs europeus. \u201cQuis trazer para c\u00e1 a m\u00fasica, o ambiente e a baixa gastronomia t\u00edpicas desses bares estrangeiros que vi na viagem na Europa\u201d, conta Fernando. A proposta era fugir daquelas casas que, de pubs, s\u00f3 t\u00eam os produtos, a decora\u00e7\u00e3o e os nomes em ingl\u00eas. A vontade de montar o pub surgiu ap\u00f3s um mochil\u00e3o que o empres\u00e1rio fez pela Europa. Souza acabara de sair de uma sociedade num bar do Bixiga e decidiu conhecer o Velho Continente. Ao voltar ao Brasil, a ideia j\u00e1 estava configurada em sua cabe\u00e7a. Junto do pai, Ricardo Souza, montou a estrutura do neg\u00f3cio: uma rica carta de cervejas e um menu com o melhor da comida botequeira internacional.\u00a0 Do menu, eu destaco o \u201cmalostranska\u201d (R$ 22), um dog\u00e3o nervoso, inspirado nos cachorros-quentes t\u00edpicos da regi\u00e3o da esta\u00e7\u00e3o de metr\u00f4 Malostransk\u00e1, na cidade de Praga, Rep\u00fablica Tcheca. J\u00e1 para aquele grupo de amigos mortos de fome, a pedida \u00e9 o \u201cJack Tex-Mex\u201d, farta por\u00e7\u00e3o que leva onion rings, batatas r\u00fasticas, buffalo wings e pork ribs por R$ 65. Tamb\u00e9m n\u00e3o faltam os hamb\u00fargueres artesanais. O meu predileto \u00e9 o burger de fraldinha (R$ 25). Tenro e saboroso, \u00e9 uma boa para quem est\u00e1 sozinho. Como a ideia dos propriet\u00e1rios era trazer o melhor da baixa gastronomia gringa, o card\u00e1pio tem bons destaques com sotaque internacional: a Fran\u00e7a \u00e9 \u201cprestigiada\u201d com o cl\u00e1ssico \u201ccroque madame\u201d (R$ 25), Portugal \u00e9 representado por uma apetitosa \u201calheira\u201d (R$ 25). Ainda n\u00e3o posso esquecer do aut\u00eantico \u201ccurrywurst\u201d alem\u00e3o (R$ 25). Na pilotagem dessa rangueba toda est\u00e1 o haitiano Biford Bristol. Sempre bem-humorado, \u201cMonsieur Biford\u201d, como \u00e9 chamado pelos amigos, era turism\u00f3logo em seu pa\u00eds, al\u00e9m de m\u00fasico de reggaeton. Mas veio ao Brasil tentar dias melhores. Logo aprendeu a dominar a cozinha e adicionou um acento caribenho \u00e0 gastronomia do bar. Como \u201cfish and chips\u201d \u00e9 sin\u00f4nimo de comida de pub brit\u00e2nico, a iguaria feita pela casa n\u00e3o poderia deixar de levar aten\u00e7\u00e3o especial. A receita para empanar o peixe segue a tradi\u00e7\u00e3o da cozinha irlandesa, gra\u00e7as \u00e0s dicas do renomado chef irland\u00eas Ronan Commins, que vira e mexe aparece por l\u00e1. Eles colocam um bocado de cerveja na massa que envolve o pescado. Verdadeiro pulo do gato utilizado pelos irlandeses! Seria um cat jump? Brincadeiras \u00e0 parte, a t\u00e9cnica propicia uma massa fina e deixa o peixe crocante. A por\u00e7\u00e3o \u00e9 individual e sai por R$ 32. Pioneiro Na trajet\u00f3ria do Deep Bar, um aspecto interessante d\u00e1 conta sobre a coragem de Fernando e Ricardo Souza em investir no bairro. Nove anos atr\u00e1s havia apenas pequenos botequins e com\u00e9rcios. Mas a certeza da aposta na regi\u00e3o come\u00e7ou no batismo do pub. Deep Bar \u00e9 brincadeira com a tradu\u00e7\u00e3o de Barra Funda para o ingl\u00eas.\u00a0 Conheci o pub desde o seu in\u00edcio. Nas primeiras vezes que me sentei ao balc\u00e3o eu pensava com minha caneca: quem \u00e9 que vai vir aqui neste lugar deserto para tomar cervejas e comer laricas diferentes? \u00c0 noite, assim como aos domingos, as ruas da Barra Funda s\u00e3o desertas. Um bar aqui, outro acol\u00e1. Movimento apenas das faculdades instaladas no bairro. \u201cQuando sa\u00edmos da sociedade do bar no Bixiga t\u00ednhamos em mente abrir algo numa regi\u00e3o central, mas longe de locais j\u00e1 badalados. Quer\u00edamos construir uma cena nova\u201d, diz Fernando. Se hoje a Barra Funda est\u00e1 na crista da onda, quando eles abriram o pub, em 2010, a realidade da regi\u00e3o era completamente diferente da atual. O tradicional bairro junto aos trilhos era um patinho feio da noite paulistana. Se agora a Barra Funda est\u00e1 cheia de casas alternativas e badaladas, dez anos atr\u00e1s, a pequena freguesia jamais atrairia um aclamado chef, como o boliviano Checho Gonz\u00e1lez. \u201cA noite na Barra Funda teve grandes fases, mas, quando chegamos aqui, realmente havia poucas op\u00e7\u00f5es\u201d, conclui Souza. Com o tempo, o Deep Bar mostrou que sua voca\u00e7\u00e3o ia al\u00e9m da gastronomia e da bebida. \u00c9 certo que eles contaram com o crescimento de consumidores de cervejas alternativas em detrimento das \u201ccervejas de milho\u201d, fen\u00f4meno que ocorreu na \u00faltima d\u00e9cada. Mas foi o ambiente \u00edntimo, t\u00edpico dos bares de bairro brit\u00e2nicos, que gerou empatia pela casa. O educador f\u00edsico Marcos Salazar frequenta o Deep Bar h\u00e1 nove anos: \u201cAqui as pessoas interagem. Tem um ambiente de impessoalidade muito bacana. Voc\u00ea conhece novas pessoas, estabelece novas rela\u00e7\u00f5es pessoais. H\u00e1 um clima diferente de todos os outros pubs da cidade\u201d, relata Salazar. O sucesso da casa desmistificou alguns preconceitos acerca do bairro, que passou a ser visto com outros olhos por investidores, chefs, empres\u00e1rios e botequeiros. Que pese o encerramento de atividades de not\u00f3rios clubes noturnos como o \u201cCB\u201d e o \u201cClash Club\u201d, uma nova onda de casas alternativas e restaurantes conceituais se espalhou pela Barra Funda nos \u00faltimos anos: \u201cA Dama e os Vagabundos\u201d, \u201cDali Daqui Bar\u201d, \u201cCentral Caos\u201d, \u201cMescla\u201d, \u201cCapivara\u201d e \u201cA Baianeira\u201d s\u00e3o apenas alguns dos bons nomes que chegaram para ficar no bairro.\u00a0 Guinness da Barra Funda \u201cFernando, tem aquela Guinness da Barra Funda?\u201d pergunta do balc\u00e3o o administrador de empresas e cervejeiro caseiro Eduardo Pezinho. Ele \u00e9 cliente do pub desde sua cria\u00e7\u00e3o. Pezinho sai de sua casa na Vila Medeiros (zona norte) s\u00f3 para curtir as cervejas do local e se reunir com amigos. A cerveja pedida por Pezinho se chama na verdade Cirkus Monga (R$ 19 a caneca de 475 ml), e \u00e9 do mesmo tipo da cultuada cerveja irlandesa, uma \u201cirish dry stout\u201d. Um dos grandes sucessos da casa, a \u201cGuinness da Barra Funda\u201d recebe elogios at\u00e9 de um grupo de irlandeses que frequenta a casa. Fernando e Ricardo come\u00e7aram a fabricar artesanalmente cerveja em 2012. Tudo experimental, apenas para os amigos. A brincadeira deu certo. A turma pediu para que colocassem as cervejas nas torneiras da casa. Assim passaram a produzir como \u201ccervejaria cigana\u201d, que consiste em alugar a linha de produ\u00e7\u00e3o de uma cervejaria certificada e fabricar sua pr\u00f3pria receita em larga escala e com os requisitos exigidos pelo governo para comercializa\u00e7\u00e3o. Hoje, a Cirkus produz 400 litros de cervejas por m\u00eas, de v\u00e1rios tipos, e d\u00e1 tom nas noites do Deep Bar. Deep Bar – R. Barra Funda, 611, Barra Funda. Tel. (11) 4304 0611. De ter\u00e7a a s\u00e1bado, das 18h30 \u00e0s 1h. Bom de Garfo Otavio Valle, 48, \u00e9 formado pela Unesp (Universidade Estadual Paulista) e p\u00f3s-graduado em fotografia pelo Senac, mas a vida de jornalista o fez especialista em “botecologia”, pela universidade “Bares da Vida”. <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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