{"id":19755,"date":"2024-05-04T15:30:00","date_gmt":"2024-05-04T18:30:00","guid":{"rendered":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/apos-a-era-de-ouro-da-televisao-estariamos-entrando-agora-na-era-da-tv-mediana\/"},"modified":"2024-05-04T15:30:00","modified_gmt":"2024-05-04T18:30:00","slug":"apos-a-era-de-ouro-da-televisao-estariamos-entrando-agora-na-era-da-tv-mediana","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/tvdescalvado.com.br\/apos-a-era-de-ouro-da-televisao-estariamos-entrando-agora-na-era-da-tv-mediana\/","title":{"rendered":"Ap\u00f3s a era de ouro da televis\u00e3o, estar\u00edamos entrando agora na era da TV mediana?"},"content":{"rendered":"

The New York Times H\u00e1 alguns anos, “Atlanta” e “PEN15” estavam ensinando novos truques \u00e0 TV. Em “Atlanta”, Donald Glover esbo\u00e7ou uma imagem de casa de espelhos da experi\u00eancia negra na Am\u00e9rica (e fora dela), contando hist\u00f3rias ambientadas no meio do neg\u00f3cio do hip-hop com uma linguagem inquietante, c\u00f4mica e surreal. Em “PEN15”, Maya Erskine e Anna Konkle criaram um retrato minuciosamente observado, universalmente espec\u00edfico do constrangimento adolescente. Em fevereiro, Glover e Erskine retornaram no thriller de a\u00e7\u00e3o “Sr. & Sra. Smith” na Amazon Prime Video. \u00c9… at\u00e9 bom. Uma releitura do filme de 2005, atualiza a hist\u00f3ria de um casal de espi\u00f5es casados imaginando o neg\u00f3cio de espionagem como trabalho tempor\u00e1rio. As estrelas t\u00eam qu\u00edmica e carisma; a s\u00e9rie se beneficia de um elenco impressionante de estrelas convidadas e loca\u00e7\u00f5es italianas deliciosas. \u00c9 leve e f\u00e1cil de assistir. Assisti a v\u00e1rios epis\u00f3dios em um voo longo recente e eles ajudaram as horas a passar. Mas eu nunca desperdi\u00e7aria um epis\u00f3dio de “Atlanta” ou “PEN15” com entretenimento de voo. O trabalho era bom demais, as nuances muito finas, para perder uma linha de di\u00e1logo com o barulho do motor. N\u00e3o quero destacar Glover e Erskine aqui. Eles n\u00e3o est\u00e3o sozinhos \u2014longe disso. Keri Russell, uma espi\u00e3 russa implac\u00e1vel e complicada em “The Americans”, agora est\u00e1 em “A Diplomata”, uma dram\u00e9dia divertida e esquec\u00edvel. Natasha Lyonne, da provocativa “Orange Is the New Black” e da psicotr\u00f3pica “Boneca Russa”, agora interpreta uma figura retrorenovada de Columbo em “Poker Face”. Idris Elba, antes o gangster estudante de macroeconomia Stringer Bell em “The Wire”, estrelou recentemente em “Hijack”, um thriller de avi\u00e3o previs\u00edvel. Assisti a todos esses programas. Eles n\u00e3o s\u00e3o ruins. Eles s\u00e3o simplesmente… m\u00e9dios. O que os torna, frustrantemente, emblem\u00e1ticos do momento atual na TV, assim como os programas anteriores de suas estrelas eram das ambi\u00e7\u00f5es do passado. O que temos agora \u00e9 uma profus\u00e3o de compet\u00eancia com bom elenco, produzida com eleg\u00e2ncia. Temos remakes de t\u00edtulos familiares com bom gosto. Temos a evid\u00eancia de or\u00e7amentos saud\u00e1veis gastos em loca\u00e7\u00f5es impressionantes. Temos novos programas bons o suficiente que se assemelham a grandes antigos. Entramos na era de ouro da TV M\u00e9dia. Deixe-me dizer de antem\u00e3o: este n\u00e3o \u00e9 um texto sobre como a TV \u00e9 ruim hoje. Pelo contr\u00e1rio. H\u00e1 pouco conte\u00fado de televis\u00e3o de alto perfil verdadeiramente ruim sendo feito atualmente. Como escrevi no ano passado, nos dias de hoje \u00e9 preciso uma combina\u00e7\u00e3o especial de influ\u00eancia de celebridades e recursos da rede para fazer um fracasso como “The Idol” da HBO. Quando encontramos um peru majestoso como esse na natureza, quase n\u00e3o sabemos o que pensar. Quem fez isso? Como isso passou pelo controle de qualidade? O que temos hoje \u00e9 algo menos terr\u00edvel, mas de certa forma mais triste: a disposi\u00e7\u00e3o de recuar, de se contentar, de trocar o ambicioso pelo confi\u00e1vel. Pessoas que cresceram na era das tr\u00eas grandes redes de transmiss\u00e3o \u2014n\u00f3s sab\u00edamos o que era uma m\u00e1 TV. Assist\u00edamos e \u00e0s vezes at\u00e9 am\u00e1vamos (a com\u00e9dia de 1977 da ABC “The San Pedro Beach Bums” foi uma das maiores piadas da TV, e seu cancelamento foi uma das primeiras desilus\u00f5es da minha juventude). Mas o surgimento da TV a cabo transformou tanto o neg\u00f3cio quanto a arte da televis\u00e3o, \u00e0 medida que canais como HBO, FX e AMC assumiram riscos e ofereceram liberdade aos criadores para se destacarem. Funcionou \u2014t\u00e3o bem, na verdade, que eventualmente a m\u00e1xima de que a TV era lixo foi substitu\u00eddo pela m\u00e1xima de que a TV era a nova literatura, ou cinema, ou talvez at\u00e9 religi\u00e3o. Um cr\u00edtico do New York Times saudou “Os Sopranos” como possivelmente a maior obra da cultura pop em um quarto de s\u00e9culo. “Deadwood” foi comparado a Shakespeare, “The Wire” a Dickens, “Mad Men” a Cheever. As pessoas desconstru\u00edram “Lost” e discutiram sobre “Girls”. Os autores da TV dominaram a conversa cultural como os easy riders e raging bulls do cinema nos anos 1970. Por cerca de duas d\u00e9cadas, tem sido uma sabedoria bien-pensant que a TV poderia ser boa \u2014n\u00e3o, n\u00e3o apenas boa. Original. Provocativa. Importante. A TV foi t\u00e3o aclamada por tanto tempo que \u00e9ramos como o sapo na \u00e1gua fervente, mas ao contr\u00e1rio. O meio se tornou morno t\u00e3o gradualmente que voc\u00ea nem percebeu. A era do streaming prometia inicialmente mais inova\u00e7\u00e3o, supercarregada e superfundada e, por um tempo, foi isso que tivemos. Ansiosa para estabelecer um cat\u00e1logo de programa\u00e7\u00e3o original, a Netflix financiou experimentos como “Orange Is the New Black”, “BoJack Horseman” e “Sense8”. Nem tudo funcionou, e o que funcionou poderia ser inconsistente, mas havia um senso de oportunidade e possibilidade. Mas outra coisa tamb\u00e9m aconteceu. A concess\u00e3o de status (e dinheiro) \u00e0 TV significava que havia muito mais talento dispon\u00edvel. Fazer TV j\u00e1 n\u00e3o era mais uma demiss\u00e3o, e voc\u00ea poderia comprar instantaneamente um senso de import\u00e2ncia contratando estrelas. O sucesso inicial de “House of Cards”, da Netflix, foi um pren\u00fancio, um pote de presunto fervente dado aura de prest\u00edgio com a escala\u00e7\u00e3o de um Kevin Spacey pr\u00e9-esc\u00e2ndalo.Al\u00e9m disso, mais streamers \u2014a Netflix foi acompanhada por Amazon, Hulu e v\u00e1rios Maxes e Pluses\u2014 simplesmente significava mais TV. Mais TV era melhor de algumas maneiras: significava espa\u00e7o para novas vozes e hist\u00f3rias n\u00e3o contadas, mais dados para rolar. Mas tamb\u00e9m criou uma sensa\u00e7\u00e3o de sobrecarga. Em um mar aparentemente infinito de hist\u00f3rias, como os espectadores encontrariam programas e como os programas seriam encontrados? Cada vez mais, eles seriam encontrados atrav\u00e9s do algoritmo, cujo prop\u00f3sito \u00e9 oferecer novas vers\u00f5es do \u00faltimo que voc\u00ea assistiu. Cada vez mais, a melhor maneira de ser notado era com algo que as pessoas j\u00e1 reconheciam: um t\u00edtulo, f\u00f3rmula ou franquia familiar. As s\u00e9ries do Universo Cinematogr\u00e1fico Marvel da Disney+ s\u00e3o muito bem produzidas para serem ruins ou bregas \u2014basta compar\u00e1-las com os dramas de quadrinhos desgastados dos anos 70 e 80\u2014, mas s\u00e3o muito limitadas pelas regras e necessidades da grande megapropriedade para dar saltos criativos (\u00e9 digno de nota que a primeira dessas s\u00e9ries, “WandaVision”, permanece a \u00fanica exce\u00e7\u00e3o significativa). Enquanto isso, “Ozark”, da Netflix, mostrou que voc\u00ea poderia perguntar: “E se o ChatGPT reescrevesse ‘Breaking Bad’ e pessoas suficientes abra\u00e7assem o resultado como se fosse “Breaking Bad?.”. Junte essas duas for\u00e7as \u2014um n\u00edvel crescente de talento e compet\u00eancia de produ\u00e7\u00e3o de um lado, a press\u00e3o para entregar vers\u00f5es de algo que os espectadores j\u00e1 gostam do outro lado\u2014 e o que voc\u00ea obt\u00e9m? Voc\u00ea obt\u00e9m um monte de obra mediana. Mediana n\u00e3o \u00e9 a TV med\u00edocre do passado. \u00c9 mais sofisticado. \u00c9 o equivalente est\u00e9tico de uma renova\u00e7\u00e3o de “fazenda moderna” do Airbnb, ou o caf\u00e9 hipster id\u00eantico encontrado em cidades de m\u00e9dio porte em todo o planeta. \u00c9 agrad\u00e1vel! Os m\u00f3veis s\u00e3o de bom gosto, est\u00e3o tocando Khruangbin nos alto-falantes, o caf\u00e9 sombreado \u00e9 uma melhoria em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 x\u00edcara fumegante de \u00f3leo de motor com a qual voc\u00ea se contentaria algumas d\u00e9cadas atr\u00e1s. Se comparar a TV com refei\u00e7\u00f5es r\u00e1pidas \u00e9 uma analogia insultante, em minha defesa, eu apenas a emprestei. Um perfil da New Yorker do ano passado citou um executivo da Netflix descrevendo o show ideal da plataforma como um “hamb\u00farguer gourmet”. N\u00e3o vou mentir, eu gosto de um hamb\u00farguer gourmet. Caramelizar algumas cebolas, colocar uma fatia de queijo americano artesanal e estou feliz. Mas, no fundo, a proposta de venda desse hamb\u00farguer n\u00e3o \u00e9 diferente da de um Big Mac: voc\u00ea sabe o que vai receber. E n\u00e3o \u00e9 apenas a Netflix que est\u00e1 servindo isso. Olhe para as iscas de algoritmo repletas de estrelas que vimos ao longo do \u00faltimo ano mais ou menos. H\u00e1 “Masters of the Air”, uma expans\u00e3o bem credenciada e sup\u00e9rflua do universo da Segunda Guerra Mundial de “Band of Brothers” e “The Pacific” (Gostou dessas? Assista a essa aqui em seguida!). “Apples Never Fall”, uma adapta\u00e7\u00e3o morna de outro romance de Liane Moriarty (Gostou de “Big Little Lies”? Assista a essa em seguida!); “Feud: Capote vs. the Swans”, uma cinebiografia de queda do favor castigada ao m\u00e1ximo (Gostou de “Fosse\/Verdon”? Assista a essa em seguida!). Esses programas n\u00e3o t\u00eam o que \u00e9 preciso para serem verdadeiramente ruins. Fazer TV honestamente ruim requer um desrespeito mercen\u00e1rio e Barnumesco pelo gosto, ou uma disposi\u00e7\u00e3o obstinada para assumir o tipo de risco que pode se transformar em desastre. O mediano, por outro lado, quase n\u00e3o pode ser ruim por algumas das mesmas raz\u00f5es que o impedem de ser \u00f3timo. Muitas vezes \u00e9 um eco da \u00faltima gera\u00e7\u00e3o de TV inovadora (ent\u00e3o os altos e baixos de “Game of Thrones” s\u00e3o sucedidos pela adequa\u00e7\u00e3o fiel de “House of the Dragon”). Ou \u00e9 feito por profissionais que sabem fazer TV muito bem e, portanto, perdem um pr\u00e9-requisito para fazer grande arte, que \u00e9 treinar-se para esquecer como a coisa foi feita e, assim, encontrar sua pr\u00f3pria maneira de faz\u00ea-la. O mediano n\u00e3o \u00e9 um g\u00eanero estrito com uma defini\u00e7\u00e3o universal. Mas \u00e9 o que voc\u00ea obt\u00e9m quando aumenta os valores de produ\u00e7\u00e3o da TV e diminui suas ambi\u00e7\u00f5es. Ele lembra um pouco algo que voc\u00ea j\u00e1 gostou muito. Ele substitui um elenco excelente por grandes ideias (“Voc\u00ea realmente gostou da estrela naquele outro programa! Voc\u00ea n\u00e3o acredita que conseguiram Meryl Streep!”) O mediano \u00e9 baseado em um livro, filme ou assassinato conhecido. O mediano fica \u00f3timo em uma tela grande (embora por algum motivo tudo pare\u00e7a azul). O mediano foi filmado em loca\u00e7\u00f5es em v\u00e1rios pa\u00edses. O mediano provavelmente poderia ter sido um pouco mais curto. O mediano \u00e9 OK, no entanto. \u00c9 bom o suficiente. Acima de tudo, o mediano \u00e9 f\u00e1cil. N\u00e3o \u00e9 burramente f\u00e1cil \u2014mostra evid\u00eancias de que seus escritores leram livros. Mas os pontos da hist\u00f3ria s\u00e3o familiares. Pontos da trama e temas s\u00e3o repetidos. Voc\u00ea n\u00e3o precisa se imergir de forma obstinada como poderia ter feito, digamos, com “The Wire”. \u00c9 uma TV de prest\u00edgio que voc\u00ea pode dobrar a roupa enquanto assiste. E sejamos justos, ele faz muitas pessoas felizes. Qualquer cr\u00edtico honesto tem que reconhecer que as pessoas para quem assistir TV n\u00e3o \u00e9 trabalho nem sempre querem trabalhar para assistir TV (veja, por exemplo, o ressurgimento improv\u00e1vel de “Suits” na Netflix, aquele avatar assist\u00edvel do mediano da TV a cabo b\u00e1sica dos anos 2010). Eu entendo. Cr\u00edticos de TV tamb\u00e9m t\u00eam roupa para dobrar. Pode haver tamb\u00e9m raz\u00f5es econ\u00f4micas para preferir uma TV boa o suficiente. \u00c0 medida que mais pessoas abandonam a TV a cabo para o streaming, seus incentivos mudam. Com a TV a cabo, voc\u00ea comprava um pacote de canais, muitos dos quais voc\u00ea nunca assistiria, mas qualquer um dos quais voc\u00ea poderia. Cada plataforma de streaming, por outro lado, requer uma decis\u00e3o de compra separada, e elas se acumulam. Voc\u00ea pode muito bem escolher um servi\u00e7o que tenha muitos programas que voc\u00ea estaria disposto a assistir em vez de um com um \u00fanico programa que voc\u00ea deve assistir. Ent\u00e3o, onde a HBO costumava se gabar de que n\u00e3o era TV, os streamers modernos enviam a mensagem: “Vamos te dar muita TV”. Pode parecer que o objetivo principal deles \u00e9 menos produzir programas excepcionais do que produzir muitas miniaturas bonitas. At\u00e9 mesmo h\u00e1 uma ideia crescente de que uma nova Era de Ouro est\u00e1 surgindo, com um novo Midas. Apple TV+, o lar de “Ted Lasso” e “The Morning Show”, foi considerado, por mais de um comentarista, “a nova HBO”. Apple TV+ n\u00e3o \u00e9 a HBO. Pelo menos n\u00e3o no sentido do que fez da HBO ser a HBO nos anos 2000, quando estava revolucionando a TV e desafiando os espectadores. E a HBO n\u00e3o estava sozinha em ser “HBO” nesse sentido: ela tinha companhia na FX, AMC, Showtime e ocasionalmente Syfy e outros. Mas a Apple TV+ pode ser a HBO do mediano. Generalizando amplamente, a estrat\u00e9gia da Apple tem sido abrir sua carteira e assinar com nomes de primeira linha \u2014Steven Spielberg, Tom Hanks, Oprah Winfrey, Reese Witherspoon, M. Night Shyamalan\u2014 para fazer programas amplamente palat\u00e1veis e n\u00e3o controversos (isso n\u00e3o deu muito certo com Jon Stewart). Segundo relatos em torno de sua funda\u00e7\u00e3o, o chefe da Apple, Tim Cook, estava preocupado que o servi\u00e7o n\u00e3o exagerasse com viol\u00eancia, palavr\u00f5es e nudez \u2014n\u00e3o exatamente a declara\u00e7\u00e3o de miss\u00e3o de algu\u00e9m que procura reabrir o Bada Bing. O investimento da Apple comprou algo. Seus programas parecem profissionais. Eles parecem produtos premium nos quais ningu\u00e9m economizou. “Palm Royale” tem um elenco de peso (Kristen Wiig, Laura Dern, Carol Burnett[!]) e uma aten\u00e7\u00e3o aos detalhes de \u00e9poca que lembra “Mad Men”. Mas sua farsa de classe \u00e9 inofensiva, sua atmosfera de fermento cultural dos anos 60 \u00e9 requentada. Com\u00e9dias como “Falando a Real” e “Amor Plat\u00f4nico” e “Fortuna” s\u00e3o mais agrad\u00e1veis do que engra\u00e7adas, dramas como “Constela\u00e7\u00e3o”, “The New Look” e “\u00daltimo Ato” s\u00e3o elegantes, mas inertes. Esses s\u00e3o programas constru\u00eddos como iPhones \u2014elegantes, arredondados, sem bordas em que voc\u00ea possa se cortar. \u00c9 claro que h\u00e1 \u00f3timas e inovadoras s\u00e9ries na Apple tamb\u00e9m. Estou ansioso para ver outra temporada do thriller de fic\u00e7\u00e3o cient\u00edfica “Ruptura”, e sua primeira leva de programas incluiu a hist\u00f3ria alternativa da corrida espacial “For All Mankind” e a hist\u00f3ria liter\u00e1ria maluca “Dickinson”. S\u00e3o exce\u00e7\u00f5es como essas s\u00e9ries que me fazem ser otimista sobre a TV a longo prazo. Mesmo diante de press\u00f5es e incentivos para mirar no meio, a criatividade quer encontrar um caminho. Apenas um ano atr\u00e1s, eu estava escrevendo sobre s\u00e9ries selvagens e aventureiras como “Treta”, “Reservation Dogs”, “Mrs. Davis” e “I’m a Virgo”. Neste ano, dois dos melhores novos dramas at\u00e9 agora s\u00e3o um remake de “Shogun” e uma readapta\u00e7\u00e3o de “O Talentoso Sr. Ripley”. Mas a maior parte da TV agora \u2014os enchimentos que preenchem o espa\u00e7o entre “The Bear” e “FBoy Island”\u2014 parece achatada no amplo meio. N\u00e3o, n\u00e3o achatada: alisada. Esse pode ser o maior, mas mais intang\u00edvel tra\u00e7o definidor do mediano. \u00c9 sem atrito. Tem um brilho artificial, como o efeito de suaviza\u00e7\u00e3o de movimento muito n\u00edtido que voc\u00ea precisa desligar quando compra uma nova tela plana. A TV est\u00e1 longe de estar quebrada, mas parece que algu\u00e9m precisa entrar e ajustar as configura\u00e7\u00f5es. O pre\u00e7o da confiabilidade, compet\u00eancia e amizade com algoritmos \u00e9 perder a sensa\u00e7\u00e3o de surpresa \u2014a sensa\u00e7\u00e3o de estar jogado em um universo alien\u00edgena imprevis\u00edvel, de inova\u00e7\u00f5es como “Fleabag” e “Watchmen” e “I May Destroy You”. N\u00e3o acho que sejam apenas cr\u00edticos e esnobes de TV que desejam isso. “Os Sopranos” e “Twin Peaks” foram revolucion\u00e1rios e recompensaram a visualiza\u00e7\u00e3o atenta, mas tamb\u00e9m eram populares. Mesmo se voc\u00ea assistir TV como escapismo, quanto de uma fuga \u00e9 um programa que voc\u00ea pode (e provavelmente vai) assistir pela metade enquanto tamb\u00e9m rola infinitamente no seu telefone? Perdemos algo quando nos tornamos dispostos a nos contentar. A confiabilidade \u00e9 uma qualidade excelente em um sed\u00e3 h\u00edbrido. Mas, na arte, tem um custo. Um programa que n\u00e3o pode te decepcionar n\u00e3o pode te surpreender. Um programa que n\u00e3o pode te enfurecer n\u00e3o pode te envolver. A boa not\u00edcia \u00e9 que ainda h\u00e1 TV disposta a correr riscos, se voc\u00ea procurar por ela. Voc\u00ea pode ter amado ou odiado “The Curse”, mas ficaria surpreso se algu\u00e9m que assistiu a uma hora dele acabasse indiferente a ele. Neste m\u00eas, a HBO estreou “O Simpatizante”, a fren\u00e9tica adapta\u00e7\u00e3o de Park Chan-wook da s\u00e1tira de Viet Thanh Nguyen sobre a Guerra do Vietn\u00e3 e suas consequ\u00eancias, uma corrida ca\u00f3tica e desorientadora pelos becos da mem\u00f3ria. Com o risco, \u00e9 claro, vem a possibilidade de decep\u00e7\u00e3o \u2014voc\u00ea pode ter outro “The Idol”. Estou disposto a aceitar o compromisso. O pre\u00e7o de fazer TV \u00e0 prova de falhas, afinal, \u00e9 ter uma TV que nunca pode realmente ter sucesso. Volte, TV ruim: Tudo est\u00e1 perdoado. <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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