O rapaz seria levado para internação compulsória (contra a vontade) em uma clínica de recuperação em Aguaí (SP). Ele foi socorrido, mas chegou morto na Santa Casa. A Polícia Civil investiga o caso, que foi registrado como morte suspeita. Ninguém foi preso. Ainda abalada, a família tenta entender o que aconteceu e cobra justiça. “A gente acha que é uma coisa boa que vai recuperar, eu queria o bem do meu filho, nenhum pai quer ver o filho morto. A gente espera morrer antes do filho, mas eles vieram para tirar mesmo a vida dele, ele chegou sem vida no hospital. Eu não imagina isso, nós fomos na confiança de salvar meu filho para ele voltar a vida normal e acabamos levando ele pra morte. Espero que seja feita justiça com essa clínica”, disse Sérgio de Oliveira Figueiredo, pai da vítima. Segundo o boletim de ocorrência, a médica de plantão Amanda Dias Biolchi apontou várias lesões em volta do pescoço. O laudo de exame de corpo de delito descreve a causa de morte supostamente por asfixia mecânica. O laudo do Instituto Médico Legal deve sair em até 30 dias. A Polícia Civil ainda vai ouvir a família da vítima. Bruno Willian Ambrósio Figueiredo morreu com ‘mata-leão’ durante internação à força para clínica de reabilitação em Leme — Foto: Reprodução/Facebook Versão da família Os pais e outros familiares acompanharam a chegada dos três funcionários da equipe de remoção. A família disse que o filho não estava agressivo, como relatou a advogada da empresa. Andreia contou que o filho já saiu morto da residência. “Eu acompanhei a equipe na chegada, eu queria ver meu filho sair vivo, não esperava que fosse sair morto. Ele não estava agressivo. Eles chegaram e entraram no quarto e depois não vi muita coisa, a porta estava fechada. Só vi a hora que ele estava deitado, começaram a amordaçar e amarrar ele. Comecei a ficar desesperada, corri para a rua. Na hora que levaram meu filho falaram que iam levar ele igual um porco amarrado. Colocaram ele na calçada, no chão quente, e não desamarravam. A gente não queria deixar levar. Não posso nem lembrar da cena. O Bruno já estava morto”, contou. Sérgio Figueiredo também comentou que o filho já saiu desacordado da casa. Ele acompanhou mais distante a abordagem para não deixar o filho nervoso. Mas quando percebeu o que acontecia se aproximou e presenciou a ação. “Ele saiu desacordado de casa, amarrado e já estava com batimento fraco. Ficamos todos alvoroçados, fui ver o que estava acontecendo e ver se ele voltava, pensei que só tivesse desmaiado, mas do jeito que o cara apertou , todo mundo mandando ele parar de sufocar meu filho, ele não parava. Estamos com testemunhas, fizemos B.O. Eu fui de carro com a minha esposa para o hospital e quando chegamos, a doutora já veio e falou que ele chegou sem sinal de vida”, disse. Pai e mãe de Bruno pedem justiça após a morte em Leme — Foto: Reprodução/EPTV Despreparo Sérgio também comentou que a ambulância não estava equipada adequadamente e os profissionais não estavam preparados para a abordagem. “Não vieram preparados para isso, achávamos que ia ter um sedativo, algo para acalmar ele. Inclusive tinha um (funcionário) que era o primeiro dia de trabalho. Se eu soubesse que ia vir dessa forma, nessa agressão, nunca jamais ia fazer feito isso para o meu filho”, disse. “Não fizeram exame nada, nem oxigênio, não vi nada, não tinha nenhum injeção para levar ele, nada. E não tinha nada para ajudar, não o socorreram”, completou a mãe. O que diz a empresa A advogada Helena Maria Balduino de Moraes, da empresa Torino Remoções, comentou na segunda-feira (2) que o paciente estava muito agressivo e foi necessário o uso da força durante a abordagem. “A família quando tem dependente químico faz contato com clínica de reabilitação e a clínica faz contato com empresa de remoção que faz a condução do paciente. Já no caminho, o pai já disse que ele estaria alterado e teria usado droga, e o socorrista avisou que fazem a condução coercitiva, já que a família se responsabiliza pela internação, e se necessário fariam manobras mais firmes para conduzir ele. Tudo isso já está no formulário que a família assina e autoriza, e chegando lá ele estava muito violento, e foi feito imobilização manual inclusive com a bandagem, amarrando pés e mãos”, disse. A advogada contou que após a vítima ser imobililzada, foi solta e ficou mais calma. “Soltaram e ele ficou mais calmo e perceberam que estava com batimento cardíacos mais leves . Foi aí que equipe resolveu levar para Santa Casa. Foi feito manobras como respiração boca a boca e foi usado cilindo de oxigênio, mas ele chegou sem vida (na Santa Casa)”, disse. Sobre as lesões apresentadas no pescoço , a advogada comentou que a vítima pode ter se debatido. “Foi feita a manobra para conter e outro (profissional) veio por trás para amarrar os braços e pode ser que ele tentou se debater e teve mais lesões nessa parte do corpo”, frisou. A advogada informou no histórico da empresa isso nunca aconteceu, e que os profisisonais envolvidos tinham formação e especiliazação para realizar o procedimento. Ela também informou que os funcionários ficaram com ferimentos leves e foram liberados. Abordagem agressiva Bruno Willian morreu durante abordagem para ser internado em clínica de reabilitação em Leme — Foto: Redes sociais Já a família reforçou a abordagem agressiva e desmedida da equipe culminando com o golpe de “mata-leão”. “Todos presenciaram a forma que eles chegaram, já foram agredindo. Eles estão falando que meu filho que agrediu, é lógico que ninguém quer ser levado a força. Você vai relutar. Ele não sabia o que estava acontecendo, estava no quarto no celular e eles já chegaram com força agressiva e um deles deu esse um mata leão e não sei se quebrou o pescoço. Estamos aguardando o laudo sair ainda”, disse Sérgio. Ele disse que o filho enfrentava problemas com drogas e passou por uma separação recente. Sérgio também disse que Bruno já tinha tentado parar o uso de drogas, mas não queria ir para uma clínica. “Ele estava demonstrando problemas e transtornos e achamos melhor contratar uma clínica para se cuidar, se tratar e por a cabeça no lugar. Ele tinha se separado recentemente, e estava um pouco sem saber o que fazer. Por vontade própria ele tentou várias vezes, mas não queria ir para clínica. Mas clínica ligou para mim, porque fica caro, né, e falaram que enviariam a remoção por ambulância e não iam cobrar nada. Só pagaria a clínica, e pensei no bem dele, se eu soubesse que estava chamando assassinos para tirar a vida do meu filho, jamais teria feito isso”, comentou o pai. “Eu espero justiça, né? Porque nada vai trazer meu filho de volta, tá todo mundo se culpando, achando que tinha feito o melhor, mas mataram meu filho”, finalizou a mãe. REVEJA VÍDEOS DA EPTV CENTRAL:
‘Vi meu filho morrer’, diz mãe de rapaz que levou ‘mata-leão’ em internação à força no interior de SP
3
postagem anterior