Lar Cidades USP identifica milhares de sítios arqueológicos indígenas em SP e aponta alto potencial na região de Piracicaba; veja mapa interativo

USP identifica milhares de sítios arqueológicos indígenas em SP e aponta alto potencial na região de Piracicaba; veja mapa interativo

por admin
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No interior, a região de Piracicaba, que atualmente tem cerca de 90 destes locais, é considerada uma área com alto potencial para a descoberta de novas evidências da presença dos povos originários ao longo da história. 🗺️A pesquisa deu origem a um mapa interativo no qual o usuário pode ter uma visão espacial das diversas áreas ocupadas pelos indígenas no território paulista; clique aqui para acessar. As áreas foram mapeadas a partir das diversas manifestações culturais que os indígenas deixaram na região. Essas manifestações, por sua vez, são alvo dos estudos dos pesquisadores do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisas em Evolução, Cultura e Meio Ambiente (Levoc) do MAE. Em outras palavras, os pesquisadores do Levoc estudam sítios arqueológicos indígenas identificados por meio de artefatos que foram encontrados na região. Um dos integrantes do grupo é a historiadora formada pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep) Letícia Cristina Côrrea, mestre e doutora em arqueologia pela USP. Ela pesquisa sítios arqueológicos líticos, ou seja: os objetos históricos que ela estuda são feitas de pedra lascada. “Essas manifestações culturais indígenas, na verdade, são as maneiras que a gente tem de identificar esses grupos indígenas pelo registro arqueológico. Então, são ferramentas de pedra lascada, que são os artefatos líticos e os artefatos cerâmicos, que aí tem a tradição tupi-guarani, Kaingangs, entre outros”, diz Letícia. ✍️ Os detalhes de como o mapa foi elaborado, como utilizá-lo, a importância de sua disponibilização online, bem como o porquê a região de Piracicaba ser considerada promissora pela pesquisadora estão logo abaixo nesta reportagem, dividida em 6️⃣ tópicos. 👀👇Nesta matéria, você vai ver: Um dos diferenciais do mapa arqueológico criado no MAE é a preocupação em apresentar a filiação cultural, informando sempre que possível o grupo indígena e o tipo de artefato encontrado, como pedras, lascas ou cerâmicas — Foto: Reprodução/USP O que é um sítio arqueológico? Um sítio arqueológico é um local onde foram encontrados vestígios de ocupação humana, seja ela antiga ou não. Para ser categorizado como sítio arqueológico, é preciso comprovar que aquele local tem importância científica para a compreensão da história da humanidade. Os vestígios encontrados em um sítio arqueológico possibilitam que os arqueólogos — os profissionais que estudam esses sítios e investigam culturas e civilizações antigas por meio dos “rastros” deixados por uma sociedade — identifiquem quais grupos culturais ocuparam aquele lugar. 👉Um exemplo para facilitar a visualização são as pirâmides do Egito. Também é importante destacar que um mesmo sítio arqueológico pode ter sido ocupado por mais de um grupo cultural ao longo do tempo. Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), existem pelo menos 20 mil sítios arqueológicos em todo o Brasil. ⚠️Mas, atenção: eles não são, necessariamente, locais turísticos. Sítios arqueológicos, como explica a historiadora Letícia, são bens da União. Se eles não estiverem dentro de um parque ou ter se tornado um local próprio para receber turistas, a visitação é proibida, até porque a maioria deles está em áreas privadas. “Se as pessoas vão nesses locais e pegam material arqueológico para levar para casa, elas só atrapalham a pesquisa, o trabalho do arqueólogo. Então, que fique claro que, embora a gente tenha feito esse mapeamento, em nenhum momento a gente passa a referência de onde está o sítio arqueológico”, alerta a pesquisadora. Da planilha para o mapa O mapa interativo lançado pelo Levoc é um dos resultados obtidos pelo projeto temático “A ocupação humana do Sudeste da América do Sul ao longo do Holoceno: uma abordagem interdisciplinar, multiescalar e diacrônica”, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). De acordo com a USP, o objetivo do projeto é analisar os processos relacionados à ocupação, sucessão e convivência dos primeiros grupos humanos que chegaram às Américas, mais especificamente, no sudeste brasileiro, região que abrange os territórios do Estado de São Paulo e Paraná, desde 11 mil anos atrás. Sua primeira versão, que abrange o Estado de São Paulo, foi baseada em um levantamento feito a partir de teses, artigos, relatórios e informações coletadas no Iphan e na biblioteca do MAE. O mapa interativo também é resultado da colaboração entre os pesquisadores, já que foi a partir dos dados levantados pelas pesquisas de cada um dos integrantes do projeto da USP o mapeamento estadual foi feito. “Tudo começou com uma grande tabela no Excel, uma planilha, um compilado de banco de dados”, conta Letícia. “Eles [outros integrantes do grupo] desenvolveram o site lá no domínio da USP e transformaram essa tabela neste site que todo mundo pode acessar”. 🤔Como o banco de dados foi transformado em um mapa? Os pesquisadores utilizaram coordenadas de localização disponíveis em aparelhos de GPS para indicar o local do sítio arqueológico registrado. Nos mais antigos, onde a localização não é precisa, o grupo de pesquisa optou por fornecer as coordenadas do centro do município onde ele está localizado. Diferente da apresentação em tabelas, uma das vantagens do mapa é a possibilidade de observar regiões onde não há informações. O mapa apresenta duas áreas de São Paulo, com grandes vazios de informações arqueológicas: ao norte, todo o baixo curso do Rio Tietê e sua margem direita; ao Sul, o vale do Rio do Peixe — Foto: Levoc/USP Como ler o mapa? Cada símbolo do mapa representa um grupo indígena específico, e em conjunto, esses símbolos mostram a dispersão dos sítios arqueológicos e das diferentes culturas indígenas em todo o Estado de São Paulo. Em outras palavras: os triângulos pretos, por exemplo, indicam que naquele local foram encontrados vestígios de determinada cultura indígena. Já os vermelhos, indicam que os registros ali pertencem à outro grupo, e assim sucessivamente. 🔺▲🔺▲ No mapa, constam sítios pré-coloniais até os mais recentes, do início do século XX. O usuário, ao clicar nos símbolos, abre um rodapé onde pode verificar a filiação cultural, ou seja, o possível grupo indígena e o tipo de artefato encontrado que indica a sua presença ali na região: pedras, lascas ou cerâmicas. Fachada do Museu Prudente de Moraes, em Piracicaba — Foto: Divulgação/Prefeitura municipal de Piracicaba ‘Hotspot’ em Piracicaba Um dos triângulos situados em Piracicaba no mapa interativo é, na verdade, o Museu Histórico e Pedagógico Prudente de Moraes, localizado no Centro da metrópole. Ou seja, ele não é um sítio arqueológico, mas sim o que Letícia chama de “manifestação” — indícios de que povos indígenas estiveram ali. 🏹 O material arqueológico deste museu, que conta com várias pontas de pedra e também artefatos cerâmicos, é um desses indícios. E esses vestígios, junto à proximidade de Rio Claro (SP), na região de São Carlos, indica que a região de Piracicaba é o que Letícia chama de “hotspot”: um local com alto potencial para estudos arqueológicos. 📍 🤔 Mas por que essa proximidade de Rio Claro aponta Piracicaba como um “hotspot” da arqueologia? Letícia explica que Rio Claro tem um sítio arqueológico muito famoso: o Alice Boer tem de 7 a 8 mil anos e é um local de extrema importância para a arqueologia do Estado de São Paulo. O motivo é que na década de 1980 foi encontrado um local muito rico de pedra lascada na cidade, que gerou vários debates acadêmicos. Entretanto, conforme os anos se passaram, as pesquisas foram diminuindo. O ‘X’ da questão é que artefatos muito parecidos também foram encontrados — e expostos — em Piracicaba, que fica cerca de 40 km de Rio Claro. 👉Ou seja: quem esteve por Rio Claro na pré-história, certamente esteve, também, por Piracicaba. “A gente não tem muitos sítios arqueológicos datados, então a gente tenta mapear essa dispersão dos grupos indígenas com base nas ferramentas, nos objetos que eles deixaram”, explica Letícia. “Se a gente consegue datar algum sítio arqueológico por aqui ou encontrar uma referência que dê para comparar com Rio Claro, a gente já está estipulando a hipótese de que Piracicaba poderia ter uma ocupação indígena antiga de 7, 8 mil anos atrás. Então, precisamos investir em pesquisas”. Pontas com corpo alongado serrilhado coletadas nas Bacias do rio Piracicaba/Capivari/Jundiaí e Tietê/Batalha — Foto: Arquivo pessoal/Letícia Côrrea/USP Da arqueologia para a internet Letícia explica que a arqueologia do Estado de São Paulo tem um início efetivo na década de 1960. Desde então, pesquisadores da área tem identificado, cadastrado e estudado o material de sítios arqueológicos. “Mas esse conhecimento fica muito restrito ao mundo acadêmico”, diz a historiadora. “Geralmente, a gente só faz uma tese, imprime e manda para a biblioteca”. 🎓Pesquisadores como Letícia publicam artigos científicos, se especializam por meio de iniciação científica, mestrados, doutorados. Por dos estudos e dos congressos, eles trocam conhecimento entre si. Ou seja: o que eles produzem nem sempre é disponibilizado para pessoas fora da academia. “É sempre importante que a gente possa divulgar os nossos resultados para a comunidade em geral. Isso é um retorno que a gente passa para a comunidade, porque a maioria das nossas pesquisas são financiadas por bolsas de instituições de fomento que custeiam a nossa pesquisa. Que pagam a gente, literalmente, para pesquisar, seja no mestrado ou no doutorado. Então, a gente recebe um financiamento de dinheiro público; é mais do que nossa obrigação trazer esse retorno”, diz. Neste sentido, a divulgação online rompe qualquer fronteira geográfica e temporal e planta novas sementes de pesquisa. 🌱 “Nós, pesquisadores, podemos desenvolver ideias de pesquisas. Com base no panorama do mapa, a gente pode saber onde a gente não tem muito material arqueológico, onde a gente não tem muito sítio, onde devemos investir as pesquisas e eventualmente elaborar novas hipóteses com base nessa dispersão”, explica Letícia. Mapa ‘sem fronteiras’ É visível que o mapa interativo da USP abrange o Estado de São Paulo, mas este limite geográfico é apenas uma formalidade. E também um convite para futuros pesquisadores que queiram expandir essa área. Isso porque o banco de dados está em constante atualização, o que significa que o mapa pode ser ampliado com o surgimento de novas pesquisas. ⚠️Mas atenção, futuros pesquisadores: o grande diferencial do projeto é o recorte temático cultural, e não cronológico, pois uma quantidade significativa de sítios arqueológicos ainda é cadastrada sem informações sobre a filiação cultural — ou seja, sem a informação de quais povos viveram ali. Isso, para os pesquisadores da USP, é considerado inaceitável. Além da possibilidade de expansão, as fronteiras são apenas formalidades porque elas são linhas colocadas no mapa muito recentemente. “Na pré-história, não existia Estado de São Paulo, Estado de Minas Gerais, municípios. São recortes que a gente usa para poder delimitar uma área, mas se a gente coloca em termos de quilômetros, são áreas muito próximas em termos de pré-história. Então, a gente precisa avançar as pesquisas para ter uma ideia melhor do que acontece”, explica. VÍDEOS: Tudo sobre Piracicaba e região

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