São Paulo
A vida do motorista de aplicativo Diones Coelho da Silva, 42, mudou radicalmente após ver o ator Kayky Brito, 35, entrar na frente de seu carro numa avenida na Barra da Tijuca (RJ), há exatamente um ano. Mesmo sem ter tido culpa pelo acidente, ele conta que desde então não consegue mais entrar em seu carro para trabalhar com a mesma frequência de antes do ocorrido.
“Tenho traumas. Às vezes saio para trabalhar e volto para casa, vejo uma pessoa na calçada e logo vem um gatilho, aquela tensão. E isso me complica, pois tenho despesas e dois filhos adolescentes”, comenta ele, que mora no Rio de Janeiro e diz não ligar para quem não acredita em sua dor. “Outros podem julgar como vitimismo, mas não estou com necessidade de aprovação.”
Se antes a rotina de Diones como motorista acontecia de segunda a sábado, hoje ele afirma que consegue trabalhar no ramo de quinta a sábado, mas com uma carga horária menor. Ele conta que a visibilidade após o incidente rendeu alguns trabalhos extras, como corridas particulares e parcerias com empresas pelas redes sociais, as chamadas publis.
E são essas empresas que têm feito com que ele consiga manter sua renda. Mas nem toda proposta é aceitável. “Algumas casas de apostas já me procuraram oferecendo até R$ 300 mil para eu fazer propaganda, mas eu sempre nego. Independentemente do valor, não compactuo com isso. Se eu não pensasse no próximo teria mudado de vida, mas prefiro a honestidade”, diz.
Essas propostas chegaram, segundo ele, nos três meses subsequentes ao atropelamento, época em que toda a mídia entrava em seu perfil na web em busca de algum pronunciamento sobre o caso. Coelho conta que mais de 500 mil pessoas chegaram a visualizar seus conteúdos em 24 horas. Ele passou de 132 seguidores no Instagram para mais de 145 mil.
“É difícil viver só da internet, mas tenho o anseio de galgar mais publicidades e contratos bons nesse meio. O que ajudou mesmo foi a vaquinha online que fizeram para mim. Com o valor, comprei um carro, mandei dinheiro aos meus dois filhos, paguei advogado e fiz doações. Aos poucos vou construindo um padrão melhor de vida”, avalia.
Nesse período de um ano, Diones conta que não teve a oportunidade de encontrar Kayky pessoalmente por opção do ator. Apesar disso, afirma que ambos se falaram pelas redes sociais. “Já demonstrei o desejo de vê-lo, mas da parte dele não houve essa abertura —e eu entendo. Está tudo bem, o importante é que ele está vivo e trabalhando. Não me chateio”, afirma.
Casado há seis anos, Diones foi cotado para ser candidato a vereador nas eleições de 2024. Mas ao analisar e discutir essa possibilidade com a família, decidiu negar o convite.
Sobre o futuro, ele conta que espera se curar dos traumas que ainda carrega e que trata na terapia. “Antes do acidente sempre trabalhei com saúde e não era conhecido. Claro que a realidade mudou, mas não posso criar expectativas pelo futuro, pois gera ansiedade. Quero viver o agora e desfrutar o presente que papai do céu me proporcionar. Vida que segue.”