Talita Camargo, 34 anos, natural de Tatuí (SP), compartilhou intensamente com o marido os últimos cinco anos em que estiveram casados. Aventureiros, a história de amor do casal começou justamente durante um voo de parapente. “A gente se conheceu em São Paulo, durante um voo. Eu estava voando e entrou um vento forte e eu não conseguia pousar. O Rodrigo estava voando em cima de mim e ele me auxiliou pelo rádio. Foi como um anjo me auxiliando, assim como ele sempre: um anjo em minha vida”, conta. Raineri integrava um grupo de sete pessoas que seguia para o acampamento base do K2, no último dia 5 de julho, mas foi o único que decidiu praticar parapente. Além do brasileiro, a equipe também incluía duas pessoas da França, duas dos Estados Unidos, uma da Bulgária e uma da Suíça. O paraquedas do brasileiro teria se rompido, o que causou a queda, informou à Agence France-Presse (AFP) o porta-voz da polícia local, Muhammad Nazir, de Shigar, área do acidente. Rodrigo Ranieri era considerado um alpinista experiente — Foto: Arquivo Pessoal Horas antes do acidente, Talita conta ter conversado com o marido, que relatou saudades de casa. Ainda na conversa, Rodrigo confidenciou à esposa o desejo de voltar o quanto antes, mas pediu para ela não se preocupar. “Ele estava indo deitar porque ele começaria a caminhada logo cedo no dia seguinte. Pediu pra eu ficar tranquila, que ele estava bem, falou que me amava muito e que pensou em adiantar a passagem e voltar antes do término da expedição, porque ele estava com muita saudade”, revela a esposa. Rodrigo Raineri, de 55 anos, morreu em acidente com parapente no Paquistão e será velado nesta sexta-feira (12) — Foto: Reprodução/Instagram Em meio às dores da partida, Talita se apega às lembranças e memórias de Rodrigo para manter não apenas o legado do marido vivo, como também os sonhos dos dois. “Dói muito, mas eu sei que essa dor vai passar. Só o tempo mesmo para me ajudar. Mas eu sei que o mais importante é o amor que ele sentia por mim, tudo que ele deixou como legado, todos os projetos e sonhos”, diz. “A pessoa Rodrigo que eu convivi, quero que todos possam ter esse mesmo sentimento de eterna gratidão, por mim, pela minha família, por tudo que nós construímos. Que a chama dele nunca se apague. Nunca vou deixar os sonhos dele morrer”, comenta. Casal estava casado há cinco anos e era considerado aventureiro — Foto: Arquivo Pessoal Despedida O velório ocorreu a partir das 8h, desta sexta-feira, na Igreja Matriz Paroquial Santa Tereza d’Ávila, em Ibitinga, cidade natal de Rodrigo. Na sequência, já na parte da tarde, o corpo do alpinista foi sepultado no Cemitério Municipal. O Rodrigo Raineri morava em São Pedro (SP) e deixa, além da esposa, um filho de 22 anos. Rodrigo Raineri, em escalada no Aconcágua (Argentina) — Foto: Arquivo pessoal Escalador completo Rodrigo era considerado um escalador “completo” e estava entre os alpinistas mais técnicos do Brasil, com experiência de mais de 30 anos e atuação em rocha, gelo e alta montanha, como é descrito no site profissional do atleta. Rodrigo Raineri, no cume do Monte Everest — Foto: Arquivo pessoal Completou a 6ª expedição à montanha mais alta do planeta, em 2019, com mais de 8,8 mil metros de altitude. Na companhia de Vitor Negrete, formou a única dupla brasileira a escalar a Face Sul do Aconcágua, topo mais alto das Américas, a 6.962 metros de altitude, com subida considerada uma das difíceis do mundo. A conquista é um marco no montanhismo brasileiro. Rodrigo e Vitor Negrete durante subida no Aconcágua — Foto: AcervoEP Com o parceiro, também escalou o Aconcágua durante um inverno de -30°C. Durante a subida, os dois enfrentaram uma tempestade de neve. Em 2013, realizou uma de suas expedições ao topo da maior montanha do mundo, o Everest, na Ásia. Foram 67 dias de expedição. Utilizou uma máscara de oxigênio durante a subida. A temperatura chegou a -29°C, com sensação térmica de -50°C. “Chegar no cume do Everest é sempre uma sensação indescritível, muito bom. Eu acho que a gente buscando grandes conquistas, realização de sonhos, a gente tem mais motivação para viver”, comentou Rodrigo à época. Confira mais notícias do centro-oeste paulista: