Por Sandra Cohen Especializada em temas internacionais, foi repórter, correspondente e editora de Mundo em ‘O Globo’ Republicano tenta desviar os holofotes da nova dupla democrata e recuperar terreno, mas se perde em profusão de mentiras. O ex-presidente dos EUA Donald Trump, candidato à presidência pelo Partido Republicano, fala à imprensa em sua casa em Mar-a-Lago, na Flórida, em 8 de agosto de 2024. — Foto: Alex Brandon/ AP O ex-presidente Donald Trump parece ter empacado no universo sombrio de medo e rancor, enquanto a dupla Kamala Harris-Tim Walz transmite leveza e energia em seus comícios. Em entrevista coletiva no resort na Flórida, o candidato republicano tentou desviar novamente os holofotes para si e recuperar a atmosfera da convenção do partido, três semanas atrás, mas errou ao repetir a mesma estratégia. Sua descrição do apocalipse, caso seja derrotado em novembro, foi acrescida de uma profusão de mentiras e o alerta de que os americanos estão à beira da Grande Depressão e da Terceira Guerra Mundial. “É o período mais perigoso que já vi para o nosso país”. Os ataques a Kamala, cujo nome ele faz questão de pronunciar de forma errada, eram rasos: incompetente, burra e esquerdista radical. O republicano tentou destruir, de forma virulenta, a biografia da nova adversária. Definiu-a como “primeira perdedora”, por ter desistido da pré-candidatura em 2020, e ressaltou, como se fosse novidade, que a ex-procuradora-geral da Califórnia foi reprovada no primeiro exame da Ordem dos Advogados. “Ela é pior do que Biden. Será um grande fracasso, um fracasso como o mundo nunca viu”, advertiu, caso Kamala seja eleita presidente. Em respostas a mais de 30 perguntas de jornalistas, o ex-presidente embarcou no revisionismo histórico de seu mandato e da derrota eleitoral de 2020. Mentiu, por exemplo, que a transferência de poder foi pacífica; que ninguém morreu no ataque ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021; e que a multidão que o ouviu naquele dia era maior do que a concentrada torno de Martin Luther King, durante o discurso “Eu tenho um sonho”, em 1963. Trump ataca Kamala e sugere que democrata usa sua identidade negra por razões políticas Ou seja, Trump mostrou que continua a falar apenas para sua base e, por esta razão, começa a perder terreno entre os indecisos — a parcela de eleitores que ambos os candidatos precisam conquistar em novembro. Nesta quinta-feira, no resort de Mar-al-Lago, Trump passou a impressão de desespero por insistir na mesma tática, sem ter uma carta nova na manga para enfrentar a nova dinâmica da disputa eleitoral.