O relógio, que fica no topo do prédio, data do início dos anos 1900. É um modelo da empresa inglesa Identity Company, a mesma fabricante do Big Ben, de Londres e já foi a principal referência de tempo dos são-carlenses que o usavam como base para ajustarem seus relógios no século passado. Relégio centenário de estação ferroviária de São Carlos foi restaurado voluntariamente por técnico eletrônico — Foto: Reprodução EPTV O equipamento centenário estava totalmente parado há, pelo menos, dois anos. Nas últimas décadas, chegou a funcionar por pequenos e esporádicos períodos de tempo. Mas essa situação mudou quando Hypolito passou por acaso em frente ao prédio e notou que o relógio não funcionava. “É um pecado você ver um monumento da cidade que não está funcionando. É interessante notar que hoje poucas pessoas conhecem esse relógio”, disse. Paixão por relógios João Lucas Coppi Hypolito e Jaime Prado restauraram relógio centenário, símbolo de São Carlos — Foto: Arquivo pessoal A paixão de João Hypolito pelos relógios começou muito cedo, ainda criança e hoje ele os conserta por hobby. Ele tem mais de 30 deles pela casa. “Desde pequeno sempre tive curiosidade em saber como as coisas funcionavam por dentro, fosse relógio, vídeo cassete, rádio, e uma tia-avó me deu um relógio despertador de presente e a paixão começou. Eu desmontei, destruí o relógio jogando no chão porque eu não tinha condições desmontar. Devia ter uns seis, cinco anos de idade e cada vez mais foi crescendo o gosto”, contou. Para restaurar o relógio da estação, ele entrou em contato com a Fundação Pró-Memória que responsável pelo prédio, e conseguiu autorização para fazer o reparo. Foram necessários cinco dias e ajuda para fazer o trabalho. Além do acesso difícil, a estrutura tinha gambiarras elétricas, as engrenagens estavam sujas e travadas, os vidros estavam quebrados, os números e ponteiros necessitavam de pintura. “Fiquei bastante tempo lá, fazendo a limpeza da máquina. O maior problema estava no mostrador, que fica na fachada, e eu sabia que não conseguiria resolver isso sozinho, pois é um processo delicado e trabalhoso. Foi então que pedi ajuda ao meu amigo, Jaime Prado, de Bauru”, contou. Funcionário público aposentado e restaurador de relógios, Prado aceitou o desafio. “Eu já restaurei relógios em vários estados e esse foi o mais complicado. É uma raridade! Esse relógio me chamou a atenção pela diferença e pelo histórico dele. São Carlos tem uma joia rara, uma joia raríssima de altíssima qualidade, que vale muito a pena a cidade preservar”, disse. Patrimônio histórico Estação ferroviária de São Carlos foi inagurada em 1884 — Foto: Acervo EP A Estação Ferroviária de São Carlos foi construída entre 1881 e 1883, por iniciativa de fazendeiros locais que tinham interesse de ampliar a lavoura cafeeira, principal atividade econômica do período. Iniciou seu funcionamento em maio de 1883 em caráter provisório e foi inaugurada oficialmente em 1884, época que muitas pessoas começaram a chegar à cidade para trabalhar ou montar negócios. O relógio foi instalado em 4 de julho de 1912. Com isso, os horários de chegada e saída dos trens passaram a ser precisamente controlados e o tempo da cidade passou a ser o tempo da estação. “Por muito tempo, eram as igrejas, através dos seus sinos, do horário das orações, que controlavam o cotidiano da cidade. Com a ascensão do capitalismo contemporâneo, que é o tempo do trabalho, a ferrovia, através dos seus relógios, vai controlar o tempo da cidade. Por isso que o relógio da estação é tão importante, ele marca um momento em que a cidade muda a forma do seu cotidiano, a forma como ela se organiza e organiza seu dia”, afirma a historiadora Leila Massarão. Relógio da estação, símbolo da história de São Carlos foi restaurado por voluntários — Foto: Arquivo pessoal/João Hypolito Mas com a chegada da tecnologia e a banalização dos relógios de pulso e nos celulares, o relógio, que havia sido tão importante para a cidade, acabou caindo no esquecimento. “Muitas vezes, ele passa despercebido, as pessoas passam por ali e nem reparam que existe um relógio”, lamenta Hypolito. Veja os vídeos da EPTV Central
Técnico eletrônico de 23 anos restaura voluntariamente relógio centenário de estação ferroviária, patrimônio de São Carlos
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