Transformar a comunicação atual com a “sabedorida do coração”, como indicado por Francisco, voltou a ser tema de reflexão em busca de uma cultura do encontro e do diálogo também no espaço da Conferência Eclesial da Amazônia, a Ceama. Reunida em assembleia em Manaus, contou com a participação virtual de Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação. Em vídeo, ele citou inclusive o poeta brasileiro, Vinicius de Moraes. Andressa Collet – Vatican News “Acima de tudo, gostaria de dizer uma palavra. Uma palavra que, infelizmente, usamos cada vez menos. Obrigado. Kûekatu.” Falando em espanhol, e inclusive usando uma expressão indígena, Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação do Vaticano, começou o vídeo dirigido aos participantes 2ª Assembleia da Conferência Eclesial da Amazônia, a Ceama, que termina nesta segunda-feira (26/08) em Manaus. Ele colaborou em modalidade virtual da última sessão do evento de 4 dias, num painel sobre a missão da Ceama a partir da perspectiva do Vaticano, que também contou com a presença do cardeal Michael Czerny, prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral. A assembleia começou na última sexta-feira, 23 de agosto Os traços do Sínodo da Amazônia “Ainda me lembro com gratidão e emoção do Sínodo para a Amazônia”, continuou Ruffini no vídeo, ao afirmar que o encontro de Manaus dá provas de que “o caminho continua. Em frente. É importante estarmos juntos. Caminhar juntos. Traçar juntos o caminho de comunhão que nos une”. Em seguida, o prefeito direcionou a mensagem para falar sobre a importância da comunicação para “proteger suas raízes e tecer a rede de nossa comunhão”. Ao citar o Papa Francisco, recordou o quanto o Pontífice refletiu sobre se fazer comunicação através do coração, e que esse coração não esteja endurecido. Como citou o próprio Delio Siticonatzi Camaiteri, membro do povo Ashaninca, que participou do Sínodo sobre a Amazônia, que, segundo Ruffini, é uma lição para todos: “não endureçam seus corações, vocês devem amolecer seus corações. Esse é o convite de Jesus. Ele nos convida a viver juntos. Acreditamos em um só Deus. Devemos permanecer unidos”. E é para isso que deveria servir a comunicação, reforçou o prefeito: para unir o que está dividido, porque é um dom recíproco de Deus “que nasce da relação que se estabelece ao falar, ouvir e compreender o outro”. Como escreve o Papa em Querida Amazonia, recorda Ruffini, reconhecendo o outro no seu modo. Assembleia da Ceama testemunha união Assim acontece com encontros como este, de Manaus, que ajudam a “redescobrir que já somos uma rede, para testemunhar a importância de estarmos unidos e a beleza da comunhão que nos une e nos fortalece”. Mesmo distantes, reforça o prefeito em vídeo, é um trabalho eclesial conjunto em direção a um mundo melhor e a uma comunicação alternativa: “Somente unindo nossos esforços poderemos realizar a mudança de que a humanidade precisa. Somente com uma boa comunicação poderemos superar a invasão colonizadora dos meios de comunicação de massa denunciada pelo Papa Francisco.” O prefeito Paolo Ruffini também falou da responsabilidade de todos de se criar uma narrativa diferente e do bem para o sistema de comunicação, mesmo se com a exigência de uma formação permanente, baseado mais na humanidade do que na tecnologia das máquinas ou no cálculo algorítmico. Como afirma o documento final do Sínodo sobre a Amazônia: “precisamos de uma cultura comunicativa que favoreça o diálogo, a cultura do encontro e o cuidado com a nossa casa comum”, enfim, uma conversão ecológica integral com difusão do amor, do bem viver e da boa comunicação. A cultura do amor por Vinicius de Moraes E o Papa falou sobre essa cultura, continuou Ruffini, através da poesia de Vinicius de Moraes, um dos grandes artistas brasileiros do século XX, que escreveu: “Sofre o mundo da transformação dos pés em borracha, (das pernas em couro, do corpo em pano e) da cabeça em aço. (Sofre o mundo da transformação das mãos em instrumentos de castigo e em símbolos de força. Sofre o mundo da transformação da pá em fuzil, do arado em tanque de guerra), da imagem do semeador que semeia na do autômato com seu lança-chamas, de cuja sementeira brotam solidões.” |trecho integral de Vinicius de Moraes, A transfiguração pela poesia 1946| Como diz Francisco, continuou Ruffini no vídeo, é preciso recuperar uma “sabedoria do coração” para saber ler e interpretar as novidades do nosso tempo – entre avanço tecnológico dos sistemas digitais e inteligência emocional – e “redescobrir o caminho de uma comunicação plenamente humana”. Um caminho de valorização da tradição dos povos amazônicos e de unidade diante do egoísmo, sem esquecer das “raízes da nossa comunicação” que devem ser mantidas nos corações. “Kûekatu”, finalizou o prefeito Paolo Ruffini. A Assembleia da Ceama foi realizada em Manaus, no Estado do Amazonas Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui