Lar Cidades Quatro em cada 10 moradores de Campinas eram escravizados em 1872, mostra 1º Censo do Brasil

Quatro em cada 10 moradores de Campinas eram escravizados em 1872, mostra 1º Censo do Brasil

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Em Campinas (SP), um dos principais centros econômicos do país, a porcentagem de pessoas escravizadas era ainda maior, dos 31.397 moradores, 13.685 eram homens e mulheres escravizados, uma proporção de 43,6%. Tais números trazem consequências para os dias atuais, como o racismo estrutural e cultural. Para entender esse processo e o impacto na sociedade atual, a EPTV, filiada da Rede Globo, entrevistou os pesquisadores Maísa Faleiros da Cunha, do Núcleo de Estudos de População (NEPO) da UnicampMatheus Gato, coordenador do Afro Cebrap e professor de sociologia na Unicamp.Edna Almeida Lourenço, professora de história. EPTV 2 faz reportagem especial para Dia da Conciência Negra Campinas em 1872 Segundo o censo de 1872, na província de São Paulo, havia 837.354 habitantes, destes, mais de 156.612 eram escravizados, ou seja, 18,7% do total. E entre os 89 municípios da província, nenhum outro lugar tinha tantos escravizados quanto Campinas. O município era dividido em duas freguesias: Nossa Senhora da Conceição de Campinas, que tinha 9.942 pessoas livres e 6.705 homens e mulheres escravizados.Nossa Senhora do Carmo e Santa Cruz de Campinas, com 7.770 pessoas livres e 6.980 escravizadas. Eram 31.397 moradores pessoas morando no município, e destes, 13.685 escravizados. Valor que representa 43,6% de toda a população na época. “No caso de Campinas e outras localidades do Brasil que utilizavam de forma mais intensa a mão de obra escravizada. E Campinas principalmente por estar participando dessa agro exportação, há uma grande demanda por mão de obra. Então por isso que você tem essa presença tão significativa”, explica Faleiros Quatro em cada 10 moradores de Campinas eram escravizados em 1872, mostra 1º Censo do Brasil — Foto: Reprodução EPTV Estigma que perpetua Matheus Gato volta a atenção para a questão de que em 1872, mesmo entre a população livre havia negros e estes eram marginalizados, estigma que se perpetuou ao longo dos anos. “O que acontece quando vem a abolição e esses negros são deixados à margem e como é que isso reverbera até hoje”, fala. Ele explica que, mesmo entre as pessoas livres, essa população enfrentavam preconceitos e exclusão social e sujeita a um imaginário social que vinculava automaticamente a negritude à escravidão. Em Campinas, o censo de 1872 mostra que entre as 17.712 pessoas livres, 5.111 eram classificados como pretos, pardos ou caboclos, que corresponde a 14,68% do total. Após a abolição, essa população enfrentou desafios ainda maiores, pois sem políticas de inserção, muitos negros que haviam conquistado algum direito ou posse viram essas conquistas esfacelarem. “O período pós-Abolição não é só um período de pessoas que não tem nada com dificuldade para conseguir mais coisas para conseguir ter uma vida melhor, mas dificuldade de pessoas que tinham conseguido alguma coisa e que aquelas conquistas vão se perdendo então a ideia mesmo que a gente tem é os negros são os descendentes dos escravos significa que a escravidão é o estigma que constitui à ideia de pessoa negra”, explica. A abolição, longe de significar emancipação plena, reforçou barreiras sociais e econômicas para os negros, especialmente em áreas como moradia, trabalho e educação. Mulheres negras, por exemplo, permaneceram massivamente vinculadas ao trabalho doméstico, um setor historicamente desprovido de garantias trabalhistas. “Dizer as consequências da escravidão, elas não são só consequências para a gente pensar o racismo, mas para a gente pensar, por exemplo, o próprio modo como a ideia de trabalho de vida é vivida no Brasil. A escravidão conformou um certo desprezo por uma forma de trabalho, o desprezo pelo trabalho manual”, finaliza. Professora de história Edna Almeida Lourenço. — Foto: Reprodução EPTV Liberdade no dia seguinte? A escravização foi abolida 16 anos depois daquele censo, em 13 de maio de 1888. Mas o que aconteceu com a população no dia seguinte? A professora de história Edna Almeida levanta o questionamento. “Não gosto de falar do dia 13, nem do dia 14, mas eu foco no dia 14. O dia seguinte, libertos, sem moradia, sem educação, sem alimento, sem nada, você olha para um lado e para o outro e qual horizonte? […] Foi ali que começou o nosso problema mesmo de forma decisiva que não se resolveu até o dia de hoje, entendeu?”, fala. A professora Edna é descendente de escravizada. Ela guarda em casa dois objetos deixados pela bisavó, um ferro de passar que era aquecido com brasa e uma chaleira. VÍDEOS: saiba tudo sobre Campinas e Região

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