A dona de casa Michele Daiane Franco, 42 anos, se compromete há 10 anos com os animais a quem leva ração, troca a água e oferece muito carinho. Pode ser embaixo de chuva ou em datas comemorativas como o Natal, não tem tempo ruim para a protetora. “Eu amo os animais, me preocupo deles passarem fome ou sede. Venho até debaixo de chuva, se não consigo vir às 23h, venho de madrugada, mas não deixo de vir. Me sinto a tutora deles mesmo”, contou. Além de Michele, o guarda municipal Cassiano Ferreira, de 42 anos, comparece religiosamente ao parque todo início de noite. (veja mais abaixo). Dedicação 😺 Gatinhos do Parque Infantil recebem visita diária dos protetores independentes. — Foto: Amanda Rocha/g1 Todo dia, às 23h, Michele “bate cartão” no parque. Assim que coloca o pé na praça, a gata Menina e o gato Negão correm em sua direção. É a hora da janta e da água fresca. Quando chove, ela forra um dos bancos do parque com plástico e deixa a ração de baixo para não molhar. Os animais já sabem do ritual e aguardam a refeição. Michele tem animais de estimação, e como não comporta outros em sua casa, acabou “adotando” os animaizinhos do parque. Quando, por algum motivo, não consegue comparecer à sua visita diária, avisa Cassiano e vice-versa. Os gatos Menina e Negão se alimentam com a supervisão cuidadosa da protetora Michele. — Foto: Amanda Rocha/g1 Cuidado animal Cassiano começou a tratar dos gatinhos após notar que um senhor que cuidava dos animais deixou de aparecer, sete anos atrás. “Eu sempre treinei no parque e via um senhor que alimentava os gatos, mas ele ficou doente e parou de vir e eu acabei assumindo. Eu via os gatos o esperando, e isso acabou virando uma rotina para mim. Agora eles me esperam”, contou. O guarda municipal cuida dos animais que ficam próximo ao portão da escola municipal que fica no meio do parque, onde a galera costuma treinar. Por volta das 19h30, os gatos já o aguardam. Mais de 10 gatos são alimentados por ele. Por dia, ele gasta um quilo de ração, muitas vezes doadas por ONGs da cidade. Já chegou a castrar alguns com ajuda dessas organizações. “Já houve 30 gatos. Eu faço de tudo para castrar, ou corro atrás de ONGs que me ajudam, mas não sou vinculado a nenhuma, sou protetor independente. Eu confesso que vir todo dia, às vezes até atrapalha na minha vida pessoal, mas se eu não venho, quem vai cuidar deles?”, afirmou. Um vídeo feito pelo guarda municipal mostra os animais se alimentando e o gato “Amarelo” de volta à colônia dos felinos. Ele havia sumido por uns dias. (Veja o vídeo abaixo) Protetor mostra gatinhos se alimentando em parque de Araraquara Um bebedouro foi instalado por Cassiano com a ajuda de uma ONG para que não falte água. Mesmo assim, ele também leva potes e troca água em pontos estratégicos todos os dias. Segundo a coordenadoria municipal de Bem-estar Animal, a maioria dos gatos que vive no Parque Infantil já foi castrada por meio da técnica “captura, esteriliza e devolve”. Gerações de gatinhos Ao longo de uma década, Michele já viveu muito luto pelos animais, assim como Cassiano. A expectativa de vida de um gato de rua é de três a dez anos. “Já cuidei de várias gerações de gatos aqui, mas acabam sumindo, morrendo. Já chorei com a morte deles, é bem triste. Mas faço o possível para deixar eles alimentados e bem”, contou Michele. Corintiana tem 7 anos é uma das gatinhas mais velhas do Parque. Todo dia, ela espera Cassiano trazer ração e água. — Foto: Amanda Rocha/g1 Ela e Cassiano acompanham várias gerações de gatinhos. No momento, Corintiana, Negão e Menina são os mais velhos do Parque, com idades entre sete e 10 anos. Um dos problemas apontados pelos protetores são os cachorros soltos. Eles sempre alertam os donos dos cães para afastarem o animal e tentam proteger o espaço. “O problema aqui são os donos que deixam cachorros soltos, e ele correm atrás dos gatos, mordem, é complicado. Esses dias um deles morreu porque um cachorro pegou. Queria ser dona de uma chácara ou fazenda para levar todos os bichinhos para lá”, disse Michele. Animais silvestres Além dos gatinhos, gambás, corujas e gaviões são vistos no Parque Infantil. No mês passado, um filhote de coruja que estava no chão encantou e preocupou alguns frequentadores. Devido aos gatos, as pessoas ficaram com medo de a ave ser caçada e a colocaram dentro da cerca da escola. Porém, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente explica que ao avistar um filhote não se deve tocar no animal, a não ser que esteja em alto risco. “Ao avistar um filhote, não se deve tocar, porque ali existe um ciclo natural. Existem aves, por exemplo, que necessitam da fase de solo. Na natureza, os mais aptos sobrevivem ao ciclo natural. No entanto, caso a pessoa observe um risco muito alto, considerando o ambiente urbano, poderá colocar cuidadosamente o filhote em um ponto mais alto, mas nunca longe do local em que ele se encontra”, orientou a nota. A pasta reforça que a fauna silvestre, como gambás, corujas e outros animais, está presente em ambientes urbanos e as pessoas precisam se acostumar a conviver em harmonia com os bichinhos. Filhote de coruja encantou frequentadores do parque. Ela estava no chão e foi colocada em lugar seguro. — Foto: Amanda Rocha/g1 VEJA VÍDEOS DA EPTV: