“Decidimos montar o cursinho por acreditar no potencial que a educação tem de mudar histórias e por acreditar que a universidade, principalmente a pública, é do povo e deve ser ocupada por ele. Também por não percebemos a existência de um cursinho popular autônomo e auto gerido na cidade que não contasse com prova eliminatória e nem contasse com o tipo de seleção que fazemos, que é sócioeconômica com recorte de raça e gênero”, explicou a professora Ariane Batagy. O projeto socioeducativo Cursinho Livre Caburé oferece 30 vagas para preparação dos estudantes para o Enem e outros vestibulares. As inscrições começam neste sábado (1º) e seguem até 16 de junho. Nos dias 15 e 16 de junho, das 14h às 18h, serão realizadas inscrições presenciais no Quilombo Rosa no Valle Verde, sede do cursinho neste ano (veja endereço no final da matéria). Para se candidatar, a pessoa passa por uma análise socioeconômica que filtra quem realmente mais precisa da vaga. O estudante deve ter concluído ou estar cursando o terceiro ano do ensino médio em 2024. Não são realizadas provas no processo seletivo (acesse o edital de inscrição aqui). Aulas de português, matemática, história, geografia, sociologia, filosofia, biologia, química, física e idioma serão oferecidas a partir de 1º de julho, das 19h30 às 21h45. O cursinho oferece também palestras e atividades extracurriculares. Educação gratuita e autônoma A iniciativa do cursinho começou em 2017 por meio de duas professoras da cidade, Ariane Batagy e Marina Petersen. Devido à falta de um espaço, elas tiveram que suspender o curso nos últimos dois anos. O retorno foi possível graças a um espaço cedido pela Prefeitura de Araraquara. Sem vínculos ou patrocínios, o cursinho é gerido pelos prórpios professores, que realizam rifas e eventos para comprar material didático, entre itens necessários O cursinho conta com uma equipe gestora, mas todos os integrantes são responsáveis pelo funcionamento. “O nosso caixa provém de festas e rifas que realizamos para ajudar a comprar material para os professores utilizarem na sala de aula, divulgação física e na compra de comida para oferecermos de lanche no intervalo das aulas”, disse Ariane, que é responsável pelas aulas de história. Voluntariado O autônomo Pedro Oller, de 31 anos, faz parte do corpo docente desde o início do projeto e também já lecionou no Cursinho Unificado do Campus Araraquara (Cuca). Formado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), ele começou com aulas de redação quando ainda era universitário e hoje leciona atualidades. “São pelo menos 10 anos trabalhando em cursinho popular e foi muito especial a experiência de participar da construção do Caburé desde seu início. Eu aprendi muito e nós fomos aprendendo juntos, desenvolvendo e amadurecendo nossa visão e nossa forma de cuidar do cursinho a partir da própria prática”, afirmou. Professores e alunos do Cursinho Caburé: Além das aulas curriculares, o curso também oferece atividades extracurriculares de reflexão e debate. — Foto: Divulgação Ensino sem cobrança A professora Ariane lembrou que, ao longo dos anos, vários estudantes foram aprovados nas principais universidades do país como a USP, Unicamp, Unesp, UFSCar, e outras particulares. Porém, para os professores o impacto do ensino está além das aprovações. Oller disse que o foco não é a cobrança e sim o desenvolvimento pessoal e coletivo dos estudantes. “Sempre dissemos que as aprovações nos vestibulares não era um medidor do êxito do cursinho. O maior ganho é ver que o aluno que passou pelo cursinho se tornou uma pessoa dona de si, consciente, instruído, dedicado a buscar se inserir no que gosta, disposto a agir pelo próximo, a fazer a diferença. São esses os resultados mais importantes na nossa visão”, disse. Debates e reflexão Além das aulas da grade pré-vestibular, o cursinho oferece atividades extracurriculares com debates e reflexão . Palestras com professores convidados da Unesp e das redes estadual e municipal enriquecem ainda mais as aulas. Tanto Oller quanto Ariane reforçam a importância de levar ensino gratuito e de qualidade para bairros marginalizados da cidade. “Nosso objetivo envolve em inserir nas universidades pessoas críticas, questionadoras, pois é nesses espaços que se produz a ciência do país, e vimos que faz total diferença ter jovens de camadas da sociedade historicamente marginalizadas e excluídas do acesso ao ensino, produzindo conhecimento também”, disse o professor de atualidades. O endereço do Cursinho Livre Caburé é no Quilombo Rosa, localizado na Rua Lázaro Machado 1.150, no Valle Verde. Outras informações podem ser obtidas pelo telefone (16) 98165-0109 (Ariane) ou por meio do Instagram oficial do cursinho.
Professores se unem para fazer cursinho gratuito em Araraquara; inscrições estão abertas
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