O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, admitiu que seu país tem responsabilidade pelos crimes da era colonial, como tráfico de pessoas na África, massacres de indígenas e saques de bens. A declaração, de acordo com a Agência Reuters, foi feita em uma conversa com correspondentes estrangeiros na noite desta terça-feira. É a primeira vez que um chefe de Estado português reconhece publicamente a culpa pela escravidão no Brasil. No ano passado, Rebelo de Sousa já havia dito que Portugal deveria se desculpar pela escravidão transatlântica e pelo colonialismo, mas não chegou a pedir desculpas oficialmente. O presidente de Portugal também disse que sugeriu ao seu governo fazer reparações pela escravidão e afirmou que seu país “assume total responsabilidade pelos danos causados”. No entanto, ele não especificou de que forma a reparação será feita. A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, comentou as declarações do presidente de Portugal. Ela destacou que esse debate é fruto de séculos de cobrança da população negra. Anielle também reforçou que a declaração precisa ser seguida de ações concretas e que a equipe do governo brasileiro já está em contato com o governo português para dialogar sobre quais passos serão tomados em relação a medidas de reparação. Para o doutor em História, Petrônio Domingues, Portugal precisa ir muito além de uma declaração pública de reconhecimento da culpa pela escravidão. Especialista em História das populações negras e das experiências afro-diaspóricas, o professor da Universidade Federal de Sergipe acredita que as ações de reparação precisam ser efetivas e focadas no presente. Portugal foi o país que mais traficou na era colonial. Quase seis milhões de pessoas foram escravizadas à época, ou seja, quase metade do total. Entre os séculos XVI e XX, Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde e Timor Leste foram submetidos ao domínio português.