O termo surgiu pela primeira vez na tese de doutorado do pesquisador Valdely Kinupp e, sendo um conceito abrangente, inclui plantas comestíveis que não tivessem produção industrial e não fossem consumidas pela população em geral. O trabalho em divulgar a rica diversidade dessas espécies surgiu por considerar importante sua própria autonomia alimentar. Com o tempo, o projeto cresceu, tornando-se altamente produtivo e especializado no cultivo dessas plantas. Valdely Kinupp, biólogo e doutor em Fitotecnia. — Foto: Sharon Barcelos Carvalho “Popularizar o conhecimento das PANC é vital, principalmente frente às mudanças climáticas, enchentes, secas prolongadas, essas plantas são alternativas para tudo, porque são adaptadas às diferentes condições, sejam ambientes alagados, solos pobres, expostos”, explica Valdely. A estimativa de plantas alimentícias não convencionais (PANCs) no Brasil é de cerca de 10 mil espécies, com grandes chances de ainda existirem outras a serem descobertas. No Sítio PANC, centenas de espécies são cultivadas, incluindo plantas nativas e exóticas. “As PANC estão na música, na arte, na poesia, no cinema, nos livros. Então, essas plantas são um tipo de alimento como qualquer outro. Temos as verduras folhosas, as flores alimentícias, as castanhas, os frutos, raízes, caules”, pontua o biólogo. Plantas alimentícias não convencionais cultivadas no Sítio PANC — Foto: Sharon Barcelos Carvalho Segundo ele, o propósito das PANCs não é substituir os alimentos convencionais, mas agregar na alimentação, de forma que haja o aproveitamento integral de todas as partes da planta. Um exemplo é a melancia, uma fruta amplamente popular e cultivada em todo o mundo. Embora a polpa seja a parte mais comumente consumida, outras partes da espécie também são comestíveis, como a flor, o botão floral, as folhas, a casca e a entrecasca. Para Kinupp, essas plantas ainda são muitas vezes vistas apenas como alimento para pessoas em situação de vulnerabilidade social. O estigma limita significativamente esse mercado, apesar das PANCs gradualmente conquistarem espaço em restaurantes de alta gastronomia. Valdely Kinupp no Sítio PANC — Foto: Sítio PANC “As pessoas negligenciam as folhosas e frutas diferentes porque desconhecem, não sabem o nome, modo de preparo, quais receitas podem ser feitas. Então, é um trabalho contínuo de divulgação, não é simples”, pontua. No livro “Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil”, publicado em 2021, está o resultado das pesquisas feitas pelos autores Valdely Kinupp e Harri Lorenzi, dois dos maiores estudiosos de plantas no país. O livro apresenta 351 espécies entre nativas e exóticas (espontâneas e cultivadas no Brasil), consumidas no passado ou em alguma região do país e mundo. Para cada uma, há características morfológicas para facilitar a identificação botânica, informações sobre uso geral e culinário e fotos das partes das plantas que podem ser consumidas e três opções de receitas para preparar. “Eu acho que o futuro das PANC só tende a crescer, porque as crises ambientais e catástrofes climáticas estão crescentes e eu espero que as pessoas aprendam com isso, aprendam com as pesquisas que estão sendo feitas e vejam que nós desde sempre somos onívoros, devemos comer mais plantas”, finaliza.