O Projeto de Lei 092/2024, aprovado após quatro alterações, institui a “Semana municipal das Aves Migratórias e Aves Limícolas no município de Ilha Comprida” a ser comemorado anualmente no segundo sábado do mês de outubro ao terceiro sábado. Segundo a SAVE Brasil, aves limícolas são um grupo de espécies aquáticas que utilizam zonas entremarés e ambientes próximos a corpos d’água e alagados de pouca profundidade, ao longo da costa e também em águas interiores. Durante esta semana, o município de Ilha Comprida e os órgãos públicos municipais poderão realizar eventos culturais, esportivos, ambientais e turísticos destinados a promover o conhecimento da importância ambiental das aves migratórias e aves limícolas e seus habitats. O PL também aborda a promoção de campanhas educativas nas escolas, programas de educação ambiental produção de material didático sobre as espécies. A proposta foi inspirada em um trabalho de conservação que começou na cidade de Peruíbe, a 122 km de Ilha Comprida. Pioneiro no litoral paulista, o projeto de lei surgiu através do projeto Aves Limícolas, do GOA Peruíbe (Grupo de Observadores de Aves de Peruíbe), que conta com mais de 60 observadores de aves, e do COA Ilha Comprida (Clube de Observadores de Aves). O maçarico-branco (Calidris alba) é uma ave que migra grandes distâncias, viajando entre 4.800 a 16.000 km de um terreno fértil para os seus sítios de invernada — Foto: simben/iNaturalist O biólogo e ornitólogo Bruno Lima, também diretor do projeto Aves Limícolas, explica as ações positivas que podem ser realizadas através desse projeto de lei. “É um marco para o ambientalismo na conservação do litoral de São Paulo, sendo o primeiro município no litoral a considerar as aves como patrimônio municipal. Isso quer dizer que agora a cidade está passiva a receber verba para realizar festivais e pesquisas na área, além de movimentar o turismo e a conservação das aves”, conta Bruno. O diretor do projeto conta que eles também trabalham com aves migratórias, por isso não faria sentindo atuarem apenas em um lugar, e assim decidiram levar o projeto para Ilha Comprida. “Escolhemos a cidade de Ilha Comprida porque é a cidade do litoral de São Paulo que mais recebe aves limícolas, principalmente as neárticas, que vem do Polo Norte”, explica o ornitólogo. Bruno e sua esposa, Karina Ávilla, bióloga e diretora do projeto Aves Límicolas, participam ativamente de outras iniciativas. No início do ano, a bióloga sugeriu a cidade de Peruíbe a concorrer ao título de “Cidade das aves”, nomeação internacional concedida pelas organizações American Bird Conservancy (ABC), Enviroment for the Americas (EFTA) e US Fish & Wildlife Service. Para concorrer ao título, as cidades interessadas devem cumprir com alguns requisitos: Não ter praias pet friendly (a cidade realiza um trabalho de educação ambiental nas praias que orienta os banhistas a não trazerem cães);Ter um grupo que atua na conservação das aves (o projeto Aves Limícolas atua há cinco anos com pesquisa e educação ambiental);Celebrar o Dia Mundial das Aves;Possuir áreas de proteção ambiental. A coruja-buraqueira (Athene cunicularia) foi eleita como ave símbolo da cidade de Peruíbe — Foto: ulises_zc/iNaturalist Segundo o ornitólogo, o único requisito faltante para a cidade no momento da inscrição era a ave símbolo do município e, para decidir isso, foi realizado uma votação com a população e a coruja-buraqueira (Athene cunicularia) acabou sendo a escolhida. Após completar todos os requisitos, Peruíbe deve receber o título de “Cidade das Aves” no mês de setembro. Bruno ainda comenta sobre um projeto futuro a ser realizado em Ilha Comprida e Peruíbe que consiste no monitoramento de piru-piru (Haematopus palliatus), uma ave ameaçada no estado de São Paulo. *Texto sob supervisão de Giovanna Adelle VÍDEOS: Destaques Terra da Gente