Mais de 200 pesquisadores em direitos digitais acionaram a Justiça dos EUA para que a Meta, dona do Facebook, do Instagram, no Threads e do WhatsApp, não possa mais controlar o que os usuários veem em suas timelines. Hoje, essas plataformas decidem, sozinhas e por meio de algoritmos de inteligência artificial, quais publicações e em qual ordem aparecem para seus usuários nas telas de rolagem infinita. O código dos aplicativos costuma privilegiar os conteúdos que mais prendam os olhos das pessoas às telas. Os 230 pesquisadores que assinam a ação propõem que os usuários tenham liberdade para instalar extensões que os permitam escolher quais publicações têm prioridade. Se isso fosse possível, poderiam dar preferência às fotos de amigos ou a conteúdos noticiosos, por exemplo. A petição foi protocolada pela entidade com foco na liberdade de expressão Instituto da Primeira Emenda, da Universidade de Columbia, em Nova York, em nome do pesquisador Ethan Zuckerman, da organização por direitos digitais Global Voices. Zuckerman é um dos inventores do anúncio “pop-up” na internet, que dá ao usuário a chance de fechar o anúncio, caso queira. O texto se apoia em uma legislação normalmente usada para eximir as redes sociais de responsabilidade pela publicação dos usuários —a seção 230 do Ato pela Decência na Comunicação. Um trecho dessa lei garante, na interpretação de Zuckerman, o direito das pessoas de decidir como querem acessar à internet e as ferramentas que querem usar para isso. “O texto é um tanto explícito sobre bibliotecas e pais terem controle para evitar conteúdos obscenos ou indesejados”, disse o especialista à revista Wired. Para Zuckerman, esse trecho antecipa a necessidade de ter controle sobre o conteúdo em evidência em uma rede social como o Facebook. O processo judicial é uma medida preventiva para evitar que o Facebook bloqueie a ferramenta Unfollow Everything 2.0 (deixe de seguir tudo 2.0, em tradução livre), que o pesquisador pretende lançar em breve. A extensão tem o objetivo de facilitar a tarefa de tirar pessoas, páginas e grupos indesejados da própria rede social. Atualmente, o usuário precisa deixar de seguir cada conta, página ou grupo por vez. Folha Mercado Receba no seu email o que de mais importante acontece na economia; aberta para não assinantes. O Unfollow Everything 2.0 seria um passo inicial para desarticular a curadoria guiada por engajamento das redes sociais da Meta. Nos últimos anos, a Meta tem bloqueado soluções que alterem as configurações de suas redes sociais. Em 2021, a empresa, por exemplo, baniu permanentemente de suas redes o desenvolvedor Louis Barcley que criou o “Unfollow Everything” original. Barcley escreveu como notou que diminuiu muito o tempo de navegação no Facebook quando ativou a extensão. Neste ano, a gigante das mídias sociais também anunciou o fim, programado para agosto, do Crowdtangle, extensão que permitia medir o engajamento nas redes sociais. A ferramenta foi lançada pela própria Meta em 2016. Em outras ocasiões, a Meta afirmou que permitir que programas externos mudem como as pessoas acessem seus serviços pode gerar brechas de segurança e privacidade. Hoje, Instagram e X (que não pertence à Meta) disponibilizam a opção de ordenar as publicações cronologicamente na linha do tempo —mas não há filtros para quem quer ver priorizar notícias ou publicações de amigos, por exemplo.