Beatriz Almeida, especialista em biologia marinha e mestranda em Ciências Ambientais, explica que o guaiamum (Cardisoma guanhumi) está criticamente ameaçado pela combinação de sobrepesca, perda de habitat e urbanização. A captura excessiva para consumo e a degradação de áreas costeiras, como manguezais e zonas de praia onde a espécie vive, são fatores determinantes que o tornam vulnerável. A especialista conta que, restaurar áreas de manguezal e vegetação costeira é vital para a sobrevivência do guaiamum, pois são locais de abrigo e alimentação. Atividade conjunta com catadores de Guaiamum e pesquisadores para identificar áreas aptas a receber projeto de restauração florestal — Foto: Marcos Santos Fraga “O habitat precisa incluir vegetação densa e diversidade de árvores, como Rhizophora mangle, para oferecer condições adequadas para a construção de tocas e proteção contra predadores e fatores climáticos adversos”, revela. Ainda de acordo com Beatriz, identificar esses pontos possibilita a criação de áreas de refúgio, aliviando a pressão sobre as populações locais dessa espécie. Esses espaços podem servir como fontes para a dispersão natural e apoiar a recuperação de populações ameaçadas, além de minimizar o impacto da exploração em regiões mais vulneráveis. Neste primeiro momento do trabalho a missão é localizar essas áreas. Restauração florestal Para o professor Felipe Ribeiro, do Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, o levantamento desses lugares e a presença da espécie em uma unidade de conservação permite que a população estabelecida do guaiamum na área se desenvolva e se reproduza sem muito impacto antrópico. “A restauração florestal permitirá uma melhor estruturação do solo e aumentará a disponibilidade de recursos para a espécie. O habitat precisa ter sua composição de espécies vegetais nativas relacionada às áreas de manguezal e restinga, pois, a espécie vive na transição entre esses dois tipos de ecossistemas”, aponta Ribeiro. A recuperação do habitat da espécie é uma das diretrizes mais importantes do PGL do guaiamum da APA da Bacia do Rio São João/Mico-leão-dourado — Foto: Gisela Livino de Carvalho O especialista destaca a importância ecológica da espécie devido ao seu comportamento escavador, que envolve a construção de tocas. Considerado um engenheiro de ecossistemas, assim como outros caranguejos, o guaiamum modifica a estrutura física e o perfil químico do solo, aumentando a disponibilidade de recursos e criando condições favoráveis à sobrevivência de outras espécies dos manguezais. Colaboração dos catadores e pescadores Além de estar ameaçado de extinção, o guaiamum é uma importante fonte de subsistência para comunidades pesqueiras e pode ser explorado de maneira sustentável por meio de um Plano de Gestão Local (PGL) específico para a espécie. “O guaiamum tem o crescimento mais lento quando comparado a outros caranguejos, requerendo cerca de três vezes mais mudas para atingir seu tamanho máximo. Isso limita a exploração do recurso em grande escala. Para serem pescados, esses animais precisam ser capturados com um tamanho mínimo, a fim de garantir a reprodução adequada e o recrutamento subsequente. Além disso, devem ser evitadas épocas em que a espécie esteja se reproduzindo”, explica o professor. Os estudos indicam que essa regulamentação, acompanhada de programas de educação e fiscalização rigorosa, ajudam a equilibrar necessidade econômica versus a conservação da espécie. Assim, conforme explica Janaína Oliveira, bióloga e especialista em biologia reprodutiva de caranguejos braquiúros, o conhecimento dos catadores e das comunidades tradicionais é essencial. Eles compartilham com os pesquisadores informações valiosas sobre espécies como o guaiamum, incluindo detalhes sobre seu período reprodutivo e abundância. Esse conhecimento facilita o manejo adequado e contribui para a conservação da espécie. A espécie Esse caranguejo é encontrado em regiões costeiras do Atlântico Ocidental, incluindo o Caribe, América Central e o norte da América do Sul, estendendo-se até o sudeste do Brasil — Foto: shigui_huang / iNaturalist Esse caranguejo é encontrado em regiões costeiras do Atlântico Ocidental, incluindo o Caribe, América Central e o norte da América do Sul, estendendo-se até o sudeste do Brasil, onde as populações são especialmente ameaçadas em áreas urbanizadas. O guaiamum se alimenta de folhas, frutas e gramíneas próximas a seus túneis, embora também possa se alimentar de insetos, fezes e até mesmo outros exemplares da mesma espécie, sendo, por isso, citado como onívoro por alguns pesquisadores. O animal atinge a maturidade sexual com aproximadamente com um ano e meio de idade, e sua prole é estimada em 20.000 a 600.000 indivíduos, que nascem através de ovos colocados no manguezal. VÍDEOS: Destaques Terra da Gente