Pão feito de flor e sabores da roça atraem público à padaria e lanchonete rural a 30 km de Araraquara

Pão feito de flor e sabores da roça atraem público à padaria e lanchonete rural a 30 km de Araraquara

A comerciante é responsável pela lanchonete Rota dos Ciclistas, e como o nome já diz atrai os amantes do pedal ávidos para recarregarem a “bateria” após trilhas intensas. A rota da culinária rural fica a 30 km da Morada do Sol, entre Bueno de Andrada e Matão (SP), e não é empecilho para quem gosta de tomar um café da manhã caprichado, com sabores únicos da roça, ao som de passarinhos e ar puro. E o diferencial é que os ingredientes orgânicos são colhidos fresquinhos na horta de seu sítio. “Eu uso tudo o que tenho no sítio, frutas, ervas e também as pancs (plantas alimentícias não convencionais), elas são muito saudáveis. Faço pão de ora pró-nobis, de alho poró com cúrcuma, pão doce de cabotiã, bolo de capim limão com laranja e tradicionais”, contou Jisele. Jisele Santana é padeira no Assentamento Monte Alegre de Araraquara e inventa receitas criativas com Pancs. — Foto: Amanda Rocha/g1 Made in roça Jisele se especializou na panificação com Planta Alimentícia Não Convencional (Pancs), como a ora pro-nóbis, um dos principais pães do cardápio. A Panc pode ser tanto uma planta ou uma flor comestível. “Desenvolvi duas receitas de pães, uma é de uma flor comestível, conhecida como a fada azul (clitória). O pão fica azulzinho, lilás, bem bonito. A outra que criei é com shimeji desidratado. Eu sempre gostei de brincar com os alimentos, para mim os alimentos são como uma alquimia, eu vou misturando e vendo no que vai dar”, contou. Pão de flor: “fada azul” é uma receita exclusiva da padeira Jisele da lanchonete rural Rota dos Ciclistas de Araraquara — Foto: Arquivo pessoal Sem medo de errar, a padeira inventa receitas e testa várias vezes até chegar ao pãozinho ideal. Todos são de fermentação natural, sem conservantes, e o tempo do preparo é de 10h a 12h. Na lanchonete rural, o cliente pode escolher o tipo de pão que preferir e experimentar lanches diferenciados. Bolos, sucos naturais e bolachinhas também estão no cardápio. Sabores da roça: cabotiã, alho poró e até flor são ingredientes de pães em assentamento de Araraquara — Foto: Arquivo pessoal “O cliente escolhe o pão que preferir e fica muito bom. Eu asso na madrugada antes de abrir para oferecer produtos frescos. Vêm muito ciclistas, mas também famílias para tomar café, tenho público muito bom de Araraquara , Matão, São Carlos e Ribeirão Preto”, disse. Clientela fixa A clientela aprova e encomenda semanalmente os quitutes, que também são vendidos na feira do Daae de Araraquara todas as terças-feiras. Pães sem glúten também são assados em diversos sabores como opção aos celíacos (pessoas com intolerância ao glúten). Os valores dos produtos variam de $ 12 a $ 15, dependendo do tamanho. Pão de cúrcuma com ora pro nóbis e alho poró, receitas únicas da padeira Jisele Santana de Araraquara — Foto: Amanda Rocha/g1 Agora o plano de Jisele é ampliar o espaço, construir uma cozinha maior e oferecer cursos de panificação. “Eu quero ampliar aqui porque trabalho na cozinha da minha casa e alugo o contêiner onde sirvo os lanches. Quero formar outras pessoas, ensinar um pouco do que sei, para quando eu precisar sair ter alguém que continue. Eu já dei vários cursos de panificação na região”, contou. Antes de abrir a Rota dos Ciclistas há quatro anos, a padeira fez parte da Padoka, uma importante conquista da Associação das Mulheres Assentadas (AMA). Lanchonete literalmente faz parte da “rota dos ciclistas” da região de Araraquara. — Foto: Arquivo pessoal Padoka Ponto tradicionalíssimo da culinária rural, há 16 anos a padaria é uma referência e itinerário fixo de muitos ciclistas da região. Fundada pela AMA, entre elas as padeiras Elizete Cordeiro dos Santos, de 65 anos, e Maria José Severino Neponuceno, de 67 anos, a Padoca começou na cozinha experimental da escola do Monte Alegre através de demanda de Orçamento Participativo (OP). Padoka: seis mulheres comandam a padaria rural do assentamento Monte Alegre de Araraquara. — Foto: Amanda Rocha/g1 Pão de milho, de soja, de cenoura, fatia húngara, pão de torresmo, de linguiça, bolos, biscoitos de nata, de maisena, polvilho e sequilho são alguns dos 30 produtos caseiros fabricados por elas. “Nós começamos em um grupo de mais de 20 mulheres, fizemos a AMA, e fomos fazendo cursos de panificação. No começo era para ser uma horta aqui, mas mudamos o projeto para padaria e aguardamos oito anos até a fundação. Foi muito emocionante”, lembrou Elizete. Padoka fica na área rual da Morada do Sol, são 30 km de distância; local é ponto de encontro de ciclistas. — Foto: Amanda Rocha/g1 “A gente começou comprando fiado na venda lá em cima, foram R$ 60 reais de produtos, farinha, óleo, pó royal , fubá e levava de ônibus para vender no terminal de Integração de Araraquara”, lembrou dona Maria José. Clientes do pedal Ciclistas chegam “em bandos” até a Padoka. Local é ponto de encontro da galera do pedal da região. — Foto: Arquivo pessoal Apesar das dificuldades no início, as comerciantes contaram que os ciclistas foram os grandes responsáveis pela visibilidade do local. Através do famoso boca-a-boca, eles foram espalhando sobre a padaria e a “batizaram”, assim como deram o nome de alguns lanches, como o X-Gordela ( homenagem a um cliente), X-Furioso e X-Padoka. “Abrimos uma portinha aqui, começou a vir ciclista e um foi falando para o outro. Um pediu pão com ovo, fizemos e a notícia se espalhou. Não tinha nada aqui antes, era o fim do mundo”, contou Elizete. X-furioso foi um nome dado por ciclistas-clientes da Padoka de Araraquara. — Foto: Arquivo pessoal Hoje, grupos de mais de 30 pessoas chegam aos finais de semana para provarem o cardápio da roça. Alguns chegam a pedalar mais de 100 km até o destino. “A padoka transformou na nossa vida e aqui é um sinônimo de encontro de amigos, às vezes eles chegam em bandos. É uma correria atender todos, mas vamos dando conta”, disseram. Maria José e Elizete dos Santos são fundadoras da Padoka e da Associação de Mulheres Assentadas (AMA) de Araraquara. — Foto: Amanda Rocha/g1 Nova geração Joelma e Néia são padeiras da nova geração da Padoka de Araraquara — Foto: Amanda Rocha/g1 A equipe é formada por seis mulheres, incluindo a filha de dona Maria, Ednéia dos Santos Salustiano, de 42 anos. As novas padeiras reinventam o cardápio e estão focadas também na confeitaria, a novidade agora são os bolos de aniversário, e também o famoso PF (prato feito) de almoço. “Estamos diversificando e não vamos deixar a peteca cair. Nós damos continuidade ao sonho delas e vestimos a camisa. Tenho muita gratidão por minha profissão, é um dia após o outro e eu sempre gostei de fazer pão e massa, é um sonho realizado”, contou Néia. Para Elizete, o fortalecimento da comunidade local é o mais importante, seja através de geração de empregos ou na compra de ingredientes dos produtores rurais. “A gente quer aumentar mais a padoca e empregar mais pessoas daqui. Temos muito orgulho da nossa profissão e servir a comunidade é tudo. Fazemos questão de comprar tudo daqui, milho, cenoura, para fortalecer todos. Agora com a nova geração chegando queremos que a Padoka se mantenha e continuem o nosso legado”, disseram. Confeitaria também é o foco da nova geração da Padoka em Araraquara. Na imagem, bolo de cenoura. — Foto: Amanda Rocha/g1 Como chegar? A Padoka fica na Estrada da Figueira, no setor 6 do Assentamento Monte Alegre. O funcionamento é de segunda a segunda, das 5h30 às 18h30. A Rota dos Ciclistas fica na Estrada das Paineiras, no sítio Nossa Senhora de Fátima, setor 6 do assentamento. O espaço abre apenas aos finais de semana e feriado, das 7h às 18h.

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