Esse litoral do Sul do Brasil é responsável por 90% de toda produção nacional de ostras, de acordo com o Governo catarinense, não à toa é conhecido como capital nacional das ostras. Segundo o Centro de Desenvolvimento em Aquicultura e Pesca (CEDAP), por ano, são produzidas mais de 1300 toneladas de ostras. Apesar do país ser casa para algumas espécies nativas, como a Crassostrea rhizophorae, também conhecida como ostra-de-mangue, a mais consumida e cultivada vem do Oceano Pacífico e exigiu modificações para se adaptar ao clima tropical. Ostra-de-mangue ocorre no Brasil, mas demora mais tempo para ser “cultivada” — Foto: Glenn Ehrenberg/iNaturalist De acordo com o pesquisador Cláudio Blacher, do Laboratório de Moluscos Marinhos da Universidade Federal de Santa Catarina (LLM/UFSC), a Crassostrea giga, chamada de ostra-japonesa e ostra-do-pacífico, chegou por aqui na década de 80 e passou por um processo de seleção genética para resistir aos meses mais quentes. “Tudo isso porque é uma ostra que apresenta uma maior velocidade de crescimento, além da qualidade da carne. Fora que é a ostra mais cultivada no mundo todo, então há mais conhecimento sobre a produção de formas jovens em laboratório”, explica. Enquanto uma ostra brasileira, mesmo em ambientes controlados, pode levar mais de um ano e seis meses para ter um tamanho aceitável para a venda (a partir de oito centímetros e 25 gramas de carne), os produtores conseguem alcançar esse feito com a exótica a partir dos quatro meses. Florianópolis é responsável por mais mais de 90% da produção de ostras do Brasil — Foto: Fernanda Machado/TG “Depois que elas chegam, ainda muito pequenas dos laboratórios, temos toda uma linha de produção, dentro do mar, para que elas se desenvolvam. Primeiramente elas passam por cilindros de assentamento. Conforme elas crescem, vão para uma estrutura que chamamos de travesseiros, que são aceleradores de crescimento. Por fim, se necessário, a terceira etapa é colocá-las em lanternas, estruturas que ficam dentro da água enquanto elas engordam o suficiente para serem consumidas”, diz Costa, que trabalha com ostras há mais de 30 anos. Ostras da mesma espécie, vindas de um mesmo local, tratadas do mesmo jeito, crescem em diferentes ritmos, mas o motivo ainda é uma incógnita. “Acredito que seja pelo posicionamento que elas ficam nas estruturas, que acaba afetando a disponibilidade de alimento, fazendo com que as maiores vão se desenvolvendo mais rápido e tirando o espaço das menores, por isso de tempos em tempos peneiramos as ostras e vamos mudando de local para que todas possam crescer”. A ostra-japonesa, apesar de ser comercializada menor, pode atingir até 25 centímetros e gosta de áreas de alta salinidade. É conhecida pelo sabor delicado e textura suculenta. Alimentação A Crassostrea gigas se alimenta principalmente de fitoplâncton, que são organismos microscópicos presentes na água, além de detritos orgânicos. A ostra faz a filtração do material em suspensão, na coluna d’água. As ostras se alimentam principalmente de fitoplâncton — Foto: Fernanda Machado/TG A alimentação dessa ostra é essencial para seu crescimento e desenvolvimento, e a qualidade da água e a disponibilidade de fitoplâncton influenciam diretamente na saúde e produtividade. Reprodução Na natureza, o pesquisador Blacher, explica que as ostras possuem fecundação externa e diferenciação sexual. Ostras de diferentes tamanhos que começaram a se desenvolver na mesma época — Foto: Fernanda Machado “Os animais liberam os gametas masculinos e femininos na água e, após a fecundação, uma larva é formada. Esse período larval dura cerca de 20 dias, quando a larva passa a procurar um substrato para se fixar e sofrer uma metamorfose que vai a transformar em uma ostra adulta”. Produção sustentável Espécies exóticas introduzidas geralmente afetam a fauna local e podem trazer um desequilíbrio, mas não é o caso da ostra-japonesa. “A produção de moluscos, de forma geral, se caracteriza por ser uma produção orgânica, ou seja, totalmente isenta de qualquer produto químico. As ostras cultivadas não precisam ser alimentadas artificialmente e não necessitam ser vacinadas ou receber qualquer tipo de medicação”, esclarece Blacher. Produção de ostras em Santo Antônio de Lisboa, em Florianópolis — Foto: Juan Todescatt/NSC TV O pesquisador acrescenta que a espécie no Brasil não possui potencial invasivo. Pelo contrário, verifica-se um aumento da biodiversidade marinha nas áreas de cultivo, uma vez que estes formam ambientes protegidos e propiciam a formação e criação de uma fauna associada muito rica. Na fazenda de ostras de Leonardo, por exemplo, há máquinas no processo de limpeza e seleção das ostras, mas todas trabalham com fontes de energia limpa, como eólica e solar. “Parte das conchas que sobram vendemos para o artesanato local e o restante do excedente ainda é destinado para a construção civil, já que funciona no sistema de esgoto”, finaliza o produtor. VÍDEOS: Destaques Terra da Gente