Imagine poder acompanhar o comportamento de animais nas matas perto da sua casa. Com esse objetivo, dois observadores de aves, Victor Silvestre e José Carlos dos Reis, moradores de Alfenas (MG), instalaram três câmeras “espiãs” em um fragmento de Mata Atlântica da cidade, em julho desse ano. As chamadas câmeras trap captam as imagens ao serem ativadas por um sensor de movimento. Para a surpresa dos dois, um flagrante impressionante foi registrado: uma onça-parda (Puma concolor) foi filmada arrastando uma capivara. “Foi interessante porque nessa captura em especial foi bem na câmera do meio, numa carreira de bicho, ela não pegou nem na frente nem atrás, pegou bem no meio”, conta Victor. Foi a segunda vez que a onça apareceu nas imagens. Nos últimos registros, um filhote também foi flagrado. O biólogo e coordenador do Projeto Onças Urbanas, Izar Aximoff, analisou a gravação. “O ataque do vídeo foi realizado à noite. Ela captura rapidamente a capivara em uma área aberta e corre para dentro da floresta, carregando o animal pelo pescoço, que é um comportamento típico de ataque, sufocando a presa até a morte”, explica Aximoff. Filhote de onça-parda flagrado pelas armadilhas fotográficas em Alfenas — Foto: Victor Silvestre/José Carlos Em um ambiente fragmentado e cercado por monocultura, as presas silvestres de maior porte são raras. “Nesse caso, apesar de existir gado no entorno do fragmento, a onça resolveu investir sua energia na predação de um animal silvestre de grande porte, garantindo comida por vários dias para ela e seu filhote”, completa o biólogo. No vídeo, é possível ver que o esforço para arrastar a capivara comprometeu até a respiração da onça. Além da onça-parda, as armadilhas fotográficas que estão no local já flagraram outros animais, como o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) e o sagui-da-serra-escuro (Callithrix aurita), conhecido também como sagui-caveirinha, espécie ameaçada de extinção. Victor Silvestre e José Carlos são fotógrafos e também fundadores do Clube de Observação de Aves de Alfenas. “Tudo isso por hobby. Cada uma tem uma curiosidade específica, uma meta específica com registro de aves, agora o que todos têm em comum é a preservação”, afirma Victor. A onça-parda fica por um bom tempo espreitando a presa que muitas vezes é selecionada por conta da fragilidade de fuga — Foto: Ricardo Casarim A predadora A onça-parda é um predador estritamente carnívoro. Porém, a espécie é uma das mais generalistas entre os felinos, se alimentando de animais silvestres de portes variados, incluindo em sua dieta lagartos, pequenos mamíferos, aves e outros vertebrados. É o segundo maior felino das Américas. Assim com os demais membros da família, são muito ágeis, sendo mais ativos no final de tarde e durante a noite. *Texto sob supervisão de Lizzy Martins VÍDEOS: Destaques Terra da Gente