Como se fosse uma mercadoria que perdeu o valor, o Brasil foi despachado, nos pênaltis, pelo Uruguai da Copa América. O mais grave é que, como nas outras eliminações mais recentes, não provocou comoção popular.Não se trata mais do conformismo de sentimento que levou Nelson Rodrigues a conceituar o espírito negativo do povo como “complexo de vira-latas”. O fundamento de Nelson para cunhar esse estado interior do brasileiro, em 1958, era a incompreensão de tamanho pessimismo diante de “dons em excesso”, referindo-se a Nilton Santos, Garrincha, Pelé e Didi. Arrematou: “Eu vos digo: – o problema do escrete não é mais de futebol, nem de técnica, nem de tática. Absolutamente. É um problema de fé em si mesmo. O brasileiro precisa se convencer de que não é um vira-latas e que tem futebol para dar e vender, lá na Suécia”. + Leia as colunas de Augusto Mafuz no UmDoisDesde o fim da geração de Ronaldo Fenômeno (2002), o conformismo do brasileiro não pode ser mais analisado pelo espírito de submissão a que se referia Nelson. A sua constituição hoje carrega elementos objetivos: o futebol de campo do Brasil rendeu-se, definitivamente, ao futebol de mercado. O povo não engana-se mais com os milhões pagos por jovens que integram essa geração de Vinicius Junior. Já está convencido de que são jovens valorizados muito mais pelos negócios do que pelas suas poucas virtudes.A esperança era a de um treinador capaz de impor a regra de compensação: o esquema tático compensaria a limitação de qualidade técnica. Dorival Júnior e o conservadorismo da pior espécie na seleçãoCom as ideias modernistas de Fernando Diniz, o Brasil está afundado nas eliminatórias para a Copa. Com Dorival Júnior, retornou ao conservadorismo, mas o da pior espécie, que é aquele que, por falta de capacidade de direção, impede variações de jogo. Deixa Gerson e Pedro, no Brasil, por impressionar-se nas viagens e estudos ao exterior com Evanilson, Savinho, João Gomes, Douglas Luiz e outros de baixa categoria. Ficou tão pobre a Seleção Brasileira que perdeu a identidade nacional. Pouco antes do jogo de Las Vegas, Flamengo, no Maracanã, e São Paulo, no Morumbi, levaram mais de 100 mil torcedores para os seus jogos do Brasileirão. Todos foram ver o clube do coração, indiferentes ao resultado de Las Vegas. Agora, não é o povo que tem “complexo de vira-latas”. É a própria Seleção Brasileira de Dorival, Danilo, Marquinhos, João Gomes, Arana, Paquetá, Savinho, Evanilson, Douglas Luiz e outros. Resta saber se é só um complexo.Veja também:Ranking: as dívidas de clubes que mais crescem no BrasilTécnico do Coritiba abre o jogo sobre reforços: “situações pontuais”Após segundo empate no Couto, torcida do Coritiba vaia e pede volta de Alef MangaCoritiba apenas empata com Paysandu e desperdiça pontos em sequência no Couto Pereira
O povo transfere para a seleção brasileira “o complexo de vira-latas”
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