Do momento em que ela fez uma bola de chiclete em “Crazy In Love”, até o dia em que destruiu uma frota de carros com um taco de beisebol em “Hold Up”, Beyoncé criou alguns dos videoclipes mais memoráveis do pop contemporâneo. Sua maestria se equiparou à de Madonna e Michael Jackson na década de 1980 —com os vídeos de seu álbum “Lemonade” atuando como uma poderosa celebração da feminilidade negra e do poder feminino. Então, de repente, ela parou. Seus dois últimos álbuns, “Renaissance” e “Cowboy Carter”, foram desprovidos de recursos visuais, deixando os fãs perplexos. Agora, Beyoncé explicou sua decisão em uma rara entrevista à revista GQ, dizendo que não queria que seus vídeos se tornassem uma “distração da qualidade da voz e da música”. “Achei que era importante que, em um momento em que tudo o que vemos são imagens, o mundo pudesse se concentrar na voz”, disse a cantora. Ela explicou que seus discos recentes —que buscam contextualizar as contribuições frequentemente esquecidas de músicos negros para gêneros como house, disco e country —precisavam se sustentar por conta própria. “A música é tão rica em história e instrumentação. Leva meses para se digerir, pesquisar e entender”, disse ela. “A música precisava de espaço para respirar por conta própria.” Ela acrescentou que, para o “Renaissance” em particular, a experiência do show ao vivo era mais importante do que filmar videoclipes. O álbum, lançado em 2022, foi escrito durante a pandemia e foi concebido como “um lugar para sonhar e escapar durante um momento assustador para o mundo”. A turnê subsequente e o filme da turnê lançado nos cinemas no ano passado foram concebidos como um momento de comunidade e catarse para seus seguidores. “Os fãs de todo o mundo se tornaram a imagem”, disse Beyoncé à GQ. “Todos nós recebemos a imagem na turnê.” A entrevista, que ocorreu para promover a nova marca de uísque da cantora, é a primeira vez em que Beyoncé fala longamente sobre sua carreira, desde uma entrevista conjunta com sua irmã Solange em 2017. Ela se afastou das entrevistas por volta de 2013 e 2014, optando por escrever ensaios pessoais para publicações como a Vogue ou se dirigir aos fãs diretamente nas redes sociais. O artigo da GQ não revelou muito sobre a estrela notoriamente reservada. Ela contou que desistiu de comer carne (exceto peru) durante o verão no hemisfério Norte e abordou brevemente a ameaça da inteligência artificial, dizendo que ouviu recentemente uma faixa gerada por inteligência artificial “que soou tanto como eu que me assustou”. A cantora também falou sobre seus esforços para proteger sua família da imprensa. “Uma coisa em que trabalhei muito duro foi garantir que meus filhos pudessem ter o máximo de normalidade e privacidade possível, garantindo que minha vida pessoal não se transformasse em uma marca”, disse. “É muito fácil para as celebridades transformarem nossas vidas em arte performática. Fiz um esforço extremo para permanecer fiel aos meus limites e proteger a mim e minha família. Nenhuma quantia de dinheiro vale minha paz.” DESPREZO PELA PREMIAÇÃO O artigo foi publicado um dia após a revelação de que Beyoncé havia sido esnobada pelo Country Music Awards (CMA, na sigla em inglês, premiação anual da música country dos Estados Unidos), com “Cowboy Carter” não tendo recebido uma única indicação na cerimônia de maior prestígio do gênero. Sua música foi esquecida, apesar de ter se tornado o primeiro álbum de uma mulher negra a alcançar o primeiro lugar na parada de álbuns country dos Estados Unidos, e a música “Texas Hold ‘Em” ter passado duas semanas no topo da parada de singles country. Com a entrevista tendo sido realizada antes do anúncio das indicações do CMA, Beyoncé simplesmente disse que estava “animada” para ver seu experimento country “ganhar aceitação mundial”. No entanto, o pai e ex-empresário da cantora, Matthew Knowles, criticou os organizadores da premiação, dizendo que a decisão de ignorar “Cowboy Carter” “fala por si”. Em conversa com o site TMZ, Knowles disse: “Há mais pessoas brancas na América e, infelizmente, elas não votam com base em capacidade e realizações, às vezes ainda é uma coisa de branco e preto”. CINCO DOS MELHORES CLIPES DE BEYONCÉ 1) “Single Ladies (Put A Ring On It)” Às vezes, as ideias mais simples são as melhores. Este clipe em preto e branco, dirigido por Jake Nava, apresenta apenas Beyoncé, um fundo simples e algumas coreografias inspiradas em Bob Fosse. 2) “Formation” Seu vídeo mais poderoso e direto, resumindo décadas de história e cultura negra americana. Ambientado em Nova Orleans, ele faz referência a plantações onde trabalhavam negros escravizados, segregação, o furacão Katrina e brutalidade policial, ao mesmo tempo em que celebra a cultura sulista — do Mardi Gras e dança de sapateado a cowboys negros e bandas marciais. Um documento de resiliência, foi o primeiro capítulo nas tentativas contínuas da estrela de preservar e recontextualizar a história negra americana. 3) “Countdown” Um caleidoscópio de cores e referências à cultura pop, Beyoncé codirigiu este vídeo enquanto estava grávida de sua primeira filha, Blue Ivy. Ele faz referência a Audrey Hepburn e à supermodelo britânica Twiggy, e a edição frenética e a coreografia jitterbug o tornam um ponto único em sua videografia. 4) Crazy In Love O vídeo que lançou sua carreira solo, “Crazy In Love”, tem todos os clichês de videoclipes do início dos anos 2000 —casacos de pele, carros explodindo, cabelos grandes e sequências de “bullet time” (efeito de câmera que ficou famoso com o filme “Matrix”, que mostra uma mesma cena de diferentes ângulos, criando uma espécie de momento congelado no tempo). Mas o que ele realmente faz é informar ao espectador que Beyoncé é uma estrela. A câmera a ama desde o momento em que ela se pavoneia em direção ao centro do quadro. Assim que esse clipe saiu, as Destiny’s Child (grupo americano de R&B, que teve Beyoncé na formação) devem ter percebido que seus dias estavam contados. 5) “Get Me Bodied (Extended Version)” Quase colocamos “Hold Up” em quinto lugar. A imagem de Beyoncé brandindo aquele taco de beisebol foi copiada e parodiada um milhão de vezes, mas nunca melhorada. No final, porém, não conseguimos resistir ao fator diversão de “Get Me Bodied” — uma grande produção de Hollywood, com coreografia inspirada em “Sweet Charity” de Bob Fosse, e participações especiais de Kelly Rowland, Michelle Williams e Solange Knowles. Como “Crazy In Love”, ele remonta a uma época em que o único objetivo de Beyoncé era a dominação pop —mas ainda é um banquete para os olhos. Este texto foi publicado originalmente aqui.