Número de apartamentos cresce 38% em 11 anos em Campinas; entenda impactos no planejamento urbano

Número de apartamentos cresce 38% em 11 anos em Campinas; entenda impactos no planejamento urbano

Em números absolutos, a metrópole ganhou 45 mil novos apartamentos, 12 mil casas e apresentou uma diminuição de 8 mil terrenos no período analisado. Tendência que reflete a crescente verticalização da cidade e acompanha as mudanças no uso do solo e na demanda habitacional. O levantamento foi realizado com base no registro do IPTU no início de cada ano, abrangendo casas, apartamentos e terrenos. Em 2015, Campinas contava com 112.813 apartamentos, número que saltou para 155.644 em 2025. Enquanto isso, o número de casas passou de 159.878 para 171.654, e os terrenos caíram de 90.586 para 82.929. [veja gráfico abaixo] O g1 conversou com dois especialistas em urbanismo para entender o fenômeno de verticalização da cidade e os desafios relacionados à infraestrutura e ao planejamento urbano. Gisela Cunha Viana Leonelli, arquiteta e urbanista, professora livre-docente do IAU-USP no Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP – São CarlosJoão Verde, professor aposentado da PUC Campinas; presidente da AREA – Associação Regional de Escritórios de Arquitetura de Campinas; diretor do IAB-Campinas – Instituto de Arquitetos do Brasil, núcleo Campinas; diretor do Pró Urbe – Pensando Campinas e Conselheiro do Condepacc- Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas. Imagem aérea do Centro de Campinas (SP) — Foto: Reprodução EPTV Tendência de verticalização? Para os urbanistas, o aumento em maior proporção de apartamentos na metrópole é uma tendência mundial que vem ocorrendo em cidades de médio e grande porte. Ainda assim, ressaltam que o fenômeno não possa ser visto de forma generalizada, pois depende de vários contextos. A professora Leonelli aponta alguns motivos que favoreceram a intensificação da verticalização de Campinas no período pesquisado: Período prolongado com juros baixos para financiamento de construção e ampliação de créditos;Otimização das incorporadoras que diminuíram o prazo de execução e entrega dos empreendimentos;Alteração do zoneamento a partir do Plano Diretor de 2019 que favoreceram a verticalização de bairros centrais como Cambuí e Nova Campinas. O professor João Verde complementa com outros pontos. Ele diz que também é preciso levar em conta o valor das casas em áreas centrais que é muito mais alto que apartamentos e a sensação de maior de segurança. Leonelli complementa, que existe um fator comportamental relacionado a transição demográfica que o Brasil vive atualmente. Ela comenta que a população do país está envelhecendo e a base da pirâmide etária revela uma diminuição significativa no número de crianças e jovens. “A composição familiar mudou […] A família do comercial de margarina, pai, mãe, filhos e cachorro em frente da grama do condomínio tem ficado desbotada”, fala Leonelli. Tal fenômeno impacta também na escolha pelo tipo de moradia, e as pessoas acabam por priorizar uma maior mobilidade e acesso a serviços e comodidades do entorno. Facilidades encontradas nos centros urbanos, e assim, aumentam a procura por apartamentos que são maioria nessas localidades. “Famílias menores e a maior mobilidade da nova geração explicam, em parte, o desinteresse por casas. No entanto, isso não significa que a verticalização deva ser total. É possível preservar bairros de casas térreas com políticas que incentivem a qualidade urbana e a convivência de usos residenciais e comerciais”, explica Leonelli. Imagem aérea do centro de Campinas — Foto: Reprodução/EPTV Impactos e desafios Tanto a professora Leonelli, como o professor João Verde, concordam que a verticalização da região central de Campinas é inevitável e reforçam a necessidade de planejamento urbano integrado, que considere infraestrutura, mobilidade, qualidade ambiental e a preservação de áreas residenciais tradicionais. João Verde diz que a verticalização pode minimizar problemas de planejamento urbano, sendo inclusive mais eficiente e sustentável do que a expansão para novos loteamentos. No entanto, ele precisa ser realizado com atenção a altura dos edifícios. “Talvez não tivesse necessidade de edifícios tão altos, como estão sendo feitos aqui em Campinas com 40 pavimentos, mas nós poderíamos muito bem ter prédios com 20 pavimentos até 25 pavimentos […] se a gente tiver uma cidade mais mista com muitas atividades comerciais e de serviço nos bairros, as pessoas passam a usar menos o automóvel”, analisa João Verde. O urbanista cita Paris e Barcelona como exemplos de cidades que possuem alta densidade urbana, mas onde a proximidade entre moradia, comércio e trabalho facilita o deslocamento a pé ou por transporte público. A professora Gisela Leoneli, tem uma visão crítica à verticalização que ocorre em Campinas, pois atende frequentemente a interesses do mercado imobiliário e oferece poucas contrapartidas urbanísticas adequadas. “O planejamento deve direcionar o mercado imobiliário, e não ser direcionado por ele […] a alteração de qualquer parâmetro urbanístico de uso e ocupação do solo tem que estar vinculada a alteração/adequação/melhoria da infraestrutura de trânsito, transporte público e saneamento”, ressalta a professora Gisela Leonelli. Ainda assim, ao se referir aos possíveis impactos ambientais, Gisela afirma que o aumento de apartamentos pode ser positivo quando conduzido adequadamente, mas ele deve vir acompanhado de novas áreas verdes e de lazer. “O adensamento vertical, ainda mais para alta renda como no Cambuí e Nova Campinas, deve estar vinculado a uma contrapartida urbanística. No caso poderia ser um novo parque, novas áreas verdes, tanto no próprio bairro ou nas áreas mais vulneráveis para cidade”, finaliza. VÍDEOS: tudo sobre Campinas e região

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