Natureza e Saúde: Simpósio em São Paulo debate relação entre meio ambiente e bem-estar humano

Natureza e Saúde: Simpósio em São Paulo debate relação entre meio ambiente e bem-estar humano

O simpósio foi realizado de forma híbrida, com participantes e palestrantes remotos, de diferentes partes do mundo. Ao longo de cada debate, o que prevaleceu foram sempre duas questões: o choque com os dados alarmantes e também as doses de esperança com ações para amenizar os efeitos negativos causados ao longo do tempo ao meio ambiente. Foram dois dias intensos de imersão em dados sobre a saúde global, reflexões sobre conservação, discussão sobre políticas públicas e os desafios para viver bem e em harmonia com a natureza. Dulce Brito trouxe ao debate questões envolvendo a ansiedade climática — Foto: Fábio H. Mendes/ E6 Imagens Você já ouviu falar em ansiedade climática? O assunto foi debatido por Dulce Brito, gerente médica de Bem-estar Mental do Einstein. O problema, considerado um medo crônico, vem acometendo principalmente jovens ao redor do mundo. A terminologia não se refere a uma doença em si, mas explica o reflexo que as mudanças climáticas estão causando nas pessoas, como sentimentos de tristeza, raiva, impotência, culpa, angústia e insônia, por exemplo. Apesar de ser considerado um termo “atual”, ele foi originado na Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, em 1989. Susan Bauer-Wu, autora do livro ‘Um futuro que podemos amar: como podemos reverter a crise climática por meio do poder de nossos corações e mentes’, reforçou em sua fala que todos nós somos natureza e que tudo está interconectado. Ela pontuou que, se a gente enxergar beleza no mundo, nós não vamos querer destruí-lo, como estamos fazendo. A conexão mencionada por ela perpetuou no discurso de outros especialistas. No encontro, todas as falas estavam relacionadas e interligadas à ideia de que estamos vivenciando o resultado de questões históricas de desigualdade, da desconexão do ser humano com a natureza, e da desenfreada emissão de gases e poluentes na atmosfera. Jean Paul Metzger, José Renato Nalini, Henrique Neves e José Puppim debatem políticas públicas — Foto: Fábio H. Mendes/ E6 Imagens Há algum caminho para amenizar os estragos feitos até aqui? O debate sobre essa reflexão foi profundo ao envolver políticas públicas nos desafios e nas estratégias de solução. José Renato Nalini, Secretário de Mudanças Climáticas da cidade de São Paulo, apresentou dados referentes aos riscos climáticos do município e ao plano de ação climática para reduzir 50% da emissão de gases de efeito estufa até 2030. A conversa seguiu junto a Antônio Puppim de Oliveira, professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, Jean Paul Metzger, professor de Ecologia na Universidade de São Paulo e Henrique Neves, diretor geral da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein. Entre as doses de preocupação e soluções, exemplos positivos serviram de alento e de inspiração. Como o caso apresentado por Reinaldo José Haiek Araujo, biólogo e professor do Ensino Fundamental do Colégio Rainha da Paz. Ele mostrou a todos o projeto ‘Água para vidas secas’, em que alunos da escola do Alto de Pinheiros se dedicam, mobilizam e ajudam a implementar cisternas no Sertão do Piauí. Ao longo de 21 anos, 589 cisternas foram colocadas, além de 11 poços tubulares, resultando em mais de três mil famílias carentes beneficiadas. Módulo ‘Natureza e Arte’ reúne filósofo, psicóloga, professora e biólogo — Foto: Fábio H. Mendes/ E6 Imagens Na roda ‘A arte como ferramenta conscientizadora do cuidado à natureza’, Maurício Panella, antropólogo e artista, Luciano Lima, biólogo, Renata Rego Lins Fumis, psicóloga, e Fanny Feigenson Grinfeld, artista plástica e professora, ressaltaram que a arte faz parte do tripé para conectar as pessoas à natureza. Além de ser considerada uma ferramenta terapêutica, é uma maneira de sensibilizar e deixar as pessoas perdidamente apaixonadas pelo planeta. “A gente precisa tocar o coração das pessoas e a arte é um caminho”, afirma o biólogo Luciano Lima, que durante apresentação recitou trechos do livro de Pablo Neruda e Manoel de Barros, além de dividir um pouco sobre a paixão do músico Tom Jobim pelas aves, em especial pelo urubu-de-cabeça-vermelha (Cathartes aura). Simone Mozzilli, Maria Isabel de Barros e Fernanda Abrahão falam sobre experiências de natureza na infância — Foto: Fábio H. Mendes/ E6 Imagens Natureza, infância e saúde A importância da natureza na infância também foi um tema de destaque no Simpósio. Dados da Sociedade Brasileira de Pediatria foram divulgados alertando sobre a necessidade desse contato diário na vida das crianças e adolescentes. Katia Bizzo Schaeffe, Coordenadora Geral do Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Específicas (NAPNE), pontuou sobre a necessidade dos pais enxergarem que a natureza não tem perigos, mas sim pode representar a cura para diversos problemas. “O que nos deixa doentes é não ter esse contato. Os ambientes naturais são fundamentais para a saúde não só das crianças, mas de todos”. Simone Mozzilli, fundadora e CEO do Beabá Camping, sensibilizou a todos dividindo a experiência pessoal de luta contra o câncer e como o contato com a natureza, durante o tratamento, fez diferença. Ela compartilhou ainda a experiência do trabalho desafiador, porém extremamente positivo, de reunir crianças que estão passando por tratamento, para vivenciarem experiências ao ar livre durante um acampamento organizado especialmente para elas, com acompanhamento de médicos e parentes. Fernanda Abrahão, idealizadora da Casa Arara Azul, apresentou um trecho do documentário ‘Todos os voos se desdobrarão’, sobre o cuidado paliativo pediátrico, e mencionou como a natureza é essencial para o autocuidado dos profissionais que trabalham diretamente na área. Lis Leão, especialista em natureza e saúde também dá palestra em evento — Foto: Leonardo Rodrigues/E6 Imagens A especialista em saúde pública e pesquisadora sênior do Centro de Pesquisa Albert Einstein, Lis Leão, foi uma das figuras mais mencionadas pelos participantes durante o Simpósio por seu envolvimento com o tema. Em sua apresentação, Lis destacou que sem a saúde do planeta não existe saúde humana, daí a importância de “costurarmos” os saberes para alcançarmos a mudança necessária. “As mudanças climáticas são uma realidade, mas programas de adaptação e mitigação ainda precisam ser implementados em nosso país. Fora isso, a sociedade de maneira geral ainda carece de informações qualificadas e de conscientização individual e coletiva sobre qual o papel de cada cidadão e de cada profissional, independente da categoria, uma vez que estamos falando de um tema transversal e que atinge a todos.”, comenta. Para ela a relação entre natureza, a saúde pública, as mudanças climáticas, o impacto nos serviços de saúde e na forma como a população será atendida em tempos de emergência climática é algo que necessita ser aprofundado e discutido. “Tudo está interligado e precisamos cada vez mais fomentar essa ponte entre bem-estar humano e a conservação, se desejamos ter um futuro mais sustentável”, finaliza a especialista. Lis Leão autografando livro que acaba de lançar ‘Natureza, clima e saúde pública’ — Foto: Fábio H. Mendes/ E6 Imagens Durante o evento, Lis Leão lançou a obra “Natureza, clima e saúde pública”, livro que tem apoio de diversos pesquisadores e conta com Luciano Lima e Roberta Maria Savieto como coeditores. Para Lis, o 2º Simpósio Internacional cumpriu um grande papel e, com certeza, comoveu os participantes do encontro. “O evento atingiu seu objetivo, que era fomentar temas como justiça climática, as principais evidências científicas, os impactos na saúde global, perspectivas e desafios na busca de soluções baseadas na natureza e também na arte. Penso que essa complexidade que foi amplamente discutida irá permitir avançarmos de forma colaborativa. Talvez seja o aspecto que mais tenha ecoado entre os participantes”, finaliza. Mini documentário ‘Um tempo com e-natureza’ foi exibido durante evento — Foto: Leonardo Rodrigues/E6 Imagens Nesta edição também foram exibidos documentários como o filme “Mulheres na Conservação” e o mini documentário “Um tempo com e-natureza”, dirigidos por João Marcos Rosa. No evento foram apresentados ainda quatro trabalhos científicos como, por exemplo, da construção de um aplicativo para prescritores de fitoterápicos. Presencialmente os participantes puderam contemplar uma amostra de fotos de autoria do fotógrafo João Marcos Rosa desenvolvido para o projeto e-Natureza e também conferir outros trabalhos inscritos. A terceira edição do Simpósio de Natureza e Saúde deve ocorrer em 2026. Participantes puderam contemplar uma exposição de fotos do projeto e-Natureza — Foto: Leonardo Rodrigues/E6 Imagens

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