Natal em Belém, dias em que se respira uma serenidade há muito esquecida

Natal em Belém, dias em que se respira uma serenidade há muito esquecida

Serão festividades sem luzes para os cristãos da Terra Santa, que vivem entre guerra e falta de trabalho. Apesar das dificuldades, não se abre mão de costumes e tradições. George, católico: “Um grande papel será desempenhado pelos escoteiros, que animarão a procissão de entrada do Patriarca com música e gaitas de foles”. Roberto Cetera – Vatican News Alguns leves sinais de esperança aparecem no Natal em Belém sem luzes. A cidade natal de Jesus está vivendo o seu segundo Natal desde o início da guerra em Gaza. No ano passado, a tristeza foi acompanhada de tensões amargas que prejudicaram a possibilidade de viver algumas horas de serenidade e esperança. Este ano, rumores recorrentes de uma trégua iminente em Gaza podem inspirar sentimentos e relações um pouco mais confiantes. Tal como foi previsto no dia 1º de dezembro, quando o Custódio da Terra Santa, Frei Francesco Patton, entrou em Belém para iniciar o Tempo do Advento. Na manhã do dia 24, o Patriarca Latino de Jerusalém, cardeal Pierbattista Pizzaballa, fará a sua entrada em Belém. Segundo a tradição, ele atravessará o centro da cidade a pé, acompanhado por duas alas da multidão, os escoteiros e os religiosos que ali vivem. À noite celebrará a tradicional Missa Noturna na igreja paroquial de Santa Catarina, na presença de representantes de instituições locais, palestinas e também diplomáticas. Haverá três missas de Natal, a católica no dia 25, a dos greco-ortodoxos no dia 6 de janeiro e a dos armênios que a celebram no dia 18 de janeiro. Na prática, entre todas as denominações cristãs, o Tempo de Natal em Belém dura dois meses. Os cristãos que partem A poucos metros de Santa Catarina, dentro da gruta da Natividade, no altar da manjedoura, a missa da meia-noite será celebrada pelo frei Francesco Patton, junto com os frades da Custódia da Terra Santa e cristãos locais. Uma terceira missa da noite é então geralmente celebrada no Campo dos Pastores, que até dois anos atrás era frequentado por muitos dos peregrinos que lotavam Belém no período do Natal. Agora, não só não há peregrinos, mas o número de cristãos locais também está diminuindo. “Desde o início da guerra, cerca de 90 famílias cristãs deixaram Belém – explica o padre Ibrahim Faltas, vigário custodial e líder de longa data dos católicos locais – é uma grande ferida para a nossa comunidade. Mas como podemos nos opor validamente a isto? As famílias que têm filhos pensam no seu futuro, que aqui está comprometido desde o nascimento. Quem pode vai embora. Mas não é justo. Como diz o Papa Francisco, existe de fato o direito de migrar, mas ainda mais existe o direito de permanecer”. Costumes e tradições Na verdade, o problema do Natal em Belém não é certamente a ausência de luzes, de estrelas ou de abetos. O verdadeiro problema é o clima opressivo que se agravou desde 7 de outubro do ano passado. A ausência de peregrinos significa ausência de renda para muitas famílias que viviam do turismo hoteleiro. Todas as oficinas de artesãos de oliveira e madrepérola localizadas ao longo da rua Milk Grotto, no lado sul da basílica, estão fechadas. “São cerca de 30 artesãos que trabalham para nós fazendo presépios e estátuas de madeira que vendemos o ano todo, porque em Belém é Natal o ano todo para os peregrinos”, diz Rony Tabash, que dirige a loja mais antiga e popular de Belém, mas agora eles não trabalham há 15 meses e nenhuma renda chega às suas famílias.” Apesar das dificuldades, as famílias católicas não abrem mão dos seus costumes e tradições. “Os escoteiros desempenham um grande papel nestas festividades – diz George, um jovem engenheiro católico que trabalha na indústria hoteleira – porque além de animarem a procissão de entrada do Patriarca com música e gaita de foles, ajudam a preparar as celebrações familiares, ajudam as mães e avós com a cozinha e, acima de tudo, cuidam dos idosos. Este ano, porém, a procissão será sem música, assim como não haverá luzes na rua e na Praça da Manjedoura. Nos encontraremos naquela praça depois da missa da meia-noite para trocar saudações, todos juntos como se fôssemos uma grande família. Não é muito diferente do que acontece na Europa. Também aqui, na manhã do dia 25, ao acordar, se desembrulha os presentes que todos encontram debaixo da árvore. Depois há o grande almoço, que pode durar horas. Comemos frango assado na brasa ou carneiro recheado, ou ainda arroz cozido com alho, carneiro e iogurte. Depois as sobremesas, as típicas de Natal, são feitas à base de farinha de sêmola com avelãs, pistaches e tâmaras, ou biscoitos de gengibre, ou ainda o que chamamos de greibeh, ou seja, biscoitos amanteigados recheados com nozes. Come-se bebendo vinho branco local Cremisan e para digerir usamos algumas bebidas alcoólicas, mas se houver amigos muçulmanos – e geralmente há -, oferece-se a eles sucos de frutas. Porque também é uma tradição que, depois do almoço, se visite os amigos e jogue bingo com eles. As crianças recebem presentes do Papai Noel debaixo da árvore, mas os idosos recebem dinheiro, porque a velhice não é protegida aqui por uma boa previdência social. Esses são dias em que se respira serenamente. Dias em que se experimenta uma serena normalidade que não existe aqui. “Do Natal levamos para casa”, conclui George, ‘acima de tudo aquele coro de anjos que cantam à noite e prometem ’paz na terra aos homens amados pelo Senhor’, e continuamos com a esperança obstinada de esperar pela paz. Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui

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