De acordo com a equipe do Projeto Boto-Cinza, os ferimentos indicam que o animal morreu atropelado por embarcações marítimas. Caio Louzada, coordenador do projeto, explica que os ferimentos na região da cabeça possivelmente foram causados por hélices de um motor. Ocorrido no mês de novembro, o acidente reforça a necessidade de boas práticas náuticas e de turismo, que garantem a segurança dos barqueiros, moradores, turistas e animais. A cidade abriga uma população de aproximadamente 400 botos-cinza. “A gestação de um boto-cinza é de cerca de um ano, levando de dois anos e meio a três para gerar outro filhote. Cada indivíduo perdido pode impactar negativamente na população”, informa o coordenador. Louzada explica que acidentes graves como esse não são frequentes na região de Cananéia, mas alerta que medidas preventivas são necessárias para evitar o aumento, uma vez que o local é um dos principais destinos brasileiros para observação da espécie. Animal apresentou ferimentos na cabeça que indicavam atropelamento por embarcação — Foto: Reprodução/Projeto Boto-Cinza “O aproveitamento desse potencial deve ser feito de maneira sustentável e responsável. São as boas práticas de navegação náutica contribuem para que toda atividade marítima na região, especialmente turística, seja feita com segurança para todos”, reforça. Ainda segundo ele, a atenção ao assunto deve ser ainda maior com o aumento da movimentação de embarcações no verão. “Há cidades em que a atividade que é para ser uma experiência inesquecível acaba impactando a qualidade de vida dos animais, tendo embarcações que perseguem os animais, que bloqueiam a passagem, lixo no oceano, além de outras atitudes perigosas, tanto para os seres humanos quanto para os boto, como querer tocar no animal”. De acordo com o Sistema de Avaliação do Risco de Extinção da Biodiversidade (Salve) do ICMBio, o boto-cinza é uma espécie costeira que ocorre entre Honduras até o sul do Brasil, onde existem registros desde o Amapá até Santa Catarina. Considerando que o mamífero ocorre principalmente nos ecossistemas costeiros e estuarinos que são afetados por atividades antrópicas, a espécie está categorizada como Vulnerável (VU) à extinção. Boto-cinza é uma das espécies avistadas no litoral paulista em 2020 — Foto: Julio Cardoso/Projeto Baleia à Vista Boas práticas náuticas Para contribuir com boas práticas da atividade turística de observação do boto-cinza, o Projeto Boto-Cinza promove capacitações com condutores de embarcações marítimas da região de Cananéia, além da criação de materiais educativos. O Projeto Boto-Cinza é uma iniciativa do Instituto de Pesquisas Cananéia (IPeC) que visa o conhecimento e a conservação desta espécie, bem como do seu habitat. Além da pesquisa científica, a equipe do projeto promove atividades de educação ambiental e valorização da cultura local. Veja algumas orientações dadas pelo projeto: Ao se aproximar de um grupo de botos, reduzir a velocidade da embarcação e evitar ruídos que possam perturbar os animais;A 50 metros dos animais, a embarcação deve se manter em ponto morto;Para evitar o risco de colisões, não engrenar o motor a menos de 50 metros dos botos;Observar o mesmo grupo por até 30 minutos, permitindo que mantenham suas atividades naturais;Evitar aglomeração de mais de 2 embarcações por grupo de animais;Atenção redobrada em grupos com filhotes: evitar movimentos bruscos da embarcação;Durante os deslocamentos, desviar cautelosamente dos grupos, mantendo uma distância segura e evitando separar os animais. No Brasil, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) estabelece na portaria de nº 117/96 regras para transitar com embarcações próximo a animais da fauna marinha com objetivo de evitar acidentes. VÍDEOS: Destaques Terra da Gente