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Mitos e verdades sobre a cigarra, o inseto cantor da natureza

por admin
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Essa é apenas uma das muitas representações que a cigarra ocupa no imaginário popular. O pequeno inseto desperta tanta curiosidade nas pessoas que sua existência é cercada de mitos. Além disso, seu canto inconfundível embala memórias por onde se faz presente. Para entender o que é verdade e o que não passa de invenção, o Terra da Gente conversou com o biólogo Douglas Henrique Bottura Maccagnan, doutor em Entomologia e pesquisador da Universidade Estadual de Goiás (UEG). Cigarras só aparecem a cada 17 anos? Cigarras do gênero Magicicada, que vive na América do Norte — Foto: Dan Johnson / iNaturalist Verdade, mas essas cigarras não ocorrem no Brasil. As cigarras do gênero Magicicada, que vivem na América do Norte, podem ficar 13 ou 17 anos embaixo da terra a depender da espécie. Mas por que elas fazem isso? Ao acasalarem, as fêmeas põem seus ovos em troncos de árvores e morrem em seguida. Dos ovos, surgem os insetos jovens (ou ninfas) que caem ao chão e entram embaixo da terra. Lá, elas ficarão muitos meses sugando a seiva das raízes das árvores. Com o exoesqueleto formado, as cigarras cavam túneis e chegam à superfície, procurando as árvores para se fixarem. Nesta fase adulta, as carapaças se rompem e os insetos iniciam a reprodução. Assim, o ciclo de vida se completa. Segundo Douglas, as espécies brasileiras tem ciclos anuais, uma vez que todo ano uma “leva” desses insetos emerge para a superfície para se reproduzir na fase adulta, que dura cerca de um mês. Na fase larval, elas passam de 2 a 5 anos se alimentando embaixo da terra. Todas as cigarras cantam do mesmo jeito? Cigarra Hyantia honesta passando pela metamorfose em Itamonte (MG) — Foto: ursulamh / iNaturalist Mito. Cada espécie tem seu próprio sinal acústico, que é emitido somente pelo macho e tem função de atrair a fêmea para a cópula. Para não atrair a fêmea da espécie errada, cada macho canta de um jeito, o que caracteriza uma forma de isolamento reprodutivo. “Infelizmente, a gente ainda conhece pouco sobre os sons das cigarras no Brasil. A gente tem registrado para o país 183 espécies de cigarra, e esse número é bastante subestimado. Acreditamos que existam em torno de 500, mas falta pesquisador para estudar”, afirma. Dessas 183 espécies descritas, apenas 20 tiveram os sons depositados em coleções. Cigarras anunciam a chegada da chuva ou do calor? De certa forma sim, mas isso é uma coincidência. Assim como outros animais, a cigarra também se reproduz na primavera, que nada mais é do que a fase de transição entre os períodos de seca e de chuva (inverno e verão). “O fato de a cigarra cantar muito alto, algumas espécies cantam a 100 decibéis, é como se fosse uma motosserra cortando uma árvore. Isso faz dela um inseto muito evidente. Você não está vendo, mas você sabe que ela está lá, porque ela está cantando”, comenta o biólogo. Sendo assim, o canto do macho atraindo a fêmea foi principalmente associado à chegada da chuva por ocorrer na mesma época do ano em que temporais são comuns no final da tarde. Cigarras estouram de tanto cantar? Cigarra do gênero Taphura, um dos menores do Brasil — Foto: Gregory Nielsen / iNaturalist Mito. Cigarras não explodem de tanto cantar. O que pode ter reforçado essa crença popular é a presença da exúvia (cutícula do exoesqueleto) nos troncos das árvores após o processo de metamorfose da larva para o inseto adulto. Ao contrário do que muitos pensam, a cigarra não canta com a boca, mas por meio do tímbalo, um órgão presente no abdômen que é contraído e relaxado pelo inseto para gerar o som. Cigarras se alimentam de folhas? Mito. Esses insetos não ingerem folhas como as lagartas fazem, mas se alimentam da seiva presente no xilema das plantas, como se estivessem tomando um líquido de canudinho. O entomólogo explica que elas sugam tanta seiva que até acabam expelindo uma parte dela, fazendo o que algumas pessoas conhecem por “xixi de cigarra”. “Não chega a ser xixi, porque não é uma excreta, é um excesso de líquido que ela vai expelindo”, detalha. Cigarra-azul (Orellana bigibba) registrada em Mairiporã, interior de São Paulo — Foto: marisasacchimittelstaedt / iNaturalist Como as larvas se alimentam da seiva na raiz e os adultos na parte aérea da planta (principalmente no tronco), muitas vezes a cigarra é considerada uma praga para o cultivo agrícola. “Um exemplo ocorre na cultura do café em algumas regiões de São Paulo e Minas Gerais, onde a cigarra é um problema sério”. Importância ecológica Por ser um inseto grande e muito abundante na natureza, as cigarras são fonte de alimento para muitas espécies de aves, mamíferos, répteis e outros grupos de animais. “Existem casos pelo mundo em que algumas aves sincronizam o seu período reprodutivo com a época da cigarra, porque assim ela vai ter recurso alimentar suficiente tanto para a produção do seu ovo quanto para nutrir o seu filhotinho”, completa Douglas. VÍDEOS: Destaques Terra da Gente

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